segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Transcrição do Podcast sobre O Problema do Mal: Existe incompatibilidade entre a Existência de Deus e a Existência do Mal? [Parte V - Final]

 

Frank Turek do site Cross Examined

Traduzido, adaptado e ampliado por Walson Sales


Então o ateu lá na universidade de Michigan, não se sentiu satisfeito com a resposta que o Frank Turek deu na ocasião. Mas ficou claro que muitas coisas boas podem vir de ocorrências malignas. Ainda que saibamos o porquê os bebês morrem, não temos como saber como um bebê em específico, morre. No fim, só Deus sabe. Imagine, por exemplo, se você soubesse que viveria até os 27 anos, talvez você tivesse uma vida totalmente desregrada, tentando aproveitar a vida de forma dissoluta, até o dia de sua morte. Mas este é um mundo diferente, é um mundo em que coisas más podem acontecer a qualquer momento e a qualquer pessoa. Sabemos, de forma geral o porquê as crianças morrem, porque vivemos em mundo caído. Mas não sabemos como uma criança específica morre, só Deus sabe e o motivo é que estamos dentro do tempo, Deus está fora do tempo. Podemos ter experiências aqui de ver uma criança adoecer, chegar a ser internada, toda a igreja entrar em oração e no fim a criança morrer. Nós não temos como saber, mas Deus sabe. 

Então sabemos o porquê as crianças morrem em geral, porque vivemos em um mundo caído e não sabemos o motivo em particular pelo qual uma criança específica morre. Porque uma criança vive sete, oito anos e morre? Nós sabemos, não temos como saber. Mas Deus sabe, ele está fora do tempo, ele temo como saber o final desde o início. Contudo, apesar de não sabermos os motivos pelos quais uma pessoa morre ou porque algo mau ocorre a uma pessoa boa, mas Deus sabe. Agora, existe um fenômeno que é poderoso para explicar o fato do porquê acontece coisas ruins a pessoas boas, que é o fenômeno conhecido como efeito dominó ou efeito reação em cadeia. Este fenômeno destaca o fato de que tudo o que acontece hoje afeta os eventos futuros de forma diferente e atinge, modifica milhões de outros eventos futuros. O que acontece hoje, de forma geral e particular, se desdobra em uma reação em cadeia que vai atingir milhões de pessoas e outros milhões de eventos que vai incidir em milhares de eventos futuros na vida de muitas pessoas. O que aconteceu ontem está afetando o que está acontecendo hoje e assim sucessivamente. Contudo, nós não podemos traçar ou rastrear todos os efeitos dessa reação em cadeia, mas Deus tem como saber e Deus sabe. Então, o fato de uma criança morrer hoje pode desencadear futuramente uma reação em cadeia que possa levar a evangelização, por exemplo, de uma nação inteira. 

Lembre-se, por exemplo, da história do Missionário Joel Carlson antes de vir evangelizar em Pernambuco e fundar a Igreja Evangélica Assembléia de Deus Recife – IEADPE. Ele estava no exército, treinando para ser enviado a Primeira Guerra Mundial e no treinamento ele quebrou a perna e foi declarado inapto para o exército. Qual foi a reação em cadeia que se desencadeou daí? Foi convocado como Missionário e veio ao Brasil. Hoje, quase 10% do estado de Pernambuco, é membro ou congregado da Igreja que ele fundou aqui.

