terça-feira, 19 de maio de 2020

POR QUE O LIVRE-ARBÍTRIO É UMA DOUTRINA BÍBLICA CRISTALINA?

Por Ciro Sanches Zibordi

Em Mateus 23.37, o Senhor Jesus afirmou, diante da dureza do coração dos judeus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” Observe que Jesus “quis” ajuntar os filhos de Jerusalém, porém eles “não quiseram” que Ele assim o fizesse. Isso não deveria nos levar a refletir profundamente sobre a doutrina bíblica do livre-arbítrio? Afinal, nesse caso, o Senhor Jesus, que é Deus e estava em perfeita sintonia com o Deus Pai, queria que os judeus quisessem. E, mesmo assim, eles não quiseram!

Paulo alertou os crentes de Corinto a respeito da manutenção da salvação em Cristo com as seguintes palavras: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se é que não crestes em vão” (1 Co 15.1-2). Note: a manutenção da salvação está condicionada à obediência ao evangelho verdadeiro (2 Co 11.3,4; Gl 1.8; 1 Tm 4.16). E a obediência deve ser voluntária, visto que não somos seres autômatos.

Em 2 Pedro 2, esse apóstolo mencionou falsos doutores que negariam o Senhor que os “resgatou” (v. 1). E, ao final desse capítulo, disse: “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se lhes o último estado pior do que o primeiro” (v. 20). Isso significa que as pessoas resgatadas, compradas, purificadas pelo sangue de Jesus, justificadas, regeneradas, santificadas e libertas, “se não guardarem o que têm recebido do Senhor”, perderão a salvação! Pedro ainda afirmou: “melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (v. 21). Se a vontade do salvo é inteiramente controlada por Deus, por que o próprio Deus, em sua Palavra, avisa que pessoas verdadeiramente resgatadas podem se desviar do Caminho?

Não é por acaso que Jesus Cristo alerta: “guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11). Segundo a Palavra do Senhor, aos que se desviam da verdade o Senhor dá tempo para que se arrependam (Ap 2.20,21). Alguns salvos em Cristo, “resgatados”, infelizmente têm apostatado da fé, “dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1). E não pense que esse texto se refere aos ímpios. Não! Pois eles não têm de que apostatar! Sim, os eleitos podem perder a salvação se não permanecerem em Cristo! Não é isso que vemos, ao estudar sobre as igrejas da província da Ásia? Os conselhos para aquelas sete igrejas abrangeram dois aspectos: arrependimento e manutenção da posição em Cristo. A ordem “Arrepende-te” foi transmitida à maioria delas (Ap 2.5,16; 3.3,19). Para as outras, o Senhor disse que deveriam guardar, reter, conservar o que tinham, até à morte, para que não perdessem a coroa (Ap 2.10,25; 3.11).

O crente que se acomoda, pensando estar salvo para sempre, está iludido e dormindo espiritualmente. Paulo disse aos seus irmãos em Cristo, em Éfeso: “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Ef 5.14). O pastor da igreja em Sardes estava morto — e não sabia! — e precisava tomar uma posição diante do Senhor (Ap 3.1). Ou seja, Deus não somente respeitava seu livre-arbítrio, como também estava lhe dando um tempo para que tomasse uma posição e que se despertasse do sono.

Conquanto o Senhor Jesus tenha feito a sua parte, ao nos resgatar, temos de operar ou desenvolver, por assim dizer, a nossa salvação (Fp 2.12; Ef 2.10; Hb 6.9). Em 2 Timóteo 2.10, está escrito: “tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna”. Fomos transportados das trevas para a luz; e da morte para a vida (1 Pe 2.9; Jo 5.24). Contudo, se negarmos o Senhor, Ele também nos negará (2 Tm 2.12; Mt 10.32,33). Sabemos que os nossos nomes estão registrados no livro da vida, mas isso não autentica a máxima “Uma vez salvo, salvo para sempre”. A Palavra de Deus afirma: “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida” (Ap 3.5). Ou seja, Jesus não riscará o nome de quem vencer!

Finalmente, consideremos uma importante afirmação do autor da Epístola aos Hebreus: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim” (Hb 3.12-14). Para quem foram dirigidas essas palavras? Aos “irmãos”! Pense nisso.

Fonte: http://www.cpadnews.com.br/blog/cirozibordi/apolog%C3%83%C2%A9tica-crist%C3%83%C2%A3/159/por-que-o-livre-arbitrio-e-uma-doutrina-biblica-cristalina-.html

Via Nivaldo Gomes.

A História do Avivamento Azusa (1 parte)

