domingo, 29 de março de 2020

O ARREBATAMENTO DA IGREJA SERÁ MESMO SECRETO?

Por Ciro Sanches Zibordi

A doutrina bíblica do Arrebatamento da Igreja tem sofrido muita oposição na atualidade: dizem que o termo “arrebatamento” não está na Bíblia; que tudo acontecerá de uma só vez, “naquele dia”; e que não haverá nenhum rapto secreto. Neste artigo, procurarei responder de modo sucinto e objetivo a essas três objeções.

Dizem que o termo “arrebatamento” não está na Bíblia.

O termo “arrebatamento”, de fato, não aparece nas Escrituras, mas a doutrina do Rapto da Igreja deriva delas, assim como a doutrina da Trindade, por exemplo. Embora a palavra que dá nome a essa doutrina — “trindade” (ou “triunidade”) — não seja mencionada nas páginas sagradas, a doutrina o é, em ambos os Testamentos. Outrossim, conquanto creiamos que Deus possui atributos incomunicáveis, como onipresença, onisciência etc., não encontramos na revelação escrita de Deus as palavras correspondentes a essas doutrinas: “onipresença” e “onisciência”.

Em português, o verbo que dá origem à doutrina do Arrebatamento é “arrebatar”, que aparece na frase: “seremos arrebatados” (1 Ts 4.17). Em espanhol, o verbo arrebatar também consta das versões Reina-Valera e NVI, por exemplo, mas os teólogos preferiram chamar a doutrina de “el Rapto de la Iglesia”. Em inglês, embora o verbo empregado na passagem em apreço seja catch up (“tomar”), os teólogos preferindo usar o termo oriundo do latim: raptus — chamam a doutrina de “the Rapture of the Church”. Em francês, o verbo é enlever (“remover”): “nous serons enlevés”. Daí, “l'Enlèvement de l'Eglise”. Em grego, o verbo para “arrebatar” é harpazō, que significa “tomar com força”, “raptar” (cf. Mt 13.19; Jo 6.15; 10.12,28,29; At 8.39; 23.10; 2 Co 12.2,4; Jd v. 23; Ap 12.5).

Dizem que não haverá Arrebatamento; tudo acontecerá de uma vez só, “naquele dia”

Comparemos 1 Tessalonicenses 4.16,17 com Apocalipse 19.1-10. Essas duas passagens bíblicas mostram claramente que a Igreja irá ao encontro do Senhor “nos ares” e entrará no Céu. À luz dessas duas verdades, examinemos a sequência cronológica de Apocalipse 19 a 22: a Igreja glorificada no Céu (19.1-10); a Manifestação de Cristo em poder e grande glória (19.11-16); o Armagedom (19.17-19); a vitória de Cristo sobre o Império Anticristão (19.20,21); a prisão de Satanás (20.1-3); a ressurreição dos mártires da Tribulação (20.4,5); o Milênio (20.4-6); a liberação de Satanás após o Milênio e sua condenação (20.7-10); o Juízo Final (20.11-15); Novo Céu e Nova Terra (21-22). Fica claro, nessa sequência, que a Igreja já estará no Céu por ocasião da Manifestação do Senhor em grande glória, o que descarta qualquer confusão entre esta e o glorioso evento escatológico em apreço: o Arrebatamento da Igreja.

Em Apocalipse 4 e 5, o Senhor revelou a João que a Igreja já estará no Céu antes que se iniciem os juízos da Grande Tribulação (Ap 6). Os vinte e quatro anciãos (gr. presbuteros), ali, representam a Igreja Universal, formada por todos os salvos, de todas as épocas. O número 24 alude aos doze apóstolos do Cordeiro e às doze tribos de Israel (cf. Ap 21). E as características desses anciãos (e não anjos, pois estes em nenhuma parte do Novo Testamento são chamados de presbuteros) deixam claro que eles representam a Igreja já galardoada: assentados em tronos, com vestes brancas e coroa na cabeça (cf. Ap 2.10; 3.4,5,11).

