domingo, 24 de maio de 2020

Seria a graça Irresistível?

O Calvinismo é uma corrente teológica que se denomina cristã, cujos ensinamentos são extraídos de Textos Bíblicos de maneira isolada, removidos de seu contexto, de forma tendenciosa e manipuladora com o propósito de apoiar suas idéias. Este grupo apresenta um Deus diferente do que vemos nas Escrituras de forma geral, em suma, Este Deus age em parceria com o diabo, pois Ele mantém o saldo na condição de salvo e o pedido, perdido.
Existe cinco pilares em que o calvinismo embasa suas doutrinas, conhecido como TULIP. O objetivo deste artigo é analisar apenas um, denominado como “Graça irresistível”. Mas o que seria este ensino, estaria ele em conformidade com as Escrituras? De que modo os calvinistas a apresentam? E a Bíblia como se posiciona acerca da graça irresistível?

O que é a graça irresistível?

O quarto ponto da TULIP é a graça irresistível que altera a seu bel prazer um termo Bíblico que é a graça, pois nas 170 menções que a graça é citada nas Escrituras, jamais ela está acompanhada da palavra irresistível. Este princípio de modificar um termo Bíblico para amparar seus ensinamentos é algo corriqueiro para os calvinistas, que no caso da graça, se é alterado seu conceito para algo arrebatador, onde o homem não possa rejeitar (evidentemente todo homem salvo, foi alcançado pela graça de Deus, mas isto não significa que esta graça não possa ser resistida). O mesmo ocorre com os outros pontos do calvinismo, como o conceito calvinista para a situação do homem, no tocante ao seu estado pecaminoso, denominado de “Depravação total” pelos seguidores de Calvino. Segundo a Bíblia, o homem foi afetado em todas as áreas de sua vida, por meio do pecado, ou seja, ele está corrompido no sentido de não possuir mais a perfeição moral e espiritual, planejado por Deus no princípio da criação, contudo esta corrupção não o torna incapaz de responder ao chamado de Deus, conforme defende o calvinismo.
A graça irresistível está diretamente associada a depravação total, sendo assim ela está construída sob uma falsa premissa. Para facilitar a compreensão do propósito da graça irresistível no sistema calvinista, vejamos o seguinte comentário: “É aqui que vemos o verdadeiro plano da salvação segundo o sistema calvinista. Se os homens são incapazes de crer em Jesus Cristo, contudo Deus elegeu alguns para a salvação e expiou seus pecados, então, o único modo pelo qual eles podem e serão salvos é aguardando em silêncio que Deus supere suas vontades para que eles possam crer no evangelho.” (VANCE, 2017. p. 514).

Portanto o que salva o homem não é o fato de crer em Jesus, mas antes a graça irresistível, o crer é o resultado desta graça, o que obviamente não está em concordância com as Escrituras (Rm 10.9). Neste processo a regeneração precede a fé, pois o eleito é alvo desta graça, que o conduz a Cristo, o que os calvinistas chamam de fé. De maneira precisa certo apologeta comentou sobre a graça irresistível: “A fé se tornou algo que Deus concedeu irrestritamente aos eleitos sem que eles tenham tido conhecimento de que estavam sendo regenerados...A graça irresistível decorre dessa premissa antibíblica, a qual se apegam os calvinistas, apesar do fato de que nosso Senhor chama a todos: Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei (Mt 11.28)” (HUNT, 2015. p. 516).
Logo é correto afirmar que se a graça irresistível fosse uma realidade, seria desnecessário a pregação do evangelho, pois o não-eleito não responderia positivamente a mensagem da cruz, ainda que quisesse, pois Deus não expiou os seus pecados, predestinando-o para a condenação. Seguindo essa linha, podemos afirmar que o chamado de Jesus: Vinde a mim os que estão cansados (Mt 11.28) e quem tem sede venha a mim e beba (Jo 7.37) não passaram de uma encenação, pois os perdidos que não foram eleitos por Deus, logo não receberam irresistivelmente sua graça, jamais poderiam ir até a Cristo.

A Graça irresistível na visão calvinista

O capítulo X da confissão de fé de Westminster, exaustivamente citado pelos calvinistas, para apoiar a graça irresistível traz o seguinte conceito soteriológico:

I – Todos aqueles a quem Deus destinou para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação, em Jesus Cristo. Isso ele faz iluminando o entendimento deles, espiritual e salvificamente, a fim de compreenderem as coisas de Deus, tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua Onipotência, para aquilo que é bom e atraindo a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isto dispostos pela sua graça”.

De acordo com Jonh Piper: “Não pode haver salvação sem a realidade da graça irresistível. Se estamos mortos em nossos pecados, totalmente incapazes de nos submeter a Deus, então nunca creremos em Cristo a menos que Deus vença a nossa rebelião” (HUNT, 2017 apud PIPPER, 1997). Dessa forma o calvinismo defende que ninguém pode resistir a graça salvadora de Deus, que lhe é imposta resistivelmente sobre os eleitos, predestinados para obter a salvação.

Conforme declarou Seaton, Vance traz um interessante conceito acerca da Graça irresistível: “Se os homens são incapazes de salvar a si mesmos devido a sua natureza degenerada, e se Deus se propôs a salvá-los, e Cristo realizou sua salvação, então segue logicamente que Deus deve também propor os meios para chamá-los aos benefícios desta salvação que obteve para eles” (2017, p. 514).