Por:  Frank Bartleman 
                                                                                                                                                                                                  O COMEÇO DO AVIVAMENTO A MINHA CHAMADA 
                                                                                                                                                                                              O autor das páginas que se seguem chegou à Los Angeles, na Califórnia, com sua esposa e duas filhas, a mais velha de três anos e meio, no dia 22 de dezembro de 1904. Nossa filha mais velha, Ester, começou a ter convulsões e foi ficar com o Senhor Jesus, às 4 horas da manhã, do dia 7 de janeiro. Nossa pequena "Rainha Ester" perecia ter nascido para "tal tempo como este" (Ester 4:14). Ao lado daquele pequeno caixão, com meu coração sangrando, dediquei minha vida novamente à obra de Deus. Na presença da morte, como se tornam reais os assuntos eternos! Eu prometi que o resto da minha vida seria dedicado exclusivamente à Ele. E Ele fez uma nova aliança comigo. Supliquei-lhe, então, que logo me abrisse uma nova porta de serviço, para que eu não tivesse tempo de sofrer com o que acontecera.
    Apenas uma semana depois da partida de Ester, comecei a pregar duas vezes por dia na pequena Missão Peniel, em Pasadena (Califórnia). Muitas pessoas foram salvas durante o encontro que durou um mês, mas a maior vitória foi a descoberta de um grupo de jovens que assistiam ao encontro. Alguns foram chamados pelo Senhor para futuros trabalhos. 
       No dia 8 de abril ouvi pregar F. B. Mayer, de Londres. Ele descreveu o grande avivamento que se desenrolava no País de Gales, onde acabara de estar e conhecera Evan Roberts. Minha alma se comoveu profundamente, pois pouco antes eu também havia lido a respeito desse avivamento. Prometi ali mesmo a Deus dar-lhe direito total sobre a minha vida, se fosse possível me usar. Distribuí folhetos no prédio do correio, em bancos e edifícios públicos em Los Angeles e visitei muitos bares. Depois visitei mais de trinta bares em Los Angeles. Os prostíbulos estavam abertos naquele tempo e distribuí muitos folhetos ali também. 
A morte da pequena Ester havia quebrado meu coração e eu sentia que só poderia viver enquanto servisse ao Senhor. Ansiava conhecê-lo de uma forma mais real e ver a obra de Deus avançar com poder. Um grande peso e desejo surgiram no meu coração para que houvesse grande avivamento. Ele estava me preparando para um novo serviço Seu. Este, porém, só poderia acontecer quando houvesse em meu coração um anseio mais profundo por Deus e uma verdadeira dor de parto na minha alma pela Sua obra. Isto Ele me deu. Muitos estavam sendo preparados de forma semelhante nesta época em diferentes lugares do mundo. Deus estava prestes a visitar e libertar seu povo mais uma vez. Eram precisos intercessores. 
         "Maravilhou-se de que não houvesse um intercessor" (Isaías 59:16). "Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei." 
                                                                                                                                                                     (Ezequiel 22:30) 
                                                                                                                                                                                                 Por volta de primeiro de maio, um poderoso avivamento irrompeu no templo da igreja Metodista da Avenida Lake, em Pasadena. Quase todos os jovens que haviam sido tocados por Deus nas reuniões da Missão Peniel frequentavam esta igreja e estavam orando por um avivamento ali. Aliás estávamos orando por um avivamento que varresse toda a cidade de Pasadena. Deus estava respondendo nossas orações. 
Vi maravilhas feitas pelo Espírito Santo na Avenida Lake. O altar estava repleto de pessoas buscando a Deus, apesar de não haver ali nenhum grande pregador. Em uma única noite quase todos os presentes que não estavam salvos tiveram um encontro pessoal com Jesus Cristo. Foi uma vitória total para Deus. Havia uma poderosa convicção de pecados sobre todo o povo. Em duas semanas duzentas pessoas ajoelharam-se no altar, buscando ao Senhor. Os rapazes de Peniel estavam por trás de tudo, sendo grandemente usados por Deus.     Começamos então a orar por um derramamento do Espírito Santo em Los Angeles e todo o sul da Califórnia. Naquela época escrevi em meu diário: "Algumas igrejas vão se surpreender quando Deus as deixar para trás e usar outros canais que se renderam totalmente à Ele. 
É preciso humilhar-nos para que Ele venha. Estamos rogando 'Pasadena para Deus!' 