Então, nós não temos como saber como esses eventos se conectam, mas Deus sabe. Logo, precisamos confiar em Deus, mesmo quando não pudermos ver o resultado final dessa reação em cadeia e esse deve ser o motivo pelo qual Deus realmente permite que o mal ocorra. Assim Deus não teria que interferir no nosso livre-arbítrio, o que de fato, destruiria o nosso livre-arbítrio. Deus conhece os efeitos e as reações em cadeia que podem decorrer das ações do nosso livre-arbítrio. Se nós não podemos ver o efeito benéfico que pode decorrer de uma ação A, Deus pode ver todos esses efeitos. E nós podemos ver o efeito reação em cadeia em alguns eventos bíblicos. Podemos ver na própria Bíblia, de forma geral, um bem vindo de um mal em uma reação em cadeia. Fato é que nós não temos como conhecer as reações em cadeia que fizeram que nossos avós e nossos pais existissem, para que nós pudéssemos existir, para que nossos filhos pudessem existir. O relato clássico do Antigo Testamento é a história de José que foi vendido como escravo pelos seus irmãos. Ele terminou preso no Egito, passou por muitas dificuldades, virou escravo, e no final, ele termina sendo o governador do Egito, o responsável pela administração de toda a bonança e fartura que ocorreu no Egito que antecedeu os sete anos de fome e foi ele quem providenciou o alimento para que a própria nação de Israel permanecesse viva e a linhagem messiânica ficasse intacta. Quando José viu seus irmãos em Genesis 50:20, ele poderia ter dito “olha, você me venderam como escravo e agora eu vou me vingar de vocês”. Mas qual foi a atitude dele? Ele disse: “o que você pretenderam com o mal, Deus transformou em bem para que a vida de vocês fosse preservada.” O que aconteceu, na verdade, foi que o mal que os irmãos de José fizeram a ele por inveja, iniciou uma reação em cadeia que terminou beneficiando toda semente de Abraão e toda a descendência judaica posterior. O que no fim, parece irônico, se os irmãos de José não o tivesse vendido como escravo, eles agora não teriam como ser poupados da fome que havia assolado o mundo conhecido de então. O que aconteceu nessa belíssima história deste personagem bíblico é que Deus está trazendo o bem do mal. Então, mesmo respeitando o livre-arbítrio do homem, Deus pode fazer com que um mal se transforme em um bem. Outro exemplo de reação em cadeia foi a idolatria e pecado recorrente da nação de Israel, que culminou com o cativeiro Assírio e Babilônico e por fim, a um pacto mais consistente da nação com Deus e a Lei após o cativeiro. 

Uma das coisas mais profundas que eu já vi alguém dizer sobre este tópico, foi dita por um sacerdote católico romano há cerca de 500 anos na Catedral de Notre Dame em Paris. Porque muitas pessoas afirmam que se Deus é todo-poderoso e todo-amoroso, ele poderia cessar o mal no momento que quiser e é por este motivo que chegam a suposta e ridícula conclusão de que se Deus não cessa o mal, Deus não existe. Essa conclusão não decorre das premissas. No entanto, a medida que as pessoas fazem essas exigência descabidas, baseadas nos atributos da onipotência e no amor de Deus, elas estão esquecendo do atributo principal de Deus, pois Deus não é apenas todo amoroso ou todo-poderoso. O atributo a que me refiro aqui é que Deus é Onisciente e extremamente Sábio. Então, o que esse sacerdote católico disse há mais ou menos 500 anos foi algo mais ou menos assim: “Se Deus me concedesse o seu poder durante 24 horas, Deus veria as mudanças que eu faria em 24 horas em todo o mundo. Mas se Deus também me desse sua sabedoria, eu deixaria as coisas exatamente como elas estão agora”. Essa citação desse sacerdote diz que Deus sabe o final das coisas desde o princípio. É muito útil reproduzir aqui, depois de tudo o que foi dito sobre o fenômeno da reação em cadeia. Veja por si mesmo:


Ilustração do fazendeiro chinês: um dia um dos cavalos do fazendeiro chinês fugiu da fazenda e toda a vila veio e disse “que coisa terrível”, e o fazendeiro disse “talvez”. No dia seguinte o cavalo apareceu com outros sete cavalos selvagens com ele e toda a vila veio e disse “que coisa maravilhosa”, e o fazendeiro disse “talvez”. No dia seguinte o filho do fazendeiro foi montar um dos cavalos selvagens, caiu e quebrou a perna e toda a vila veio e disse “que coisa terrível”, e o fazendeiro disse “talvez”. No dia seguinte vieram militares a vila para recrutar todos os jovens para lutar numa guerra e o filho do fazendeiro foi poupado. Toda a vila veio e disse “que coisa maravilhosa”, e o fazendeiro disse “talvez”. 