Dizem que não haverá um Arrebatamento secreto, exclusivo para a Igreja

A Bíblia é análoga: ou seja, a Bíblia explica a própria Bíblia. Em João 14.3, Jesus disse: “virei outra vez e vos levarei para mim mesmo”. O termo “levar” (gr. paralambanō), aqui, denota “tomar com força” ou “raptar” (cf. Mt 2.13,14; Mc 9.2; Mt 24.40,41). A quem o Senhor Jesus fez essa promessa? Ao mundo? Não! Mas a um grupo seleto, a sua Igreja, então representada pelos apóstolos. Considerando a analogia da Bíblia, não podemos ignorar o fato de que o Arrebatamento da Igreja é análogo à ressurreição da Igreja — “dentre [todos] os mortos” (Lc 20.35; Fp 3.11, gr. ek ton nekron). Comparemos 1 Tessalonicenses 4.17 com 1 Coríntios 15.50,51. Estas passagens mostram claramente que os salvos, dentre todos os vivos, irão ao encontro do Senhor, nas nuvens, em um abrir e fechar de olhos. Portanto, assim como os mortos em Cristo ressuscitarão dentre todos os mortos, os vivos salvos em Cristo serão arrebatados dentre todos os vivos.

Alguém poderá argumentar: “Eu creio no Arrebatamento, mas não creio no Arrebatamento secreto”. Ora, ou o Arrebatamento é secreto, ou ele não existe! Leiamos Hebreus 9.28. Nesta passagem está escrito que Cristo “aparecerá [gr. horaō, 'será visto'] segunda vez aos [pelos que] que o aguardam para a salvação”. A quem Ele aparecerá? A todos? Não! Ele será visto (cf. 1 Tm 3.16; 1 Co 15.5-8) pelos que o aguardam para a salvação — salvação em seu aspecto perfectivo —, isto é, a nossa glorificação (Rm 13.11; Fp 3.20,21).

Está clara, no Novo Testamento, a distinção entre o Arrebatamento, em que somente os que esperam o Senhor para a salvação o verão, e a sua Manifestação em glória, em que todo olho o verá (cf. Ap 1.7; Zc 14.1-4). E, à luz de 1 Coríntios 15.5-8, o aparecimento secreto de Jesus à sua Igreja não representa uma novidade teológica. Após a ressurreição do Senhor, Ele foi visto exclusivamente por seus discípulos (a Igreja nascente) por um espaço de quarenta dias, sem o mundo ter qualquer participação ou ingerência nisso (At 1.3; cf. Jo 12.28,29; At 22.9).

Finalmente, muitos teólogos usam o texto de Atos 1.9-11 para aludir à Manifestação do Senhor em glória, mas essa passagem também é uma clara defesa, por assim dizer, da doutrina do Arrebatamento, visto que Ele descerá do modo como subiu: “vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois varões vestidos de branco, os quais lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir”. Em outras palavras, assim como, na sua ascensão, somente a Igreja o viu subindo até as nuvens, no Arrebatamento somente a Igreja o verá descendo até as nuvens (1 Ts 4.16,17).

“Ora, vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).

Via Nivaldo Gomes.