Na sua grande maioria, os cristãos estão muito satisfeitos consigo mesmos, e têm pouca fé e pouco interesse pela salvação dos outros. Deus os humilhará deixando-os de lado. O Espírito está orando através de nós por um grande derramamento do Espírito em toda parte. Grandes coisas vão acontecer. Estamos pedindo coisas tremendas para que o nosso gozo seja completo. Deus está se movendo. Estamos orando pelas igrejas e seus pastores. O Senhor visitará aqueles que quiserem se render totalmente à Ele." 
O mesmo é verdade ainda hoje. É preciso que sejamos humildes aos nossos próprios olhos, pois, o fracasso ou o sucesso, em última análise, dependerá disto. Caso nos consideremos importantes, já estamos derrotados. A história sempre se repete neste particular. Deus sempre procurou um povo humilde. Ele não pode usar outro tipo de pessoa. Martinho Lutero, o grande reformador, escreveu: "Quando o Senhor Jesus diz 'ARREPENDA-SE', Ele quer dizer que toda a vida do crente na terra deve ser um constante e permanente arrependimento. Arrependimento e dor, isto é, verdadeiro arrependimento, são constantes enquanto o homem não está satisfeito consigo mesmo - ou seja, até que vá para a eternidade. O desejo de se auto justificar é a causa de todo o sofrimento do coração". Nosso coração sempre precisa de muita preparação, em humildade e separação, antes que Deus possa vir de forma persistente. "A profundidade de qualquer avivamento será determinada precisamente pela profundidade do espírito de arrependimento que o produziu." 
Aliás, esta é a chave de todo verdadeiro avivamento nascido de Deus. 
No dia 12 de maio, Deus me disse que de uma vez por todas eu deixasse meu emprego secular e me dedicasse exclusivamente à Ele. O Senhor queria que eu confiasse a mim e a minha família exclusivamente à Ele. Eu acabara de receber o pequeno livro intitulado: "O grande avivamento em Gales", escrito por S. B. Shaw e o estava lendo durante um pequeno passeio, antes do café da manhã. Há anos que o Senhor insistia comigo para tomar esta decisão. Agora fizemos um novo pacto, segundo o qual o resto de minha vida, em sua totalidade, lhe pertenceria. E, desde então, jamais ousei quebrar este pacto. Minha esposa me aguardava com meu café, mas eu perdera a vontade de alimentar-me. O Espírito Santo através daquele pequeno livro incendiara meu coração. Visitei e orei com três pregadores e outros numerosos obreiros antes de voltar para casa, ao meio-dia. Eu recebera um novo comissionamento e unção. E ansiava profundamente por um avivamento espiritual.
 Depois disto passei muitos dias visitando e orando com outros irmãos e distribuí o folheto da G. Campbell Morgan "O Avivamento em Gales", que tocava as pessoas profundamente. Cada vez sentia mais necessidade de orar e resolvi ser fiel à visão celestial que tivera. A "questão do pão de cada dia" há muitos anos me preocupava, mas agora orei a Deus para poder confiar nEle totalmente: "Nem só de pão viverá o homem!" (Mateus 4:4) 
Deus me abençoou além disso, com o poder de exortar as igrejas quanto ao avivamento e também com artigos que escrevi para a Editora Holiness sobre o mesmo tema. Uma noite acordei gritando louvores a Deus. O Senhor cada vez mais se apossava de mim. Agora de dia, e mesmo durante a noite, eu os exortava para terem fé em Deus por coisas grandiosas. O peso pelo avivamento me consumia. O dom de profecia também veio sobre mim com poder. Parecia haver recebido um especial "dom de fé" em favor do avivamento. Era óbvio que estávamos no início de dias maravilhosos e eu profetizava continuamente sobre o grande derramamento que haveria de acontecer.
 Eu tinha um ministério muito real junto com a imprensa religiosa e comecei a freqüentar reuniões de oração em diversas igrejas a fim de exortá-las. O pequeno folheto de G. Campbell Morgan inflamava a todas as igrejas maravilhosamente.
  Também visitei muitos irmãos e comecei a vender nas igrejas o livro de S. B. Shaw: "O Grande Avivamento em Gales" Deus utilizou-o grandemente para incentivar a fé pelo avivamento. Meu trabalho de distribuir folhetos continuou em bares e em casas de negócios.
  Em maio de 1905, escrevi num artigo: "Minha alma fica incendiada quando leio sobre o trabalho glorioso da graça do Senhor no País de Gales. Os "sete mil" que juntamente com os "que foram poupados" (Ezequiel 9), e estão "suspirando e gemendo" por causa das abominações e desolações que há na terra, e pela decadência da verdadeira piedade no corpo de Cristo, podem se regozijar numa hora como esta, em que se vê a perspectiva de Deus mais uma vez se mover na terra. O nosso lema neste momento deve ser 'Califórnia para Cristo!' Deus está buscando obreiros, canais, vermes do pó. Lembre-se, Ele precisa desses simples vermes. Havia tanto peso na vida de Jesus que FLUIA ORAÇÃO de todos Seus poros. 
Isto é alto demais para a maioria das pessoas. Contudo, não seria esta a 'última chamada' do Senhor?" 