A moral da história é que nunca sabemos de verdade se uma coisa é boa ou ruim porque você não sabe como essa coisa vai afetar o resto da sua vida. A real moral da história é que devemos sempre confiar em Deus e glorificar a ele em todas as ocasiões, circunstâncias e situações. 

O próprio Frank Turek apresentou este tema em diversas universidades por todo o país, e em todos esses lugares as pessoas vinham falar com ele dizendo coisas do tipo, “Dr. Turek, a nossa bebê faleceu, nós éramos muitos novos com uma criança recém nascida, e foi o fato do falecimento de nossa filha que nós nos aproximamos de Jesus e nos convertemos. Estávamos longe de Deus, não queríamos saber de Deus até o fatídico dia, quando depois nos reconciliamos com Deus”. Turek também descreve que certa vez ocorreu um fato no mesmo auditório onde ele havia dado uma palestra que envolvia o problema do mal na Universidade de Michigan que prova este ponto de forma mais contundente. Isso ocorreu naquele momento que ele mencionou que debateu com aquele ateu na sessão de perguntas e respostas, que o questionou o motivo pelo qual Deus permite o mal, e foi nesse momento que um outro homem que estava sentado na primeira fila levantou a mão e pediu a palavra. E aquele homem disse que conhecia uma mulher que havia sido estuprada e aquele estupro quase a destruiu, e de fato ela engravidou como resultado daquele estupro, e ela decidiu que não iria punir a criança pelo pecado horrendo daquele homem, ela decidiu manter a gravidez e dar a luz a essa criança. Essa criança nasceu, cresceu e se tornou um pastor e pregador da palavra de Deus que conduziu centenas de vidas a Cristo e que continuava com um ministério ativo e frutífero. Foi nesse momento que esse homem começou a chorar copiosamente quando falou sobre o assunto. O ateu estava bem perto, observando, assustado. E esse homem revelou que ele era aquela criança, cujo pai era um estuprador desconhecido. Ele era o pastor que contou a própria história ali e que havia levado centenas de pessoas a Cristo e continuava ativo. O público caiu em prantos. Neste momento ele olhou diretamente para o ateu e disse “se a minha mãe pôde trazer algo bom do mal, imagine Deus”. E Frank Turek brincou consigo mesmo dizendo que ele deveria ser demitido da função, porque ele havia falado durante uma hora sobre o tema e aquele homem, ao contar seu testemunho por alguns minutos, falou de forma mais convincente e mais contundente, do que toda a palestra que ele havia dado. Sendo assim, naquela noite, esta foi a ilustração mais perfeita do fenômeno conhecido como efeito dominó ou reação em cadeia. Por fim, ao ouvir este testemunho, o ateu saiu praticamente correndo do plenário. 

Depois, conversando com este pastor, Frank Turek perguntou como a mãe dele estava e ele respondeu que ela ainda era viva, estava bem e também havia entregue a vida a Jesus pelo ministério de seu filho. E Frank Turek pediu pra ele dizer a ela que o que ela fez estava desencadeando uma reação em cadeia fenomenal, não apenas pelas pessoas que estavam sendo conduzidas a Cristo por ele, mas pelas pessoas que estavam sendo conduzidas a Cristo pelas pessoas que haviam sido conduzidas a Cristo por ele e assim sucessivamente. Todos naquele auditório entenderam o que significava o efeito reação em cadeia e viram, na prática, o efeito na vida e no testemunho daquele pastor. E destacou que esta história iria continuar atingindo milhares de pessoas porque Turek incluiu este relato no seu livro Stealing from God

Então, está mais que claro que Deus permite o mal no mundo com um propósito, e isso não significa que um dia Deus não vai fazer o mal cessar no mundo. Deus tem motivos e razões para permitir que o mal ocorra. E por fim, chegamos ao questionamento final: qual é a solução final de Deus para o mal? 


Qual é a solução final de Deus para o mal?