sábado, 28 de março de 2020

Evidências arqueológicos que atestam à veracidade do Pentateuco

Parte 1

A arqueologia à serviço da Bíblia

Não é de hoje que algumas passagens Bíblicas são postas sob questionamentos, principalmente ao mencionar cidades, povos ou até mesmo certos personagens que não constam em outros documentos de suas respectivas épocas, nem tampouco sejam mencionados por historiadores posteriores. Embora isto não seja razão para se duvidar da veracidade escriturística da Bíblia, tais passagens tornam-se um prato cheio para os céticos e críticos que buscam lacunas para por incertezas na mente dos leitores, quanto a confiabilidade que se deve atribuir à Palavra de Deus. Mas felizmente existe uma ciência, que embora não seja Cristã, corrobora com as narrativas mencionadas nas Escrituras, a saber, a arqueologia, que graças aos esforços em busca da verdade, por parte de seus arqueólogos, trazem a tona evidencias que até então eram desconhecidas aos homens, registradas apenas na Bíblia, mas que agora ganham um novo aliado, que  através de seus achados arqueológicos, calam as bocas daqueles que duvidavam do relato Bíblico. Sobre a utilidade da arqueologia, assim falou o escritor inglês John Elder: “Não é exagero dizer que foi o surgimento da ciência da arqueologia que rompeu o entrave entre os historiadores e cristãos ortodoxos., pouco a pouco uma cidade após a outra, uma civilização após a outra, uma cultura após a outra, cujas memórias eram apenas guardadas na Bíblia, foram restauradas a seu lugar apropriado na historia antiga pelos estudos de arqueólogos, [...] Os registros contemporâneos de eventos Bíblicos são descobertos e a singularidade da revelação Bíblica é enfatizada pelo contraste e pela comparação com religiões recém-descobertas de povos antigos. Em momento algum, as descobertas arqueológicas refutam a Bíblia como história.

Durante os séculos XVIII e XIX, sobretudo durante o período do iluminismo, nunca a Bíblia foi tão afrontada quanto a Sua autenticidade, principalmente nos textos que não tinham apoio de documentos históricos, onde os cristãos ortodoxos eram continuamente postos à prova, a fim de contestarem aos argumentos críticos que lhes eram lançados, embora os cristãos não possuíam o conhecimento que hoje desfrutamos graças as descobertas arqueológicas que se seguiram nos séculos posteriores. Graças a arqueologia, muitos pontos que outrora foram motivos de questionamentos, hoje são motivos de argumentos. Na obra A Bíblia e a arqueologia, assim escreveu J. A. Thompson: “Finalmente, é perfeitamente verdade dizer que a arqueologia Bíblica tem feito muito em corrigir a impressão em voga no final do século passado e a primeira parte deste século de que a história Bíblica foi objeto de duvidas em muitos lugares. Se hoje, uma impressão destaca-se mais claramente que outra é que se admite em todos lugares a completa historicidade da tradição do Antigo Testamento."

Neste artigo nos limitaremos a falar sobre o Pentateuco (Gênesis a Deuteronômio) livros cuja autoria nos conduz à Moisés (Cf. Ex 17.14; Nm 33.1,2; Dt 31.9; 2 Rs 21.8; Mt 19.7), mas que são alvos de muitas criticas textuais e históricas por parte dos incrédulos teólogos, adversários da fé Cristã. O propósito neste registro é de expor as evidências documentais, encontradas através do esmero da arqueologia, dessa forma o leitor poderá fazer uso das comprovações e argumentos aqui mencionados, com isso terá em mãos sólidas ferramentas com as quais poderá destruir as alegações descabidas por parte dos críticos.

Evidencias arqueológicas – Havia escrita no período de Moisés?  

Um dos argumentos comumente utilizados, que põem em dúvida a autoria de Moisés quanto ao Pentateuco era de que a escrita era desconhecida em Israel antes do período da monarquia, regida pelo rei Davi. Dessa forma não seria possível atribuir ao profeta Moisés o titulo de autor, já que em sua época, não havia escrita.
Este argumento que parece ser coerente demonstra-se fraco, sendo confrontado pela arqueologia. Há pelo menos três artefatos arqueológicos, que destroem a falácia acima mencionada, veremos um a um.

1º O documento hebraico mais antigo descoberto até agora é o calendário de Gezer, escrito em cerca de 925 a.C. (descoberto por Macalister no séc.XX). Mas, visto ser obviamente um mero exercício escolar, ele demonstra que a arte de escrever era tão bem conhecida e amplamente praticada em Israel durante o século X que essa habilidade era ensinada até mesmo às crianças nas províncias. 