Outro celebre calvinista citado por Vance é Tom Ross, que traz o seguinte conceito sobre a graça irresistível: Se todo o homem é depravado e corrupto, e naturalmente indisposto a vir a Cristo, Deus deve realizar uma poderosa obra interior a fim de mudar a disposição do pecado e levá-lo a um conhecimento salvífico de Jesus Cristo” (2017, p. 514). 

Dessa forma fica perfeitamente claro que o ato de salvar a quem quer procede de Deus, sem que seja necessário o homem responder ao seu chamado, sendo assim é correto afirmar que há uma violação da parte de Deus quanto a vontade humana, o que chamamos de livre-arbítrio.

Segundo o calvinismo a doutrina da graça irresistível é tão importante que sem ela não pode haver salvação, conforme as palavras de Gunn, citado por Vance que disse: “A graça deve ser irresistível se alguém deve ser salvo” (2017, p. 515).

Evidentemente a graça deve ser irresistível pois só afetará os eleitos, logo não há a possibilidade de que o não eleito seja alcançado por ela, segundo a teoria calvinista.

A graça irresistível conforme a Bíblia
O grande problema para um calvinista solucionar nesta doutrina é o fato de que ela está diretamente ligada, conforme o calvinismo, a vontade de Deus, de maneira que se Deus deseja que algo ocorra, necessariamente tem que acontecer. Todavia este pensamento torna-se fraco ao ser confrontado com a Bíblia Sagrada, que nos mostra que há situações em que Deus deseja que algo  aconteça, mas por causa da obstinação do homem, tal vontade não ocorre, como nos casos abaixo:

Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos para sempre. (Deuteronomio 5.29)

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! (Mateus 23.37).

A fala de Jesus no versículo acima citado revela, de modo indubitável, que é possível resistira graça de Deus. Existem outros Textos que corroboram com a idéia de que há situações em que a vontade de Deus não ocorre, vejamos:

O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. (2 Pedro 3.9).

Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. (1 Timóteo 2.4).

Os dois versículos dão um nó na mente de um calvinista, que tenta de todas as formas alterar a compreensão do significado das palavras. No primeiro verso mostra que desejo de Deus é que ninguém se perca, mas que todos se arrependam e alcancem a salvação, daí levanta-se a questão, ninguém irá se perder? Não! Sendo assim a vontade de Deus não ocorreu. 
De igual modo o segundo verso mostra que a vontade de Deus é que todos se salvem, mais uma vez perguntamos: todos irão se salvar? A resposta se repete, NÃO. Logo com base nesses dois Textos vemos quão fraco é a estrutura da graça irresistível ensinada no calvinismo.

As Escrituras nos mostram que há diversas maneiras de rejeitar a graça da parte de Deus:

1º Recusando receber a correção Divina

Ah SENHOR, porventura não atentam os teus olhos para a verdade? Feriste-os, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a correção; endureceram as suas faces mais do que uma rocha; não quiseram voltar. (Jeremias 5.3)

2º Recusando dar ouvidos as palavras de Deus

Este povo maligno, que recusa ouvir as minhas palavras, que caminha segundo a dureza do seu coração, e anda após deuses alheios, para servi-los, e inclinar-se diante deles, será tal como este cinto, que para nada presta. (Jeremias 13.10)

3º Recusando obedecer a Deus

Porém eles e nossos pais se houveram soberbamente, e endureceram a sua cerviz, e não deram ouvidos aos teus mandamentos. (Neemias 9.16)

4º Recusando escolher agradar a Deus

Também vos destinareis à espada, e todos vos encurvareis à matança; porquanto chamei, e não respondestes; falei, e não ouvistes; mas fizestes o que era mau aos meus olhos, e escolhestes aquilo em que não tinha prazer. (Is 65.12)

Fica claro que a graça não é resistível ao analisarmos as Escrituras, Nela vemos Deus chamando o homem, e este recusando-se a responder a este chamado (Pv 1.24; Jr 7.13), inclusive a própria nação de Israel, escolhida por Deus, dentre as demais nações rejeitaram esta graça (Sl 78.41; 81.11). O calvinista não aceita este ensino, mas não há como negligenciá-lo, vemos que é possível rejeitar o conselho de Deus (Pv 1.25), até mesmo no Novo Testamento, vemos que os doutores da lei e os fariseus rejeitaram o conselho de Deus: “Mas os fariseus e os doutores da lei, rejeitaram o conselho de Deus contra si mesmos” (Lc 7.30). Numa certa ocasião, Jesus critica duramente os judeus que rejeitavam sua maravilhosa graça: “E não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.40).

Portanto, concluímos que a graça de Deus é maravilhosa, um ato de amor imerecido da parte de Deus para com o ser humano, todavia é possível rejeitar esta graça, como foi exposto e conforme  nos revela as Escrituras.

Referências

[1] HUNT, Dave. Que amor é este: A falsa representação de Deus no calvinismo. São Paulo. 2015, Editora Reflexão.

[2] VANCE, Laurence. O outro lado do calvinismo. São Paulo. 2017, Editora Reflexão.

Por
Edson Moraes

Como identificar um “Pentecostal clássico”.

Primeiramente, isso significa a consideração de que a uma evidência distinta do crente com o Espírito de Deus, separada da convenção, onde o crente entra em uma nova fase em relação ao Espírito. Os Pentecostais clássicos chamam essa experiência de “ser batizado no Espírito Santo”, [...]. Segundo, como um Pentecostal clássico, creio que esta experiência é acompanhada por uma atividade particular conhecida como “falar em línguas” (com o Espírito conhecendo as palavras para se falar em uma linguagem desconhecida pelo falante); Além disso, afirmo que essas “línguas” podem ser usadas como evidência de que um crente foi batizado no Espírito. Posteriormente, a outros tipos de evidência de ser batizado no Espírito; para permitir isso minha tradição geralmente adotou a frase “evidência física inicial” ressaltando o “valor probatório” do falar em línguas. [...] Essas duas crenças - “separabilidade” e “valor evidencial” do falar em línguas - são os dois principais distintivos do Pentecostalismo clássico.