Sabe qual é a solução que Deus tem para o mal? Ele tomou o mal sobre si mesmo. A dor de Deus pode ser o nosso ganho. Em outras palavras, nós podemos, se aceitarmos a Cristo, ter os nossos pecados perdoados, porque toda nossa punição foi colocada sobre Cristo. Jesus é a única pessoa que é completamente inocente e foi ele que foi tratado de uma forma completamente injusta porque ele é completamente inocente. Então, Deus tomou para si toda a punição que deveria recair sobre nós e colocou sobre Cristo. Com isso, perceba que no Cristianismo você não alcança sua identidade, você recebe sua identidade. Perceba que se você alcançasse sua identidade, você poderia alcançar por meio de algo que você ama, por meio do seu trabalho, por meio de sua habilidade e quando esse algo que você ama se for, o seu trabalho se acabar ou sua habilidade se deteriorar, como vai ficar sua identidade? Logo, nós não alcançamos nossa identidade, nós recebemos nossa identidade. Por isso que o apóstolo João escreveu que nós recebemos o direito de sermos feitos filhos de Deus, a saber, o que creem no seu nome (Jo 1:12). Ao aceitarmos o dom gratuito, ou seja, o que Cristo fez por nós, somo feitos filhos de Deus. Agora se alguém não quer esse dom gratuito, tudo bem. Deus não vai forçar ninguém a entrar no céu contra sua própria vontade. Pois ninguém vai conseguir entrar na eternidade sem aceitar a Cristo agora, nesta vida. O que Deus fez acerca do mal, primeiramente ele tomou sobre si mesmo e convida a todos e aceita qualquer um em seu reino que queira ser perdoado. Agora, se as pessoas não querem ser perdoadas, se as pessoas não querem entrar no reino de Deus, então Deus não vai forçá-los a entrar contra suas vontades e eles vão terminar em lugar chamado inferno, lugar de tormento e por fim, lago de fogo. Essa é a solução final de Deus para o mal. Como bem coloca C. S. Lewis de forma bem conhecida: no fim só existem dois tipos de pessoas nesta vida, aqueles que dirão a Deus, seja feita a tua vontade e aqueles a quem Deus dirá, seja feita a sua vontade. No fim, para Deus só existirão salvos e condenados. Estes últimos que estarão separados eternamente de Deus, o que significa dizer que estarão separados do amor, da graça e do perdão de Deus. Até mesmo Deus não pode forçar as pessoas a amá-lo, porque o amor deve ser dado livremente, não existe amor forçado e isto é ponto pacífico.

Espero que esta série de textos tenham servido para o seu crescimento. Continuem orando por este trabalho.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Como o arminiano responde a Hb 12.2, “autor e consumador da fé”?

 

O escritor de Hebreus pede agora aos seus leitores que voltem o olhar para Jesus, exaltado acima de todos e assentado à destra do trono de Deus.

O verbo  olhar  – em  olhando firmemente  – é  aphorontes  (Αφορωντες), que significa tirar a vista das coisas que estão perto e desviam a nossa atenção e, conscientemente, fixar os olhos em Jesus como o nosso grande alvo. Significa ainda interesse que absorve por completo, perfeitamente expresso pelas palavras  com olhos só para Jesus.

A expressão  autor e consumador da nossa fé  tem sido interpretada de várias maneiras. A palavra traduzida como  autor  é  archegon  (Αρχηγος),  líder,  pioneiro, sendo o mesmo vocábulo traduzido como  capitão  (da nossa salvação) em Hebreus 2.10 (KJ). A palavra  consumador   é  teleioten  (τελειωτής),  aperfeiçoador,  que completa  (cp. Hb 10.14).

Em  olhando firmemente para Jesus, o Autor e Consumador da   nossa  fé, o possessivo  nossa  [que aparece nas versões KJ e na NVI, mas não na ARA e na ARC], antes de  fé, está em itálico ou entre parêntesis, pois no grego temos apenas a  fé. No entanto, não significa a  fé  no sentido objetivo, como o fundamento cristão, mas subjetivo, como o princípio que rege o coração e a vida do ser humano.

A escolha da palavra  archegon,  líder   ou  pioneiro, em vez de  aitios  (αἴτιος),  autor, no sentido de  originador, é muito significativa. Como observou Davidson, na presente acepção, as palavras não “podem significar que Cristo, como Autor, originou a fé em nós e, como Aperfeiçoador, sustém-na e a leva a um resultado perfeito”, isto é, incondicionalmente quanto ao conceder e ao aperfeiçoar; a ênfase é, antes, sobre Cristo como o grande Pioneiro da fé que, na Sua vida terrena, tendo perfeitamente alcançado o ideal e terminado a corrida, está agora assentado à destra do trono de Deus.