2º As tábuas ugarísticas ou de Ras Xamra (descobertas por Schaeffer em 1929) datam cerca de 1400 a.C. Elas foram escritas em um alfabeto de trinta letras e expressas em uma linguagem relacionada mais perto com o hebraico que qualquer outro dialeto semítico conhecido. Elas consistem principalmente de poesia épica religiosa referente a deidades, com El, Baal, Anate, Astarote e Mot, e revelam o politeísmo depravado que caracterizava os Cananeus da época da conquista israelita [...] Eles também fornecem muitos paralelos aos clichês poéticos e expressões características encontradas nas porções poéticas do Pentateuco e de Salmos. Eles referem-se ao fato de a casa de Baal estar situada “sobre o monte de sua herança”, o que se aproxima muito de Êxodo 15.17 com sua expressão: “No monte da tua herança”.

3º Antes mesmo da literatura de Ras Xamra, aconteceu a classificação das inscrições alfabéticas encontradas nas minas de turquesa de Serabit-el-Hkadim (antiga Dofca), datando de 1.500 a.C. o mais recente. Essas inscrições em hieróglifo (descobertas por Petrie, em 1904) exibem um sistema alfabético fenício. A inferência natural é que, já naquela época, a escrita estava tão difundida entre os semitas da era pré-mosaica que até mesmo as classes mais inferiores da sociedade sabiam ler e escrever.

Evidencias arqueológicas – Abraão realmente existiu? Sua trajetória mito ou verdade?

Os relatos de Gênesis a respeito da trajetória seguida por Abraão e seus descendentes não são confiáveis e, com freqüência, não são históricos. Esses são os argumentos utilizados por estudiosos do Antigo Testamento, como Noldeke, que chega a negar a existência histórica de Abraão.
No entanto a partir do século XX muitos sítios arqueológicos foram desenterrados e colocaram à luz abundantes confirmações de registros Bíblicos, através das descobertas arqueológicas. No tocante a Abraão poderíamos citar ao menos 9 achados históricos que autenticam a existência de Abraão, comprovando assim a veracidade das Escrituras, mas mencionaremos apenas os quatro mais relevantes.

1º A cidade de Ur no sul da Suméria, foi totalmente escavada por Leonard Wooley (1922-1934), e essa civilização avançada provou ter sido uma grande e florescida cidade por volta de 2000 a.C. que seria precisamente o período de Abraão. Os cidadãos comuns de classe média viviam em casas bem equipadas contendo de dez a vinte cômodos. Eram mantidas escolas para a educação de jovens, pois foram descobertas tábuas de alunos de colégio, provando o treinamento deles em leitura, escrita, aritmética e religião.

2º Os estudiosos mais antigos criticavam Genesis 13 como anistórico com base no fato de que o vale do rio Jordão era relativamente desabitado na época de Abraão. Mas, em décadas recentes, Nelson Glueck descobriu mais de setenta sítios arqueológicos no vale do Jordão, alguns dos quais tão antigos quanto 3000 a.C. 

3º O código legal heteu (descoberto por Winckler, em Hattusas ou Boghazkoy, em 1906-1912, datando cerca de 1.300 a.C.) esclarece a transação registrada em Gênesis 23, na qual Abraão comprou a cova em Macpela de Efrom. A lei heteia explica a relutância de Abraão em comprar o campo inteiro e sua preferência por adquirir só a própria cova e o território imediatamente adjacente. A lei exigia que o proprietário de uma extensão de terra inteira executasse as obrigações de Ilku ou serviço feudal, responsabilidade que, sem duvida, incluía a observância de religião pagã. Abraão, como adorador de Jeová, estava bem consciente para preferir evitar esse envolvimento comprando apenas uma fração da extensão de terra inteira, deixando assim, Efrom responsável por executar Ilku como proprietário original do campo.* O relato de Gênesis 23 revela conhecimento intimo do procedimento heteu para garantir que o episódio é anterior à destruição do poder dos heteus no século XIII.