(Evidência inicial. Gary McGee)

Por Rafael Félix.

Duas Versões do Argumento Cosmológico

Capítulo quatro do livro:Passionate Conviction: Contemporary Discourses on Christian Apologetics, editado por Paul Copan e William Lane Craig  Obs.: “Traduzindo trechos e buscando editoras interessadas na publicação”

por R. Douglas Geivett

Estava cansado, é o que as pessoas sentem quando viajam. Então, encolhidono meu assento na janela, foi um pouco reconfortante saber que o assento do lado estava desocupado. A jovem no corredor parecia favorecer um voo silencioso e sem conversas - outro ponto positivo. Mas no íntimo eu sabia que isso não duraria muito tempo. O avião estava se enchendo e o bom assento vazio do meu lado, sem dúvida, seria ocupado por outro passageiro. Agora eu temia que fosse alguém bem falante, procurando conversar. De fato, uma pequena convicção veio sobre mim de que quem quer que fosse seria definitivamente um extrovertido. O livro que eu tinha comigo seria útil. Eu poderia fingir que estava lendo e não ser interrompido, mesmo que as palavras na página ficassem embaralhadas para meus olhos e mente cansados. Eu também poderia abrir meu laptop em caso de emergência.
Deixei meus objetos prontos para o que estava por vir e espiei por cima do livro. Eu queria monitorar a entrada do avião e ver se conseguia identificar meu companheiro de assento predestinado sem o benefício de evidências indiscutíveis. Tive essa intuição poderosa de esperar algum jovem desenvolto ou talvez um octogenário alegre. Alguns minutos depois, um cara pulou a bordo, cheio de vigor e cordialidade. Ele era a própria exuberância. Esse tinha que ser ele. Eera.
Sem demora enterrei o rosto no livro “salva vidas”. E durante a maior parte da viagem, funcionou. Mas o ato exigia concentração total. O sr. Exuberância estava vigilante, pronto para atacar na menor oportunidade de se envolver em uma conversa. O truque era virar as páginas não lidas emuma taxa natural e evitar cuidadosamente o contato visual. E o plano teria funcionado até o pouso, se não fosse pela gentileza de uma comissária de bordo, que, em completa inocência, me ofereceu água. Quando aceitei esse pequeno presente –posso te garantir, agi de forma mais breve possível - o sr. exuberância se interpôs entre nós e me olhou nos olhos, dizendo: "Ei, o que você está lendo aí?"
Respondi com menos do que admirável concentração: "É um livro".
Para não se deixar levar, ele pressionou: "Do que se trata?"
"É um livro de filosofia." Essa estratégia não teve o efeito habitual.
"Você é um filósofo?"                          
"Sim."
"Realmente!" ele disse, com entusiasmo verdadeiramente exagerado. “Sempre quis conversar com umfilósofo! Tenho muitas perguntas."
Resignado com o meu destino, fiz a pergunta inevitável: “O que você gostaria de conversar?"
Acontece que ele tinha um amigo no trabalho que gostava de debates, principalmente sobre religião e política. Os dois discordavam sobre quase tudo. O sr. Exuberante me disse que um tópico surgia com mais frequência. Ele disse que seu amigo acreditava em Deus; então ele queria saber se eu poderia dar a ele alguma munição que explodisse o argumento a favor da existência de Deus. Eu disse que poderia ajudar, mas precisava fazer algumas perguntas.
"Só se for agora", disse ele (ou algo nesse sentido).
“OK, você diz que seu amigo acredita em Deus; então aparentemente você não. No que você acredita então? "
"Oh, eu acredito em um poder superior", ele respondeu com naturalidade e semhesitação - não é um conceito totalmente claro e distinto.
Então perguntei: "O que você quer dizer com poder superior?"
Por um momento, ele pareceu genuinamente perplexo, como: "Que tipo de filósofo tolo não sabe o que é um poder superior?" Minha expressão impassível deve ter dito a ele que eu realmente esperava uma resposta. Aqui está o que ele disse; lembro das palavras exatas dele. "Um poder superior é ... um poder ... que é ... realmente superior!" Ele abriu os braços para avaliar a magnitude do poder em questão. Devo confessar que essa me pareceu uma resposta bastante superficial, para a qual eu era, possivelmente, muito bem treinado.
Eu tinha uma pergunta ainda: "Por que você acredita em um poder realmente superior?" Nesse ponto, as coisas melhoraram. Ele disse: “Olhe em volta. Tudo isso deve ter sido causado por alguma coisa”.
Olhei pela janela e olhei para a paisagem majestosa, estendida a uns quarenta mil pés abaixo de nós. Eu não poderia discordar. Olhei para ele e disse: "Se você acredita nisso, não sei por que você não acredita em Deus".
Agora estávamos totalmente envolvidos numa conversa. O resto da nossa conversa foi interessante, às vezes até um pouco animada. Mas os detalhes são irrelevantes para os propósitos deste capítulo. O ponto importante é que esse cara, que não acreditava em Deus, tinha acabado de declarar uma versão inferior do argumento cosmológico para a existência de Deus: o universo deve ter uma causa, e essa causa deve ter sido equipada com uma dose de poder.