Em Hebreus 2.10 a palavra  archegon, como  capitão  (KJ), refere-se em especial à preparação de Jesus para a liderança; neste caso, Ele se tornou o Alvo da realização, o Centro de toda a visão cristã. No entanto, é ainda o  Líder, que do Seu trono nos céus ministra pelo Espírito a força, a perseverança, paciência e toda a graça necessária em meio ao sofrimento e aos conflitos. Para os que o seguem com confiança, Ele se tornará o aperfeiçoador,  quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram  (2 Ts 1.10 ARA).

A seguir, o autor da Epístola aos Hebreus passa a uma consideração da experiência de humilhação de Jesus, vividamente descrita para encorajamento dos leitores – palavras que são apenas a amplificação de Sua obra como  o autor e consumador da fé.

O escritor encontra três semelhanças entre os heróis da fé e Jesus. Pela fé, aqueles passaram por grandes lutas e aflições, em parte porque foram exibidos como espetáculo ignominioso, em parte porque se tornaram companheiros dos que foram alvos daquelas tribulações. Assim também Jesus,  em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia  (Hb 12.2b). Esta oração é introduzida pela palavra  anti  (ἀντί), que significa dar em troca ou, especialmente aqui, em consideração de.

O vocábulo traduzido como  alegria  é  charas  (χαρά) – não aquilo a que Jesus renunciou ao encarnar, mas  a alegria que lhe estava proposta. Era a alegria como recompensa do Seu autossacrifício pela salvação dos homens; um autossacrifício que em si mesmo era uma recompensa satisfatória. Mas significava também a alegria de ser exaltado ao trono de Deus e levar consigo a Sua natureza e a nossa, coroando assim a obra redentora por toda a eternidade. Era a alegria de administrar do trono a Sua vida celestial mediante o Espírito Santo, e assim aperfeiçoar para sempre os que são santificados (Hb 10.14). Esta foi  a alegria que lhe foi proposta  – uma alegria que enche com a Sua glória.

 O que fez Jesus pra ter essa alegria? Suportou a cruz. Temos aqui de novo a palavra  hupemeinem  (ὑπομένω), anteriormente traduzida como  paciência, mas aqui mais propriamente traduzida como  suportou com perseverança.

A palavra traduzida como  cruz  é  stauron  (σταυρός),  viga  ou  poste  introduzido no chão para execução de criminosos, vindo depois a significar a cruz.

A frase  não fazendo caso da ignomínia  ou  desprezando a afronta  (ARC) foi chamada  o grande paradoxo. Desprezar a afronta  não significa que Cristo a tinha por desprezível, mas por pequena, comparada com a alegria  que lhe foi proposta.

As palavras  cruz  e  vergonha  (NVI) são usadas sem o artigo para salientar a qualidade – coisas como a cruz e a vergonha, e assim servem para colocar em maior relevo a profundidade da abnegação de Cristo. Jesus, sendo santo em si mesmo, foi intensamente sensível à vergonha da cruz, morrendo aos olhos da Lei como um criminoso, mas não permitiu que isso fizesse vacilar Sua lealdade à vontade do Pai.


H. Orton Wiley,  A Excelência da Nova Aliança em Cristo: Comentário Exaustivo da Carta aos Hebreus, pp. 509, 510

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Transcrição do Podcast sobre O Problema do Mal: Existe incompatibilidade entre a Existência de Deus e a Existência do Mal? [Parte IV]

 