4º As referencias a camelos como inclusos na rotina de Abraão com a criação (Gn 12.16) e a empregada por seu servo que conduziu a Rebeca (Gn 24.10, 14, 19, 20), foram debatidas por muitos arqueólogos, que os consideraram como floreios anacrônicos, feitos nos séculos posteriores. Semelhantemente, a menção a camelos empregada pelos mercadores de escravos que compraram José quando iam para o Egito (Gn 37.25). Essa dedução foi extraída da falta de clara referência extrabíblica a camelos antes do século XII nas descobertas arqueológicas feitas antes dos anos de 1950. Kenneth Kirchen observa que, até mesmo sem uma provável alusão do século XVIII a uma lista de alimentação de Tell Atshana, há indubitavelmente, referência a domesticação de camelos em algumas das listas lexicais do antigo período babilônico (2000-1700 a.C). No século XVIII foram encontrados ossos de camelos enterrados embaixo de uma casa de Mari. Descobertas semelhantes foram feitas em sítios arqueológicos palestinos em níveis datando de 2.000 a.C. em diante. De Biblos, na Fenícia, veio uma estatueta de camelo incompleta datando do século XIX ou XVIII. Forbes menciona um vaso dinástico de pedra calcária anterior, modelado como camelo; também foram descobertas cerâmicas com cabeças de camelo de hieraconpólis. Oppenhelm encontrou em Gozan (Tell Halaf) um ortóstato de um cavaleiro de camelo armado, datado de 3.000 a.C. ou pelo menos do inicio do terceiro milênio. Mais uma vez o registro do Antigo Testamento prova ser totalmente digno de crédito e um relato histórico, a despeito da falta temporária de confirmação arqueológica.

Portanto diante das provas arqueológicas aqui expostas, vimos que a arqueologia serviu de maneira categórica, no tocante a confirmação dos relatos Bíblicos, provando sua autenticidade, que embora não se faz necessário nenhuma prova cientifica para crermos em sua totalidade, as evidências servem como ferramentas para os teólogos ortodoxos silenciarem os céticos e opositores das Escrituras. Estas provas históricas mostram apenas uma verdade: Não há nenhum erro histórico ou geográfico na Bíblia, embora não seja um livro de história ou geografia, cada relato que nela consta é digna de total aceitação.

Fonte
Panorama do antigo testamento. Gleason L. Archer Jr.

Por 
Edson Moraes

Calvinismo Consistente

Há uma versão do calvinismo que claramente pode ser sustentada sem contradição. Essa é a visão que afirma com consistência patente que Deus não somente conhece o futuro completamente, como também o controla em cada detalhe, pois Ele determinou tudo o que irá acontecer. Se Ele faz isso através de uma gerencia direta constante, ou se Ele arranjou o mundo no seu início de uma forma tal que as coisas inevitavelmente se desenrolarão de uma certa maneira, não importa. O que é essencial, contudo, não é apenas a afirmação de que tudo acontece como Deus planejou, mas também a afirmação de que Ele poderia ter causado que as coisas acontecessem diferentemente se Ele assim o quisesse. Em outras palavras, a vontade de Deus para que as coisas ocorram de certa forma e causa suficiente para que elas ocorram precisamente daquela forma. Dada a Sua vontade, as coisas não poderiam acontecer de maneira diferente da que elas acontecem, em aspecto algum.

O único tipo de liberdade humana que poderia existir no mundo como esse é a liberdade compatibilista. Se Deus tem pré-conhecimento exaustivo do futuro exatamente porque Ele determinou tudo o que acontecerá então Ele obviamente também determinou nossas escolhas. Nossa liberdade deve consistir essencialmente em que nós voluntariamente fazemos o que Deus determinou que faríamos, ainda que seja estritamente impossível agir de maneira distinta. Isso significa que somos responsáveis por nossas ações, muito embora não podemos – nem poderíamos – agir de uma forma diferente de que agimos.