 NA IGREJA DO IRMÃO SMALE 

No dia 17 de junho, fui a Los Angeles para assistir a uma reunião da Primeira Igreja Batista. Eles, também, esperavam em Deus por um derramamento do Espírito ali. Seu pastor, Joseph Smale, acabara de voltar do País de Gales onde estivera em contato com o avivamento e com Evan Roberts, e estava na sua própria igreja em Los Angeles. Esse encontro parecia estar em perfeito acordo com a minha visão, tarefa e desejo, e passei duas horas na igreja orando, antes da reunião da noite. As reuniões estavam sendo realizadas ali dia e noite, diariamente, e Deus estava presente. 
Uma tarde comecei a reunião em Los Angeles, enquanto esperava que Smale aparecesse. Eu os exortei a não esperar pelos homens, mas a esperar em Deus. 
Eles estavam esperando em alguma grande figura humana; era o mesmo espírito de idolatria que havia sido uma praga para igreja e que impedira a ação de Deus através dos séculos. Como os filhos de Israel, o povo precisava ter "um outro Deus diante do Senhor." (Em algumas igrejas oficiais na Europa, o pastor é muitas vezes conhecido como "o pequeno deus!") Começamos o culto da noite nos degraus do templo, do lado de fora, enquanto esperávamos que o Zelador chagasse com a chave. Tivemos um período de oração em favor da comunidade vizinha. A reunião foi uma marcha progressiva de vitória.
  Depois fui para o Parque Lamanda, e após a pregação passei a noite na casa paroquial orando e dormindo alternadamente. Eu queria uma revelação maior de Jesus PARA MIM MESMO. Como a lua cheia que fica mais e mais nítida e mais próxima à medida que a contemplamos incessantemente, assim também Jesus fica mais real às nossas almas à medida que o contemplamos. Precisamos de um relacionamento mais íntimo, vivo, e pessoal com Deus, e de conhecimento e comunhão maior com Ele. Só o homem que vive em comunhão com a realidade divina está habilitado a levar as pessoas à Deus.
  Fui à igreja de Smale outra vez e novamente encontrei as pessoas sem ânimo, esperando o pregador aparecer. Muitas pareciam nem ter idéia definida a respeito do que esperavam que acontecesse! Comecei a orar em voz alta e a reunião se iniciou com poder. Estava já com força total quando o irmão Smale chegou. Deus queria que as pessoas olhassem apenas para Ele e não para algum homem. Aqueles que não colocavam a glória do Senhor em primeiro lugar, naturalmente se ressentiam disto. Contudo este é o plano de Deus. 
Verifiquei que a maioria dos cristãos não queriam aumentar sua carga de oração. Era difícil demais para a carne! Eu carregava agora uma carga cada vez mais volumosa, noite e dia. O ministério era intenso. Era a "comunhão dos seus sofrimentos" (Filipenses 3:10), a angústia de alma "com gemidos inexprimíveis" (Romanos 8:26, 27). Muitos crentes acham mais fácil criticar do que orar... 
Um dia eu estava sobre uma carga tremenda de oração. Fui à casa de oração do irmão Manley, caí no altar e ali aliviei minha alma. Um obreiro entrou correndo e pediu que orasse por ele. Naquela noite fui a uma reunião e encontrei um outro jovem, Edward Boehmer, que havia sido tocado por Deus nas reuniões de Peniel, no outono, e que tinha o mesmo fardo de oração sobre si. Ele estava destinado a ser meu companheiro de oração no futuro. Fomos unidos no Espírito daquele dia em diante de forma maravilhosa. Oramos juntos na pequena Missão Peniel até às duas horas da manhã. Deus encontrou-Se conosco e nos fortaleceu maravilhosamente enquanto lutávamos com Ele por um derramamento do Espírito sobre o povo. Minha vida então estava totalmente consumida pela oração contínua. Estava orando dia e noite! Escrevi mais artigos para a imprensa religiosa, exortando os santos a orar. Novamente fui a igreja de Smale em Los Angeles. Encontrei as pessoas esperando o pregador outra vez. Esta situação me oprimia muito e tentei mostrar-lhes que só deviam esperar pelo Senhor. Algumas se ressentiram, pois eram muito tradicionais, mas outras aceitaram. Afinal, estávamos orando por um avivamento como houvera no País de Gales, onde um dos pontos principais era que somente esperavam em Deus. As reuniões continuavam lá com ou sem pregador. Eles vinham se encontrar com Deus. E o Senhor vinha para estar com eles. 
Eu havia escrito uma carta a Evan Roberts, pedindo que em Gales orassem por nós na Califórnia. Recebi resposta de que eles estavam orando, o que nos ligava, então, ao avivamento de lá. A carta dizia: "Meu querido irmão na fé, muito agradecido por sua carta gentil. Fiquei impressionado com sua sinceridade e honestidade de propósitos. Reúna o povo que está disposto a fazer uma entrega total. Ore e espere. Creia nas promessas de Deus. Faça reuniões diárias. Deus o abençoe, é a minha oração." Sentimo-nos muito encorajados ao saber que estavam orando por nós em Gales. 
Escrevi mais artigos e o que se segue são extratos deles: "Um trabalho maravilhoso do Espírito irrompeu em Los Angeles, Califórnia, precedido de um profundo trabalho preparatório de oração e expectativa. A convicção está se espalhando entre o povo, e as pessoas estão afluindo de todas as partes da cidade para as reuniões da igreja do Pr. Smale. Estas reuniões realizaram-se por si mesmas. Pessoas estão sendo salvas por todo o auditório, enquanto a reunião continua sem ser guiada por mãos humanas. A maré está subindo rapidamente e nós estamos antecipando coisas maravilhosas. A intercessão em angústia de alma está se tornando em importante aspecto do trabalho, e estamos sendo transportados para além das barreiras denominacionais. O temor do Senhor está vindo sobre o povo, um verdadeiro espírito de quebrantamento. A reunião que começou domingo à noite durou até a madrugada do dia seguinte. O pastor Smale profetizou coisas maravilhosas que irão acontecer. Ele profetizou que os dons apostólicos logo voltarão à igreja. Los Angeles é uma verdadeira Jerusalém. Justamente o lugar certo para uma grande obra de Deus começar. É exatamente este tipo de demonstração de poder divino que eu tenho esperado há algum tempo. Tenho sentido que a qualquer momento ela surgirá. Sinto, também, que virá onde menos se espera para que Deus receba toda a glória. Ore por um Pentecostes!"

Via Ruanna Pereira (continua)

segunda-feira, 18 de maio de 2020

O ARGUMENTO CONTEMPORÂNEO A FAVOR DO DESIGN INTELIGENTE: UMA VISÃO GERAL

Capítulo cinco do livro: Passionate Conviction: Contemporary Discourses on Christian Apologetics, editado por Paul Copan e William Lane Craig

Obs.: “Traduzindo trechos e buscando editoras interessadas na publicação”

Jay W. Richards

Por mais de cinquenta anos, o filósofo britânico Antony Flew foi o ateu público mais sério intelectualmente do mundo de língua inglesa. Sua primeira polêmica foi contra o apologista Cristão C. S. Lewis em Oxford em 1950 e depois ele continuou a buscar defesas acadêmicas do ateísmo por mais de cinco décadas. Seu argumento básico era sempre o mesmo: simplesmente não havia evidência suficiente para acreditar em Deus. Então, aos oitenta e um anos, ele mudou de ideia.