Frank Turek do site Cross Examined

Traduzido, adaptado e ampliado por Walson Sales


A próxima pergunta que iremos investigar é: qual é o propósito do mal? Porque se o mal não descarta a existência de Deus, então qual o propósito que Deus tem ao permitir o mal? O Dr. Frank Turek relata que estava dando uma palestra há alguns anos sobre o livro Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, na universidade estadual de Michigan, EUA, e em todas as universidades que ele vai para dar esta palestra, ele abre uma sessão de perguntas e respostas e, via de regra, acontecem alguns debates com ateus presentes. E Frank Turek sabia que havia um ateu militante na plateia porque este ateu estava sempre com a cara fechada, braços cruzados e na defensiva. Até nos momentos de descontração nas palestras, esse cidadão esboçou um sorriso. Assim que a palestra se encerrou e começou a sessão de perguntas e respostas, o ateu foi a frente, levantou a mão e fez uma pergunta e perguntou: se de fato existe um Deus bom, porque ele não cessa todo o mal que existe no mundo? Ao que Frank Turek respondeu: senhor, esta é uma excelente pergunta, agora, porque o mal não deveria começar a ser cessado por nós mesmos? Porque nós não paramos de fazer o mal que sempre fazemos? Porque a verdade é que nós, seres humanos, fazemos o mal todos os dias. Perceba que toda vez que alguém reclama do problema do mal, ele está reclamando do problema de outras pessoas e nunca do próprios problemas que ele próprio causa. A verdade é que sempre as pessoas exigem que Deus cesse o mal que as pessoas fazem e nunca pedem pra Deus cessar o mal que elas próprias cometem. O ser humano peca constantemente por palavras, pensamentos e obras e porque eles não cessam de praticar o mal que sempre praticam? O mal cometido pelos seres humanos é permitido por Deus por causa do livre-arbítrio que Deus nos deu e Deus permite o livre-arbítrio para possibilitar que o amor entre Deus e seus filhos seja genuíno e verdadeiro. Logo, o livre-arbítrio também abre a possibilidade para que nós façamos coisas boas e também coisas más, ações malignas. Deus achou melhor que existisse um mundo moral para que as pessoas utilizassem o livre-arbítrio e um mundo repleto de robôs onde as escolhas morais e livres não seriam permitidas é inviável, onde nem o amor genuíno e livre seria permitido, muito menos o mal, o mau uso do livre-arbítrio. Então, o que é que vamos fazer com este dom maravilhoso que Deus nos dotou, o bem ou o mal? Logo, o mal existe entre os seres humanos e entre as ações humanas, exatamente porque Deus permitiu o livre-arbítrio, mas também possibilitou o bom uso do livre-arbítrio, o mau uso do livre-arbítrio e a própria existência do amor genuíno. Então o Dr. Frank Turek explicou essa questão na universidade de Michigan naquela ocasião para esse ateu. Qual foi a resposta do ateu: o livre-arbítrio não explica todas as ocorrências da existência do mal, ou seja, ele disse que há coisas que acontecem sem a agência do livre-arbítrio humano, como por exemplo a existência de desastres naturais, a morte de bebês prematuros, como doenças terríveis como o câncer. Frank Turek reconheceu que essas são questões boas e legítimas, mas que a fim de descobrirmos se algum evento mal tem um propósito, então nós temos que saber qual é o propósito da vida, porque se a vida não tem nenhum propósito, você não pode achar um propósito para o que ocorre na vida das pessoas. Para sabermos acerca do propósito da vida, precisamos recorrer as Escrituras Sagradas, pois ela responde aos cinco maiores questionamentos da existência humana. Porque estamos aqui? Acho que Jesus já respondeu a esta pergunta nos evangelhos. Jesus revelou quando fez a oração sacerdotal no capítulo 17 de João:

E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. João 17:3

Em outras palavras, o propósito da vida é conhecer a Deus não apenas intelectualmente, mas de forma pessoal, no coração, porque até os demônios sabem, de forma intelectual, que Deus existe. Tiago escreveu sobre isso, os demônios sabem que Deus existe e estremecem (Tg 2:19). Não estamos falando aqui apenas de conhecimento intelectual, não é uma questão de conhecimento intelectual, estamos falando de conhecimento pessoal, a saber: conhecer a Deus de forma pessoal, saber o que ele fez por nós, amá-lo, reverenciá-lo e servi-lo. É sobre este relacionamento a que Jesus se referiu quando disse que esta era a vida eterna, ou seja, conhecer a Deus e este é o propósito da nossa vida aqui. quando Jesus estabeleceu a Grande Comissão, ele a ordenou para que nós saíssemos pelo mundo inteiro fazendo com que as pessoas conhecessem a Deus e a Jesus Cristo por meio do evangelho.