Tipos de Argumentos Cosmológicos
Todos os argumentos cosmológicos vão do cosmos à existência de Deus, ou criador do cosmos. Mais precisamente, argumentos cosmológicos inferem a existência de Deus pela necessidade de explicar a existência do universo físico.
Esses argumentos começam com a observação do óbvio e pelo menos um grau moderado de curiosidade sobre o óbvio. A observação: existe um universo físico. O que poderia ser mais óbvio? Não esperamos muita discordância sobre isso. Para muitos, porém, a existência do universo físico é tão óbvia que nunca pareceu estranho que exista tal coisa. É simplesmente um dado adquirido. E por que não?Desde que acordem no mesmo mundo todos os dias e as leis familiares da natureza (como a gravidade) continuem funcionando da maneira usual.
Eu posso testemunhar. Mesmo para mim, filósofo de profissão, os problemas práticos da vida podem deixar de lado minha inclinação para a ruminação filosófica. Talvez se eu acordasse em um dos universos paralelos de Robert Heinlein e quisesse pegar carona de volta a este, as coordenadas espaço-temporais deste mundo seriam muito importantes para mim.[1]
Durante um momento de silêncio, você pode se perguntar: "Por que há algo em vez do nada?" Você não precisa ser um profissional treinado para pensar nisso. Você pode fazer isso em casa por conta própria.
Você logo perceberá que essa pergunta é uma extensão de muitos graus de perguntas que muitos de nós contemplamos pelo menos ocasionalmente: “Por que eu existo? Eu poderia não ter existido, mas aqui estou.” Sabemos que não existiríamos se o universo não existisse. Portanto, há uma conexão de interesse entre minha existência e a existência do cosmos.Podemos refletir: “Por que o cosmos existe? Ele poderia não ter existido. Mas aqui está.” Parte da solução do mistério de nossa própria existência é solucionar, se pudermos, o mistério da existência do cosmos, o ambiente físico em que conduzimos nossas vidas eque determina as potencialidades de nossa existência.
Então, o que há no universo físico que precisa ser explicado? Sua existência, é claro. Mas por que? Por duas razões: pelo tipo de coisa que o universo é e por causa da longevidade temporal do universo. Essas duas razões nos dão duas grandes categorias de argumentos cosmológicos. Dentro de cada categoria existem váriasformulações. Existem versões demais do argumento cosmológico para fazer justiça a mais de duas delas aqui. Na minha opinião, elas são "as melhores do tipo".

O Argumento da Contingência para a Existência de Deus
A primeira categoria ampla de argumentos cosmológicos se concentra em uma característica específica do universo: sua contingência. Contingência é um modo de existência: uma entidade é contingente se não for um ser necessário, se não existir necessariamente. Toda entidade realmente existenteé necessária ou contingente. (Todas as "entidades" que poderiam existir, mas não existem, também seriam contingentes se existissem, pois o fato de serem possíveis, mas não reais, garante que não são necessárias.)
Como devemos determinar se uma entidade é contingente ou necessária? Nosso critério é justamente este: se é da natureza de uma coisa existir, então sua existência é necessária e é um ser necessário; caso contrário, é uma entidade contingente, dependendo de sua existência emoutra coisa ou ser. Mas como saber se é da natureza de uma coisa existir? Certamente, se uma coisa começa a existir ou deixa de existir, é uma coisa contingente. Não é da natureza da coisa que ela exista; não é necessária. Pelo contrário, depende de algo mais para sua existência. Se não fosse por alguma causa apropriada, qualquer entidade queé contingente simplesmente não existiria.
Existem três componentes principais em qualquer argumento da contingência para a existência de Deus:
1. Estabeleça a contingência do universo físico.
2. Mostre como a contingência do universo implica a existência de um ser necessário.
3. Mostre que esse ser necessário é Deus.
O argumento que escolhi para representar esse tipo de argumento cosmológico foi desenvolvido no século XVIII.