Então, o que fez com que o Antony Flew mudasse de ideia? Não foi uma conversão religiosa. Em uma entrevista em 2004 ao filósofo Gary Habermas, Flew atribui sua nova visão não a nenhum texto religioso, mas a evidências científicas, em particular, evidências de design inteligente: “Eu acho que o argumento a favor do Design Inteligente é muito mais forte do que era quando o conheci pela primeira vez.”[1] Em uma entrevista à Associated Press (9 de dezembro de 2004), Flew disse que suas ideias "têm alguma semelhança com os teóricos americanos do "design inteligente".*

A mudança de ideia de Flew pode ser o resultado mais visível até agora do trabalho do movimento do design inteligente (DI). É também um microcosmo do estado de mudança do debate sobre o argumento do design contemporâneo. Na balança está o status da cosmovisão materialista que domina os postos de comando da cultura há mais de um século. Esta é uma boa notícia para qualquer pessoa interessada em apologética Cristã.

O Legado Materialista

A ciência deixou o século XIX com uma visão simples do universo. Muito simples, como se vê. A interpretação materialista oficial das ciências naturais era mais ou menos assim: (1) O universo sempre existiu e, portanto, não precisamos abordar a questão de sua origem. (2) Tudo no universo, seja grande ou pequeno, submete-se a algumas bem entendidas, leis determinísticas. (3) A vida apareceu inicialmente como resultado da sorte e da química. (4) As células, por sua vez, são basicamente pequenas gotas de gelatina. (5) Praticamente todas essas adaptações complicadas de organismos resultam de um processo extremamente simples chamado seleção natural: esse processo quase milagrosamente criativo apenas apreende e repassa essas pequenas variações aleatórias dentro de uma população que fornecem uma vantagem de sobrevivência.

A interpretação positivista da ciência (e do conhecimento em geral) forneceu suporte indispensável a essa imagem do mundo. O positivismo, um programa projetado para eliminar a metafísica da ciência, proibiu os cientistas de apelar para uma agência inteligente ao tentar explicar as características do mundo natural ou o próprio mundo natural. Essa restrição obviamente se aplicava a um agente divino, mas acabou ficando claro que se aplicava a agentes em geral. Tudo, no fundo, era pensado estar redutível às interações impessoais da matéria, seguindo padrões previsíveis, e nada mais importava. De fato, muitos físicos de escalões mais elevados haviam concluído que a física era basicamente uma ciência completa. Havia pouco a fazer, exceto dar uma arrumada aqui e ali.

Mas quase tão logo a cama Procrusteana** ter sido feita, o mundo real começou a reagir. As revelações surpreendentes da esfera quântica sugeriram que o mundo não era tão submisso quanto os materialistas esperavam. O astrônomo Edwin Hubble descobriu que a luz de galáxias distantes era deslocada para vermelho, indicando que o universo está se expandindo. Este e outros detalhes sugeriram que o universo havia passado a existir no passado finito - que ele tem uma idade. Isso contradiz categoricamente a imagem anterior de um cosmos eterno e auto-existente.

Então, nas décadas de 1960 e 1970, os físicos começaram a notar que as constantes universais da física, como as forças da gravidade e o eletromagnetismo, pareciam ser "ajustadas" para a existência de vida complexa. De modo que o astrofísico ateu Fred Hoyle sugeriu que essa era a atividade de um “superinteleto”.[2]

Depois, há o problema persistente da origem da informação biológica, que transcende teimosamente seu meio químico da mesma maneira que as letras e frases de um livro transcendem a química da tinta e do papel. Vemos isso claramente na biologia molecular, onde a presença de informações codificadas ao longo da molécula de DNA parece, de forma suspeita, um código de computador extraordinariamente sofisticado para a produção de proteínas, os blocos tridimensionais de toda a vida. Suba de nível e encontramos máquinas complexas e funcionalmente integradas que parecem inacessíveis ao mecanismo Darwiniano. Além disso, essas estruturas se parecem muito com os sistemas produzidos por agentes inteligentes, que podem prever uma função futura e concretizá-la.

Depois, há a complexidade tridimensional do planejamento do corpo animal, que supera nossa compreensão dos sistemas informacionais presentes nos níveis inferiores. Finalmente, existem os próprios agentes humanos, que são tão inesperados em termos materialistas, que muitos realmente tentam negar sua existência - outro veredito do raciocínio materialista que tem problemas lógicos óbvios.

Adicione a essa evidência os problemas filosóficos do próprio positivismo. Talvez a mais grave tenha sido essa: os positivistas afirmaram que apenas as afirmações que podem ser verificadas pelos sentidos são significativas ou pelo menos científicas. Essa afirmação, no entanto, não pode ser verificada pelos sentidos. Isso significa que, em si e por si mesmo, o positivismo é sem sentido ou pelo menos não científico. Ao mesmo tempo, qualquer critério liberal o suficiente para evitar contradições e acomodar a prática científica real também permitiu a metafísica. Tais problemas acabaram levando ao fim de toda a empreitada positivista. Os próprios positivistas admitiram isso abertamente. Por exemplo, em uma entrevista de rádio da BBC, Brian McGee perguntou a A. J. Ayer, o pai do positivismo lógico, qual era o principal defeito do positivismo. Ayer respondeu que o principal problema era que "quase tudo era falso".[3]

No início do século XXI, observamos um mundo totalmente diferente daquele que a ciência materialista do final do século XIX imaginava. Este é um mundo carregado de design, um cosmos que aponta para além de si mesmo em direção a uma causa transcendente e inteligente. Mas isso não foi divulgado! Pelo contrário, a definição materialista de ciência herdada do século XIX ainda nos impede de considerar essa nova evidência. O problema é tão grave que alguns cientistas estão dispostos a postular uma infinita panóplia de universos não observáveis, apenas para explicar a sintonia fina em nosso universo.