Então o propósito da vida é conhecer a Deus de forma pessoal e torná-lo conhecido no mundo inteiro e aqui está o problema. Conhecer a Deus e crescer nesse conhecimento, geralmente envolve a dor e o sofrimento. Como C. S. Lewis expressou e isso ficou bem famoso: Deus sussurra nos nossos prazeres, fala em nossas consciências, mas grita em nossa dor e me parece que esse é o megafone de Deus para falar a um mundo surdo que virou as costas para ele, um mundo que não quer ouvir. Para termos uma ideia do que isso significa, muitas pessoas que estão ouvindo, assistindo ou lendo este material, se converteram e passaram a ter um relacionamento pessoal com Deus depois de ter passado por uma evento de sofrimento, aflição que envolve o problema do mal e algumas pessoas cresceram na sua vida espiritual depois de passar por grandes provações e aflições também e ficaram mais íntimas de Deus depois que passaram pela dor e pelo sofrimento. Talvez, 30%, 40% das pessoas convertidas hoje, se converteram por causa da dor e do sofrimento, por causa de experiências desagradáveis em suas vidas e 100% dos crentes que cresceram na graça e no conhecimento, na experiência e na comunhão pessoal com Deus, cresceram por meio da dor e do sofrimento, pois sempre experimentaram a presença e os cuidados de Deus bem de perto nos momentos mais difíceis. A propósito, é exatamente isso que as Escrituras ensinam. O próprio Tiago, o meio irmão de Jesus, no início de sua epístola, diz exatamente isso:


Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações [provações]; Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma. (Tiago 1:2-4).


O apóstolo Paulo diz a mesma coisa também no capítulo 5 de Romanos: 


E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Romanos 5:3-5).


O problema com essa fala de Paulo acima é que ele sabia o que era sofrer:


São hebreus? também eu. São israelitas? também eu. São descendência de Abraão? também eu. São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes. Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas. (2 Coríntios 11:22-28; ver também Gl 6:17; At 14:19; 16:23-25).


Então a provação pode produzir duas coisas, esperança ou desespero e as Escrituras nos ensinam a confiarmos em Deus de forma que as provações produzam em nós paciência, perseverança, esperança. O melhor de tudo é termos a convicção de que por trás de toda a provação existe um propósito divino, que muitas vezes não estará ao nosso alcance ainda nesta vida e portanto devemos sempre confiar que Deus tem sempre o melhor pra nós. Isso é importante, porque nós precisamos de um nível de dificuldade, pois nada que viermos a alcançar, chegar muito fácil, não vai ser valorizado. A verdade é que estamos em um mundo caído e se não tivermos dificuldades, nós não vamos crescer, mas na verdade nós vamos regredir na nossa experiência com Deus, como diz certo adágio oriundo de um sábio provérbio oriental nos lembra o que reflete bem as experiências humanas:


Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.