O Argumento Cosmológico de Samuel Clarke
Samuel Clarke (1675-1729), filósofo inglês e ministro Anglicano, produziu uma versão influente do argumento cosmológico que desfruta da atenção dos filósofos há três séculos. Todos concordam que esse é um argumento da contingência do universo. Mas na formulação que apresento, seguindo de perto a própria linguagem de Clarke, uso os termos dependente e dependentemente, em vez de contingente e contingentemente.[2]
1. Algo deve ter existido desde toda a eternidade.
2. Se algo existe desde toda a eternidade, então sempre existiu um Ser imutável e independente, ou houve uma sucessão infinita de seres mutáveis e dependentes.
3. Sempre existiu um Ser imutável e independente, ou houve uma sucessão infinita de seres mutáveis e dependentes.
4. Uma série interminável de seres dependentes é causada por algo externo a si mesmo ou contém em si a razão de sua própria existência (isto é, é autoexistente).
5. Se uma série interminável de seres dependentes é autoexistente, então pelo menos uma coisa na série deve ser autoexistente.
6. Todo ser dentro de uma série interminável de seres dependentes depende, para sua existência, de algum outro ser da série.
7. Uma série interminável de seres dependentes não pode ser auto-existente. [5, 6]
8. Uma série interminável de seres dependentes deve ser causada por algo externo a si mesmo.
9. A razão externa para a existência de uma série interminável de seres dependentes deve ser um ser dependente ou um ser autoexistente.
10. A razão externa para a existência de uma série interminável de seres dependentes não pode ser um ser dependente.
11. A razão externa para a existência de uma série interminável de seres dependentes deve ser um ser autoexistente.
12. Se existe uma série interminável de seres dependentes, existe um ser autoexistente.
13. Este ser auto-existente deve ter existido desde a eternidade e ser imutável e independente.
Clarke se volta para uma discussão longa e sofisticada sobre a natureza desse ser autoexistente. Não há espaço para fazer isso aqui. Mas quero explicar cada afirmação no argumento e a progressão de uma afirmação para outra.
1.Algo deve ter existido desde toda a eternidade. Samuel Clarke tem um argumento independente para esta afirmação, mas deixo como dever de casa que você verifique isso. A afirmação parece obviamente verdadeira. Mas é preciso notar que o que é inicialmente mais óbvio é que o universo existe. A partir disso, segue-se que algo existe. Apremissa atual é que, se algo existe, então algo - seja ou não a mesma coisa - existe desde a eternidade; algo sempre existiu.
Considere as implicações se essa verdade for negada. O universo existe, mas nem sempre existiu. E também não há mais nada. Então, por que existe um universo que nem sempre existiu? Essa questão leva diretamente a um tipo diferente de argumento para a existência de Deus, a saber, um tipo de argumento da primeira causa. Em outras palavras, se alguém negar a primeirapremissa do argumento cosmológico de Clarke, podemos buscar uma linha de argumento diferente para concluir que Deus existe como a causa do começo do universo. Esse tipo de argumento é desenvolvido mais adiante neste capítulo.
A premissa com a qual começamos não é especialmente controversa. Então, vamos para a próxima premissa.
2. Se algo existe desde toda a eternidade, então sempre existiu um Ser imutável e independente, ou houve uma sucessão infinita de seres mutáveis e dependentes. Apenas dois tipos de coisas podem existir desde a eternidade. O primeiro é um Ser imutável e independente. O segundo é uma sucessão infinita de seres mutáveis e dependentes. Estes não sãomutualmente exclusivos. É possível que ambos os tipos de coisas sempre existiram.[3]
Em sua exposição, Clarke expande os dois tipos de coisas que podem ter existido desde a eternidade. Claramente, o universo não é um Ser imutável e independente. Mas o universo poderia ser uma sucessão infinita de seres mutáveis e dependentes. A imagem aqui é de uma série de seres mutáveis e dependentes que estão relacionados entre si emsucessão (um após outro). Cada ser individual é mutável (por exemplo, passa a ser ou deixa de ser), e cada um depende de algum outro indivíduo na cadeia.
Essa série de seres mutáveis e dependentes pode ter existido desde a eternidade, mas apenas sob uma condição: deve conter infinitamente muitas entidades mutáveis que mantêm relações sucessivas de dependência. Clarke admite que o universo pode ser assim. É possível que o universo físico sempre tenha existido. Mas se existe, existe, como um todo, como uma sucessão infinita de entidades mutáveis e dependentes. Essas entidades, diz ele, seriam "produzidas uma da outra em uma progressão sem fim, sem nenhuma causa original".
Portanto, esse argumento não requer a suposição de que o universo teve um começo.
3. Sempre existiu um Ser imutável e independente, ou houve uma sucessão infinita de seres mutáveis e dependentes. Isso segue diretamente das premissas 1 e 2. Por um princípio lógico chamado modus ponens, se as premissas 1 e 2 forem verdadeiras, a declaração 3 também deverá ser verdadeira. Portanto, nenhum argumento especial é necessário para estabelecer esse ponto.
4. Uma série interminável de seres dependentes é causada por algo externo a si mesmo ou contém em si a razão de sua própria existência. Aqui chegamos a uma premissa que faz uso de um princípio importante, chamado Princípio da Razão Suficiente. Existem várias formulações desse princípio. Clarke sustenta essa premissa, ou seja,qualquer coisa que exista, deve haver uma razão para sua existência. Apenas dois tipos de razões para a existência são possíveis. Algo pode conter a razão de sua existência dentro de si. Em outras palavras, pode ser autoexistente.[4] Se uma entidade não é autoexistente, então a razão de sua existência deve estar fora de si.
Agora estamos considerando o universo como uma série possivelmente interminável de seres dependentes. Como o universo existe, ou ele é auto-existente ou a razão de sua existência está além do universo. Agora devemos considerar se o universo pode ser autoexistente. Se assim for, esse argumento terá entrado em um beco sem saída, onde Deus não pode ser encontrado.
5. Se uma série interminável de seres dependentes é autoexistente, então pelo menos uma coisa na série deve ser autoexistente. Essa afirmação nos diz que o universo é auto-existente, considerando uma série possivelmente interminável de seres dependentes. Pelo menos uma entidade dentro da série teria que ser auto-existente ou necessária. Nenhuma série de coisas dependentes pode ser autoexistente se não tiver partes autoexistentes, mesmo que a série seja interminável - talvez especialmente se a série for interminável.