Essa situação estranha levou Phillip Johnson, nos anos 90, a fazer uma pergunta singularmente rica e subversiva: se a definição materialista de ciência e a evidência científica estão em conflito, devemos concordar com a definição ou com a evidência? Fazer essa pergunta, como eles dizem, é respondê-la. Scientia significa "conhecimento". A essência da ciência natural é a busca pelo conhecimento do mundo natural. O conhecimento é um bem intrínseco. Se formos adequadamente científicos, procuraremos estar abertos ao mundo natural e não decidir de antemão o que é permitido revelar.

A definição materialista de ciência não é uma mera brincadeira filosófica. Ela determina o que pode ser discutido, financiado e publicado, pelo menos dentro dos círculos oficiais. Esse poder cultural e institucional faz a ciência materialista parecer uma estrutura inflexível, que se estende invencivelmente às nuvens como o pé de feijão de Jack. Mas se a evidência é como a descrevi, esse monólito certamente deve ter seus pontos fracos. Pois o materialismo tem seus pontos fracos, exatamente onde não se encaixa no mundo natural. Isso sugere que o argumento do design, no início do século XXI, tem um novo conjunto de evidências sobre o qual repousa.

Ampliação do Argumento do Design Inteligente

Alguns dos "sinais de design" mais conhecidos são as moléculas ricas em informação, como o DNA, e as minúsculas máquinas moleculares, como o flagelo bacteriano, que o bioquímico Michael Behe imortalizou em seu livro mais vendido de 1996, o Darwin's Black Box.[4] Behe*** argumentou que o flagelo e muitas outras máquinas moleculares são "irredutivelmente complexas". Elas são como uma ratoeira. Sem todas as partes fundamentais, elas não funcionam. A seleção natural pode construir sistemas apenas em um pequeno passo de cada vez, percorrendo um caminho no qual cada passo fornece uma vantagem de sobrevivência presente. A Seleção Natural não pode selecionar para uma função futura. Somente agentes inteligentes possuem essa previsão.

Mas nem todo o trabalho importante está em ciências naturais em si. Parte do trabalho é conceitual. O materialismo, afinal, é uma filosofia, mesmo que seus promotores contemporâneos tentem confundi-lo com a ciência. Assim, o argumento do design moderno tem partes científicas e filosóficas. Grande parte do trabalho envolve desmantelar a filosofia falida do materialismo.

Durante a maior parte da história ocidental, detectar as atividades de agentes inteligentes tem sido um empreendimento bastante intuitivo. Livros como The Design Inference[5], do filósofo William Dembski, reforçaram drasticamente o argumento do design, trazendo-o para a esfera dos argumentos objetivos e evidências empíricas acessíveis ao público, e para fora da esfera mais sombria da intuição.

Um Novo Argumento do Design

Ainda mais recentemente, evidências crescentes em astronomia revelaram que, mesmo em um universo ajustado em sintonia fina, muitas coisas locais precisam dar certo para construir um único planeta habitável. (E mesmo depois de ter um ambiente adequado para a vida, você não tem vida automaticamente.) Guillermo Gonzalez e eu argumentamos no livro The Privileged Planet[6] que, de forma suspeita, esses requisitos encontrados em um mundo habitável também fornecem as melhores condições gerais para fazer descobertas científicas. Em outras palavras, os locais compatíveis com observadores complexos como nós são os mesmos que fornecem as melhores condições gerais para observação. Você pode esperar isso se o universo for projetado para descobertas, mas não se você for um materialista ativista do materialismo. Deixe-me explicar isso com mais detalhes.

Leia qualquer livro sobre a história das descobertas científicas e encontrará magníficas histórias da engenhosidade humana, persistência e sorte. O que você provavelmente não verá é qualquer discussão sobre as condições necessárias para tais feitos. Uma descoberta requer que uma pessoa faça a descoberta e um conjunto de circunstâncias que a tornam possível. Sem os dois nada é descoberto.

Embora os cientistas nem sempre discutam isso, o grau em que podemos "medir" o universo mais amplo a partir de nosso lar terrestre - e não apenas nosso entorno imediato - é surpreendente. Poucos consideraram como seria a ciência em, digamos, um ambiente planetário diferente. Menos ainda perceberam que a busca dessa pergunta leva sistematicamente a evidências imprevistas a favor do design inteligente.

Pense nas seguintes características de nossa casa terrestre: a transparência da atmosfera da Terra na região visual do espectro, placas crustais em movimento, uma lua grande e nossa localização específica no sistema solar, e a localização do sistema solar dentro da Via Láctea. Sem cada um desses ativos, teríamos dificuldade em aprender sobre o universo. Não é uma especulação inútil perguntar como nossa visão do universo seria prejudicada se, por exemplo, nosso mundo natal estivesse perpetuamente coberto por nuvens espessas. Afinal, nosso sistema solar contém vários exemplos desses mundos. Basta pensar em Vênus, Júpiter, Saturno e Titã, a lua de Saturno. Esses seriam péssimos lugares para se fazer astronomia.