O próprio fundador de Dubai, Sheikh Rashid, quando foi questionado sobre o futuro de Dubai, ele disse “Meu avô andava de camelo, meu pai andava de camelo, eu ando de Mercedes, meu filho anda de Land Rover, e o meu neto vai andar de Land Rover; mas meu bisneto vai andar de camelo.", confirmando de forma incrível este adágio oriental. Pense direitinho comigo aqui, o que seria de nós se não fossem os desafios e as dificuldades? Imagine se nós tivéssemos tudo o que desejássemos exatamente no momento que desejássemos? O que seria de nós? Nós seríamos pessoas egoístas, auto centradas, completamente mimadas, descompromissadas com as lutas do dia a dia. Então, surgiria um tipo de antropocentrismo cristão, onde nós seríamos o centro das atenções dos nossos desejos. Seria tudo sobre nós, tudo para nós e nada sobre Deus, nada sobre Jesus. Logo, se você não tiver desafios, se você não tiver pessoas contra você, se você não tiver lutas e se você não ouvir as pessoas te dizendo não, você nunca vai crescer. Se vcoê não tiver esses desafios que nos impulsionam, vc vai se transformar numa pessoa auto centrada, egoísta, mesquinha, raquítica, antropocêntrica e na verdade, você não vai progredir, você vai regredir. Pense comigo: o sofrimento desenvolve o caráter e existem algumas virtudes que só podem ser desenvolvidas com os sofrimentos e provações. Por exemplo, você não pode desenvolver a coragem se você não passar e enfrentar os perigos, vencendo os seus medos. Você não pode desenvolver a perseverança, a menos que existam obstáculos. Não tem como você desenvolver a compaixão, a menos que você veja pessoas sofrendo, necessitando de sua compaixão. Você nunca vai desenvolver a paciência sem passar por tribulações. Perceba que todos nós somos, de alguma forma, impacientes e quando você ora a Deus pedindo paciência, não estranhe se Deus mandar algumas tribulações. Se prepare que alguma coisa vai dar muito errado naquele dia para que você desenvolva essa característica. Você não terá como desenvolver seu caráter e sua personalidade de forma bíblica sem haver adversidades. E você não tem como desenvolver a sua fé e a sua confiança em Deus sem as necessidades que você passa. Como você quer desenvolver o caráter do seu filho se você dá tudo o que ele quer na hora que ele quer, sem exigir dele nenhum esforço pessoal e suor? Se você fizer isso, você estará criando um monstro bem mimado, ingrato e infiel. Você está assim, arruinando o caráter deles, pois estará enfatizando a preguiça. Dizem que existe um ditado chamado “sem dor, sem ganho”. Acho que seria mais verdadeiro dizer “mais dor, mais ganho”. Acho que Paulo fala bem isso em 2 Coríntios, capítulo 4, e em Romanos, capítulo 8, pois lá ele fala de um sofrimento momentâneo que vai trazer para nós um ganho espiritual incrivelmente superior:


Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; 2 Coríntios 4:7-9

Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 2 Coríntios 4:17

Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Romanos 8:18


Quando passamos por dificuldades, devemos colocar os nossos olhos naquilo que é eterno, naquilo que não é passageiro, e não no que é temporal, material. As dificuldades, os problemas que você está passando hoje, estão lhe preparando, lhe deixando mais perto dos ganhos espirituais que alcançaremos na eternidade. Como o apóstolo Paulo aconselha com muita sabedoria:


Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. 2 Coríntios 4:18


Perceba, por exemplo, um jogador de futebol que entra em campeonato com o seu time, joga todos os jogos, passa por contusões, marca vários gols ou pontos, quando por fim, ele levantar a taça de campeão, uma pessoa que esteve no banco no banco de reservas todos os jogos, que não jogou nenhuma partida, não marcou gols, não suou, não se contundiu, ele vai ser campeão também junto com toda a equipe, mas ele será reconhecido e valorizado como aquele que esteve no centro do furação fazendo os gols, sofrendo as faltas, sofrendo e se desgastando pela equipe? Claro que não. Porque o atacante passou por todos os jogos, dificuldades, sofreu as faltas violentas, sofreu todas as contusões, marcos gols. Então o atacante, o jogador que passou por todas aquelas dificuldades, melhorou nas suas capacidades, e levou a sua equipe a vencer o campeonato. Mas o jogador que esteve no banco todos os jogos, foi campeão, levantou a taça, recebeu a mesma medalha, recebeu o prêmio em dinheiro, mas ele não teve a experiência enriquecedora de estar no centro do furação. Não cresceu em experiência, não teve o seu caráter e personalidade provados, melhorados e treinados em todos os jogos. Na vida real acontece a mesma coisa. Todos aqueles que passam por mais dificuldades, por mais provações, necessidades, serão aqueles que vão crescer mais na graça, no conhecimento, na perseverança, na paciência e em experiências e intimidade com Deus. Paulo diz que isso é uma garantia, lá em Romanos 8:28 de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Ele não está dizendo que todas essas coisas são coisas boas. Ocorrem coisas ruins também que terminam cooperando para o nosso crescimento e amadurecimento.


Continua...