Suponha que a série seja finita e o universo teve um começo, afinal. Então, talvez a primeira entidade da série seja autoexistente e, portanto, forneça o motivo para o restante da série. Mas, em nossa hipótese, o universo é uma série interminável de coisas (todas elas dependentes, em virtude de progredir uma da outra).
Alguns reclamam que a premissa 5 comete um erro lógico flagrante chamado de falácia da composição. Se vamos formular um argumento decente para a existência de Deus, não será necessário ter uma falácia enterrada em algum lugar nas premissas. A acusação aqui é que não se pode deduzir que todo um conjunto de entidades tenha todas as mesmas propriedades que cada um de seus constituintes.
É verdade que muitas vezes um todo é "maior que a soma de suas partes". Um cubo de açúcar dividido em exatamente quatro partes com exatamente as mesmas proporções pesará mais como um todo do que qualquer uma de suas quatro partes pesa individualmente. Portanto, os pesos dos objetos físicos variam entre partes e todos. Mas isso significa que nenhuma das propriedades das partes do nosso cubo de açúcar será propriedades do cubo de açúcar como um todo? Certamente não. Pois cada parte do cubo de açúcar terá o mesmo sabor que o cubo de açúcar como um todo. Cada uma das partes, assim como o todo, é doce.
A questão que devemos considerar é se a relação parte-todo que consideramos nesse argumento é mais parecida com a diferença entre parte-todo em peso ou mais com a similaridade entre parte-todo em doçura em nosso exemplo do cubo de açúcar. A resposta depende (aqui vem um trocadilho não intencional) de que tipo de propriedade é “ser dependente”. Clarke acreditava que, se todas as partes do nosso universo são dependentes, exigindo uma razão para a sua existência que está fora de si, então o universo como uma série inteira deve ser assim também. Concordo. Se não há uma razão interna para qualquer uma das partes da série existir, como pode haver uma razão interna para que todas existam como um todo?
Conclusão: para que o universo seja autoexistente, ele deve conter em si o motivo de sua própria existência.
6. Todo ser dentro de uma série interminável de seres dependentes depende, para sua existência, de algum outro ser da série. Esta é uma tautologia. É verdade por definição. A frase "uma série interminável de entidades dependentes" significa apenas "uma série em que todas as entidades da série dependem de alguma outra entidade da série". Um oponente a esse argumento tem o direito de rejeitar a definição, mas o universo será um tipo diferente de coisa. Nosso argumento expõe as implicações de pensar sobre a existência do universo da maneira como pensamos sobre ele.
7. Uma série interminável de seres dependentes não pode ser auto-existente. Estasegue diretamente das premissas 5 e 6, novamente, pelo modus ponens: Se P, então Q; P. Portanto, Q. A premissa 6 diz, com efeito, que a série que estamos considerando não inclui nenhum item que seja autoexistente. Dada a afirmação condicional 5, isso significa que a própria série não pode ser autoexistente.
8. Uma série interminável de seres dependentes deve ser causada por algo externo a si mesmo. Isso resulta de outra regra lógica, uma regra que governa a disjunção. Na premissa 4, temos uma disjunção. Ela afirma duas possibilidades conectadas pela palavra ou. Em declarações como essas, “ou” pode ser interpretado de duas maneiras. Se for interpretado como exclusivo, a declaração nos diz que exatamente uma das duas opções é verdadeira; isto é, ou uma é verdadeira ou a outra é verdadeira, mas não ambas. Quando o ou é interpretado no sentido inclusivo, a declaração afirma que pelo menos uma e, possivelmente, cada uma das opçõesé verdade. Nos dois tipos de disjunção, no entanto, se uma opção é descartada, a outra opção deve ser mantida. É isso que está acontecendo aqui. A premissa 4 nos diz que temos duas opções. A premissa 7 exclui uma das opções. A premissa 8 apenas torna explícita a única opção que resta. Nesse caso, uma série interminável de seres dependentes deve ser causada por algo externo a si mesmo. Em outras palavras, a série não pode ser autoexistente.
9. A razão externa para a existência de uma série interminável de seres dependentes deve ser um ser dependente ou um ser autoexistente. Agora temos outro par de opções. Nesse caso, as opções são mutuamente exclusivas. Deve ser uma ou outra. Se pudermos excluir uma, saberemos qual é a correta. A próxima premissa do argumento nos diz qual opção deve ser descartada.
(A propósito, na própria exposição de Clarke do argumento, ele fala da necessidade de uma "causa externa" da série interminável de seres dependentes. Isso ocorre porque buscamos uma razão externa para a existência dessa série [isto é, o universo], e uma razão externa para a existência de tal coisa será de natureza causal. Para maior consistência em apresentar o argumento nas etapas subseqüentes, usei "razão externa" em vez de "causa externa").
10. A razão externa para a existência de uma série interminável de seres dependentes não pode ser um ser dependente. Se é um ser dependente que fornece a razão da existência de uma série interminável de seres dependentes, então esse ser dependente, embora pareça desempenhar um papel especial, ele próprio é pouco mais que parte da série interminável. Em termos causais, esse ser dependente especial será apenas mais um ser causalmente dependente em toda a cadeia de seres dependentes. Não é uma razão externa para a existência da série, se faz parte da série. (A passagem da qual esse argumento cosmológico é derivado está incompleta nestaconjuntura, e eu desenvolvi o ponto da maneira que faz mais sentido no contexto.)
11. A razão externa para a existência de uma série interminável de seres dependentes deve ser um ser autoexistente. Este passo é o resultado da disjunção exclusiva (premissa 9) e a exclusão de uma opção na etapa 10. A única possibilidade é que a razão externa que procuramos seja um ser auto-existente, ou seja, um ser necessário.
12. Se existe uma série interminável de seres dependentes, existe um ser autoexistente. Essa afirmação simplesmente torna explícito o que se segue diretamente da suposição de que existe uma série interminável de seres dependentes e a conclusão, alcançada na etapa 11, de que a razão da existência de uma série dessas deve existir.
13. Este ser auto-existente deve ter existido desde a eternidade e ser imutável e independente. Um ser autoexistente existirá desde a eternidade, porque a razão de sua existência é interna, tornando-a necessária. Ele não pode não existir. Pela mesma razão, será independente em sua existência, não dependerá de mais nada para suaexistência. Quanto à sua imutabilidade, os leitores devem consultar Clarke. Ele se esforça ao seguir este argumento para explicar o que mais pode ser dito sobre esse Ser auto-existente, para que seja apropriado falar dele como Deus.