Se liberdade e determinismo são compatíveis assim, então segue que Deus poderia determinar que todos aceitassem Seu amor livremente e fossem salvos. Porém, o calvinismo consistente declara que a perfeita bondade de Deus não é nunca desafiada se Ele deixar muitas pessoas em seus pecados, para serem condenadas – pessoas que Ele poderia tão facilmente determinar salvar. Mesmo que isso pareça injusto, para não dizer sem amor, por parte de Deus, o calvinista insiste que Deus não tem obrigação de salvar que quer que seja. Seria perfeitamente justo que Deus condenasse todos, pois todos nõs voluntariamente pecamos, e isso é suficiente para nos fazer culpados e responsáveis, mesmo considerando que nós nascemos em pecado e não podemos, nunca, deixar de pecar. Além do mais, nós somos propriedade de Deus, e como R. K. McGregor-Wrigth escreve, “É prerrogativa de um criador soberanos fazer o que Lhe apraz com Sua propriedade”. As razões de Deus salvar alguns, mas não outros, não estão acessíveis a nós. Wrigth dá a esse ponto um toque cruamente pessoal, quando afirma que Deus deve ter razões, desconhecidas a Wrigth, para tê-lo escolhido para a salvação, mas não ter escolhido seu pai, que, até onde Wrigth sabe, morreu como ateu.

Ainda que alguns possam vacilar diante das consequências da eleição incondicional, se isso significar que Deus possa escolher não salvar os seus entes queridos, calvinistas consistentes reconhecem essa conclusão como parte do que é requerido daqueles que se submetem à sua visão de graça soberana. Talvez um dos exemplos mais amargos vem do conhecido pastor calvinista John Piper. Ele participou de um debate sobre a questão de com Deus soberano ama. Seu oponente no debate, Thomas Talbott, argumentou que se Deus escolhesse não salvar sua filha, então seria difícil imaginar como a mãe da menina poderia considerar Deus como digno de adoração. Piper respondeu mencionando seus dois filhos e expressando suas esperanças e orações de que eles pudessem se unir a ele na fé e no serviço cristãos. Depois, ele concluiu seu artigo com essas comoventes palavras:

“Mas eu sei que Deus talvez não tenha escolhido meus filhos para serem Seus filhos. E, embora eu pense que poderia dar minha vida pela salvação deles, se eles devem perder-se para mim, eu não lutarei contra o Deus todo-poderoso. Ele é Deus. Eu não passo de um homem. O oleiro tem direitos absolutos sobre o barro. O meu direito é me prostrar diante de Seu caráter inatacável e crer que o Juiz de toda a terra tem feito e sempre fará o que é certo”.

Por um lado, nós admiramos os esforços de Piper em ser consistente. O fato de ele se comprometer a se prostrar em adoração, mesmo enfrentando a possibilidade d que Deus possa não ter escolhido salvar seus filhos, evidencia um compromisso resoluto com seus princípios. Sua afirmação sobre a eleição incondicional não é meramente intelectual, que se distancia da sua vida. Não é uma especulação sobre pessoas no outro lado do planeta, que talvez não sejam eleitas já que nunca ouviram o Evangelho. Antes, é um compromisso com o bom princípio de ser consistente com o que ele crê que as Escrituras ensinam, mesmo se isso te tornar extremamente desconfortável num nível pessoal. Calvinistas que estão inteiramente preparados para fazer o mesmo não podem ser acusados de inconsistência ou de se valerem de subterfúgios, pelo menos neste ponto. Poucos calvinistas, no entanto, são consistentes assim. A maioria trabalha sob níveis variáveis de inconsistência.

Porque não sou Calvinista. Jerry L. Walls e Joseph R. Dongell
Compilado por: Rafael Félix.