Podemos fazer comparações semelhantes no nível galáctico. Se estivéssemos mais perto do centro de nossa galáxia ou de um de seus maiores braços espirais empoeirados, por exemplo - o pó extra impediria nossa visão do universo distante. De fato, provavelmente teríamos perdido uma das maiores descobertas da história da astronomia: a fraca radiação cósmica eletromagnética de fundo. Essa descoberta foi o ponto central na decisão entre as duas principais teorias cosmológicas do século XX. Subjacente a esse debate, estava uma das perguntas mais fundamentais que podemos fazer sobre o universo: é eterno ou teve um começo?

A teoria do estado estacionário postulava um universo eterno, enquanto a teoria do big bang implicava um começo. Por algumas décadas, não houve evidência direta para decidir entre as duas. Mas a teoria do big bang previa uma radiação remanescente deixada do período anterior da história cósmica, que era mais quente e mais densa. A teoria do estado estacionário não fez tal previsão. Como resultado, quando os cientistas descobriram a radiação cósmica de fundo em 1965, essa foi a derrocada da teoria do estado estacionário. Mas essa descoberta não poderia ter sido feita em outro lugar qualquer. Nosso ponto de vista especial na Via Láctea nos permitiu escolher entre essas duas visões profundamente diferentes das origens.

No livro Privileged Planet, discutimos estes e muitos exemplos comparáveis para mostrar que habitamos em um planeta privilegiado para a observação e descoberta científica. Mas há mais informações na história. A Terra não é apenas um lugar privilegiado para a descoberta; também é um lugar privilegiado para a vida. É a conexão entre vida e descoberta que pensamos que sugere propósito e não sorte.

Mencionei acima que físicos e cosmólogos começaram a perceber décadas atrás que os valores das constantes da física - características do universo que são iguais em toda parte - devem estar próximos dos valores reais para que a vida seja possível. Como resultado, eles começaram a falar sobre o universo ser ajustado para a vida. E alguns começaram a sugerir que o ajuste fino implica em um projetista.

É apenas mais recentemente que os astrobiólogos começaram a aprender que, mesmo em nosso universo com ajuste fino, muitas outras coisas locais devem estar corretas para se obter um ambiente planetário habitável.

Se você fosse um chef cósmico, sua receita para cozinhar um planeta habitável teria muitos ingredientes. Você precisaria de um planeta rochoso grande o suficiente para manter uma atmosfera substancial e oceanos de água e reter o calor interno por bilhões de anos. Você precisaria do tipo certo de atmosfera. Você precisaria de uma lua grande para estabilizar a inclinação da rotação do planeta em seu eixo. Você precisaria que o planeta tivesse uma órbita quase circular em torno de uma estrela de seqüência principal semelhante ao nosso sol. Você precisaria dar a esse planeta o tipo certo de vizinhos planetários dentro de seu sistema estelar. E você precisaria colocar esse sistema longe do centro, arestas e braços espirais de uma galáxia como a via Láctea. Você precisaria cozinhá-lo durante uma janela estreita de tempo na história do universo ... e assim por diante. Esta é uma lista parcial, mas você entendeu a ideia.

Essa evidência está se tornando conhecida entre os cientistas interessados na questão da vida no universo. Pesquisadores envolvidos na busca por inteligência extraterrestre (SETI), por exemplo, estão especialmente interessados em saber o que a vida precisa. Esse conhecimento permitiria determinar suas chances de encontrar outra civilização que se comunicasse. Infelizmente para os pesquisadores do SETI, as chances não são promissoras. Evidências recentes favorecem a chamada hipótese da Terra Rara (nome dado após um livro escrito por Donald Brownlee e Peter Ward em 2000).[7] A teoria postula que planetas que hospedam vida simples podem ser comuns, mas planetas com vida complexa são raros.

Ainda não sabemos se estamos sozinhos no universo. O universo é grande com vastos recursos. A pesquisa em astrobiologia ainda não amadureceu a tal ponto de podermos atribuir probabilidades precisas a todos os fatores necessários para tornar um planeta habitável. Ainda não podemos afirmar com certeza se eles esgotam todos os recursos disponíveis. Talvez o universo seja grande o suficiente para que pelo menos um planeta habitável tenha surgido por acaso - ou talvez não. Enquanto isso, é difícil defender o design inteligente com base apenas na conclusão de que os planetas habitáveis são raros.

Dito isto, achamos que há evidências de design na vizinhança. Pois, como argumentamos em The Privileged Planet, há um padrão suspeito entre as necessidades da vida e as da ciência. As mesmas condições estreitas que tornam um planeta habitável para a vida complexa também o torna o melhor lugar para fazer uma grande variedade de descobertas científicas. Em outras palavras, se compararmos nosso ambiente local com outros ambientes menos hospitaleiros, encontraremos uma coincidência impressionante: os observadores se encontram nos melhores lugares para observar.

Por exemplo, a atmosfera de que a vida complexa precisa, também é uma atmosfera transparente para a "luz" cientificamente útil. A geologia e o sistema planetário de que a vida precisa também são os melhores em geral para permitir que a vida reconstrua eventos do passado. E a região mais habitável da galáxia e o tempo mais habitável da história cósmica também são o melhor lugar e tempo no geral para se fazer astronomia e cosmologia. Se o universo é apenas uma concatenação cega de átomos colidindo com átomos e nada mais, você não esperaria esse padrão. Você esperaria esse padrão, por outro lado, se o universo fosse projetado para descobertas. Por si só, esse argumento é bastante sugestivo. Mas adicione-o à evidência de design de outros campos da ciência e você terá os ingredientes para uma argumento poderoso e contemporâneo a favor do design.