O Argumento da Primeira Causa para a Existência de Deus
Até agora, examinamos um dos argumentos cosmológicos mais poderosos para a existência de Deus. Chegamos agora a outro ótimo argumento, o argumento cosmológico kalam. Este argumento é uma versão de um argumento da primeira causa para a existência de Deus. Como o argumento da contingência, ele possui um padrão simples de três etapas:
1. Estabeleça que o universo teve um começo.
2. Demonstre que o começo do universo teve uma causa.
3. Mostre que a causa do começo do universo é Deus.
O Argumento Cosmológico Kalam
1. O universo físico existe.
2. A história do universo é uma série de eventos organizados em sucessão temporal.
3. Ou o universo físico teve um começo, ou sempre existiu.
4. Se o universo físico sempre existiu, então a história do universo é uma série de eventos infinitos dispostos em sucessão temporal.
5. A história do universo não pode ser uma série de eventos infinitos dispostos em sucessão temporal.
6. O universo físico nem sempre existiu.
7. O universo físico teve um começo.
8. Se o universo físico teve um começo, então o começo do universo teve uma causa.
9. O começo do universo físico teve uma causa.
10. Se o começo do universo físico teve uma causa, essa causa deve ser ou um evento ou um agente.
11. O começo do universo físico foi causado ou por um evento ou por um agente.
12. A causa do começo do universo físico não poderia ter sido um evento.
13. A causa do começo do universo foi um agente.
Agora, para alguns esclarecimentos sobre cada etapa:
1. O universo físico existe. Este é o nosso já familiar ponto de partida.
2. A história do universo é uma série de eventos dispostos em ordem de sucessãotemporal. Esta premissa torna explícito como os eventos que compõem a história do universo se relacionam. Eles mantêm relações temporais onde ocorrem sucessivamente, um após o outro.
3. Ou o universo físico teve um começo, ou sempre existiu. Esta é uma disjunção exclusiva. É uma premissa não controversa no argumento, uma vez que está em conformidade com a lei lógica do meio excluído (tertium non datur), que tem a forma"P ou não-P", onde P é qualquer proposição que você queira.
4. Se o universo físico sempre existiu, então a história douniverso é uma série de infinitos eventos dispostos em sucessão temporal. Como a história do universo é uma série de eventos dispostos em sucessão temporal, o número de eventos da série deve ser infinito para que o universo não tenha começo.
5. A história do universo não pode ser uma série de eventos infinitos dispostos em sucessão temporal. Essa é a premissa crucial e mais controversa do argumento. Embora conjuntos de objetos infinitos possam não ser impossíveis, parece que os eventos que compõem a história do universo não poderiam ser infinitos em número.Isso ocorre porque eles são organizados em sucessão temporal, onde um evento segue outro.
Selecione qualquer evento da história do universo; chame-o de evento E. Se o universo não teve um começo, muitos eventos infinitos devem ter ocorrido antes do evento E. Mas se muitos eventos infinitos devem ter ocorrido antes que o evento E pudesse ocorrer, e isso levaria uma quantidade infinita de tempo, parece que o evento E nunca poderia ocorrer. Mas ele ocorreu. Como o evento E poderia ser qualquer evento que realmente ocorreu, parece que nenhum evento na história do universo poderia ser precedido por infinitos eventos.
6. O universo físico nem sempre existiu. Isto se segue daspremissas 4 e 5 por um padrão de implicação lógica chamado modus tollens: Se P, então Q; não-Q. Portanto, não-P.
7. O universo físico teve um começo. Isso é equivalente à premissa anterior, declarada aqui desta maneira para uma apresentação conveniente das premissas a seguir.
8. Se o universo físico teve um começo, então o começo douniverso teve uma causa. A lógica para essa premissa é que, para qualquer coisa que começar a existir, ocorre um evento, e todo evento tem uma causa.
9. O começo do universo físico teve uma causa. Isto segue o modus ponens das premissas 7 e 8.
10. Se o começo do universo físico teve uma causa, essa causa deve ser um evento ou um agente. Os eventos com os quais estamos familiarizados são de dois tipos. Muitos eventos são causados por outros eventos. Muitos outros são causados por agentes.
Se uma bola de beisebol atingir um painel de vidro a uma certa velocidade, ela poderá quebrar o vidro. A quebra do vidro é um evento. O que causou o evento? Isso depende das circunstâncias. Suponha que desejemos saber qual foi a causa imediata da quebra do vidro. Se a bola de beisebol foi lançada por uma máquina de arremessar, o movimento de várias partes dentro da máquina faz com que a bola seja lançada. Esse movimento é um evento. Um evento, o movimento dentro da máquina, fez com que a bola fosse lançada, e outro evento ocorreu, a quebra do vidro. Esta é uma instância de causalidade de um evento. Mas o que causou o movimento na máquina? Suponha que alguém tenha pressionado um botão que ativou o mecanismo de arremesso. Agora temos um agente, um ser pessoal com poderes e intenções, causando um evento. Esta é uma instância decausação agente-evento (ou simplesmente, causação do agente).
Como qualquer outro evento, o início do universo deve ser causado por um evento ou por um agente. (Isso, pelo menos, é o que devemos pensar, a menos e até que alguma outra forma de causalidade seja descoberta.)
11. O começo do universo físico foi causado por um evento ou por um agente. Isto se segue do modus ponens das premissas 9 e 10.