O Argumento do Design e a Apologética

Alguns podem pensar que isso é apenas de interesse acadêmico, uma vez que, na melhor das hipóteses, esse é um argumento a favor do mero design, e não do Cristianismo em si. Alguns Cristãos afirmam que os argumentos do design inteligente "não são tão importantes". Para eles, o exemplo de Antony Flew pode parecer apenas uma exposição de quando Flew diz que acredita em “Deus”, ele não quer dizer que colocou sua confiança no Deus e Pai de Jesus Cristo. Ele está se referindo ao genérico "Deus dos Filósofos" - uma Primeira Causa, postulada com base em evidências e argumentos racionais. Embora ele diga que permanece aberto à possibilidade de uma revelação especial, ele certamente não passou por uma conversão completa ao Cristianismo. Então o crítico pode perguntar: de que serve o argumento do design para a apologética Cristã?

Penso que esta preocupação, apesar de compreensível, está errada. Certamente, nenhum dos argumentos para o design inteligente pode estabelecer que Deus se encarnou em Jesus, morreu para nos salvar dos nossos pecados e ressuscitou dos mortos. Isso ocorre porque não aprendemos essas coisas estudando as ciências naturais. Essas são reivindicações históricas, portanto, as evidências para elas terão que ser extraídas da história. Mas não se segue que os argumentos do design sejam problemáticos. Os argumentos contemporâneos do design inteligente apelam não ao livro das Escrituras ou mesmo a evidências históricas, mas simplesmente ao livro da natureza. Eles apelam para as evidências publicamente disponíveis do mundo natural, especialmente das ciências naturais. A própria Bíblia nos diz que o mundo natural revela algumas coisas sobre Deus (Sl 19: 1-4, Rm 1:20). Isso não significa que a natureza revele tudo.

No entanto, o argumento do design moderno ainda tem um profundo valor apologético, mesmo que seja uma operação para preparar o caminho. O sucesso do argumento do design significaria a derrota para o que certamente é o principal obstáculo à crença Cristã no mundo moderno: o materialismo científico. Imagine como a apologética seria mais fácil se fosse amplamente aceito que a visão de mundo materialista está em descrédito.

Acho que se pode argumentar cumulativamente o teísmo com mais força com base nas evidências de design na biologia, astronomia, física e cosmologia. De fato, foi exatamente esse o caso que convenceu o principal ateu do mundo, Antony Flew, de que existe um Deus. E, para afirmar o óbvio, passar do ateísmo para o teísmo é avançar em direção ao Cristianismo. Para a apologética, isso é um movimento na direção certa. A partir daí, o apologista Cristão pode introduzir outras linhas de argumentação, como uma defesa histórica da ressurreição de Cristo. Certamente, é mais fácil fazer essa defesa se a existência de Deus for estabelecida.

O argumento para o design inteligente não pode estabelecer tudo em que os Cristãos acreditam. Mas é um primeiro passo valioso. Se você está interessado em apologética, deve reconhecer o progresso feito no argumento do design pelo que é: notícias muito boas.

*Nota do tradutor: Flew foi considerado o maior ateu dos últimos cem anos. Depois que abandonou o ateísmo, escreveu um livro cujo título é: Um Ateu Gararante: Deus Existe - As provas incontestáveis de um filósofo que não acreditava em nada, publicado no Brasil pela Editora Ediouro em 2008

**Nota do tradutor: Cama procrusteana - Uma situação ou lugar em que alguém é forçado a entrar, geralmente violentamente. Na mitologia grega, o gigante Procrustes capturava as pessoas e depois esticava ou cortava seus membros para fazê-las caber em sua cama.

***Nota do Tradutor: O Livro do Michael J. Behe foi publicado no Brasil com o título A Caixa Preta de Darwin: O Desafio Da Bioquímica À Teoria Da Evolução, em 1997 pela Editora Zahar e relançado em 2019 pela Editora Mackenzie.

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Fonte:

RICARDS, Jay W. The Contemporary Argument For Design: An Overview in COPAN, Paul; CRAIG, William Lane (General Editors). Passionate Conviction: Contemporary Discourses on Christian Apologetics. Nashville, Tennessee: B&H ACADEMIC, 2007.

Tradução Walson Sales.

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Notas:

[1] “My Pilgrimage from Atheism to Theism: A Discussion between Antony Flew and Gary Habermas,” Philosophia Christi 6/2 (2004): 197—211. Assista essa entrevista em “Atheist Becomes Theist: Exclusive Interview with Former Atheist Antony Flew,” http://www.biola.edu/antony-flew/.

[2] Fred Hoyle, “The Universe: Past and Present Reflections,” Engineering and Science (November 1981): 8-12.

[3] B. McGee, ed., Men of Ideas (London: BBC, 1978), 131.

[4] Michael Behe, Darwin's Black Box (New York: Free Press, 1996).

[5] William Dembski, The Design Inference (Cambridge: Cambridge University Press, 1998).

[6] Guillermo Gonzalez and Jay Richards, The Privileged Planet (Washington, D.C.: Regnery, 2004).

[7] Peter Ward and Donald Brownlee, Rare Earth: Why Complex Life Is Uncommon in the Universe (New York: Springer, 2000).