12. A causa do começo do universo físico não poderia ter sido um evento. Aqui nós descartamos um tipo de causa para o começo do universo. O motivo é simples. O começo do universo é, na natureza do caso, o primeiro evento na história do universo. Se esse evento fosse causado por um evento anterior, ele não poderia ser o primeiro. Portanto, o início do universo não poderia ter sido causado por um evento. Agora sabemos qual deve ser a causa.
13. A causa do começo do universo foi um agente. Tendo excluído uma das duas maneiras disponíveis pelas quais os eventos podem ser causados, concluímos que a causa do início do universo deve ter sido um agente. Isso significa que a origem do universo foi causada por um ser pessoal, agindo com poderes e intenções adequadas para tal ato.
Este agente é Deus? Como já escrevi em outro lugar, o argumento kalam nos permite inferir que “deve haver algum ser pessoal e atemporal, poderoso e inteligente o suficiente para fazer com que o universo comece a existir. Esse Agente totalmente transcendente presumivelmente agiu por razões ao criar o universo. Mesmo que isso possa ser tudo o que pode ser dito sobre a causa mais provável do começo do universo, já parece ser um bom candidato para evocar a ação de Deus.”[5]
Resumo
Apresentamos dois argumentos cosmológicos influentes para a existência de Deus. O primeiro, desenvolvido por Samuel Clarke, é um argumento da contingência do universo à existência de Deus como um ser necessário e auto-existente. O segundo, conhecido como argumento cosmológico kalam, raciocina a partir do começo do universo até a existência de Deus como a primeira causa do universo.
Conclusão
Existem razões convincentes para concluir que existe um Ser Necessário, Criador e Sustentador do universo, autoexistente que existe de si e por si mesmo.[6] Temos boas razões para acreditar que o universo, o teatro da existência humana, teve um começo e que deve haver uma Primeira Causa a quem o universo e nós devemos nossa existência. Este é o Deus de Abraão, Isaque, Jacó e Jesus? Pode ser. Um argumento com uma conclusão tão fantástica levaria dezenas de etapas. Mas, independentemente de onde mais argumentos levem, um Ser Necessário, a Primeira Causa de tudo o que sabemos existir, é um candidato plausível ao Deus do teísmo Cristão.[7] Se existe apenas um Ser Necessário e ocorre que o Deus da fé bíblica existe, então eles devem ser o mesmo. Se existe uma Primeira Causa do universo físico, entre os Cristãos, ele se chama Yahweh, ou Jeová; Ele é o Deus único e soberano que se revelou mais plenamente nas Escrituras e em Jesus Cristo. Essa possibilidade vale mais do que um momento de reflexão casual.
Se o Ser sobre o qual convergem nossos argumentos cosmológicos não é o Maior Ser Concebível, certamente o maior ser que realmente existe. Como tal, Ele é o inimigo do naturalismo. Nosso universo é assombrado por uma presença que não pode ser convenientemente contida pelas delicadas teorias dos naturalistas científicos e filosóficos. Mas isso não é tudo. Este maior de todos os seres existentes é, para todos os efeitos, um deus; de fato, é o único deus que existe, digno de uma letra maiúscula. Somos informados de que existe um Deus com quem temos uma relação. Ignoramos esse Deus por nossa conta e risco, pois esse Deusé o nosso Deus (ver Atos 17: 16–31). E não prestamos honras a Deus com abstrações reconfortantes sobre alguma "força de energia espiritual" amorfa e remota ou o denominador comum "Religiosamente Real" de todas as religiões do mundo. E devemos conhecer melhor do que nos referir a esse Deus com apelidos eficientes como "um poder superior" (com ou sem letras maiúsculas).
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Fonte:
GEIVETT, R. Douglas. Two Versions of the Cosmological Argumentin COPAN, Paul; CRAIG, William Lane (General Editors). Passionate Conviction: Contemporary Discourses on Christian Apologetics. Nashville, Tennessee: B&H ACADEMIC, 2007.
Tradução Walson Sales.
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Notas:
[1]Veja, porexemplo, Robert Heinlein, Job: A Comedy of Justice (New York: Del Ray, 1985) e tambémsuaobraThe Number of the Beast (New York: Ballantine, 1980) ou Isaac Asimov, The Gods Themselves (West Sussex, England: Gollanz, 2000).
[2] A breve exposição de Clarke desse argumento aparece em A Discourse Concerning Natural Religion (1705).Foiconvenientementeextraído sob o título“Samuel Clarke: The Argument from Contingency,” in Louis P. Pojman, ed., Philosophy of Religion: An Anthology, 4th ed. (Belmont, Calif.: Wadsworth, 2003).
[3] Clarke usa a letra maiúscula B para um Ser imutável e independente, devido ao tipo superior de existência que possui em comparação com seres mutáveis e dependentes.
[4] A escolha dos termos por Clarke aqui é deliberada. Não devemos confundir um ser autoexistente com um ser autocausado. Um ser autoexistente, embora contenha em si um motivo para sua própria existência, não pode ser causado a existir por si mesmo. Para Clarke, um ser autoexistente é um ser necessário. Tal ser não pode não existir. Portanto, ele não terá sido causado a existir. Mas podemos entender por que existe, se entendermos que é um ser necessário que não pode, dada a sua natureza, não existir. É isso que significa para um ser conter a razão de sua existência dentro de si.
[5] R. Douglas Geivett, “The Kalam Cosmological Argument,” in To Everyone an Answer: A Case for the Christian Worldview, ed. Francis J. Beckwith, William Lane Craig, and J. P. Moreland (Downers Grove, Ill.: InterVarsity, 2004), 74.Para uma exposição e defesa mais detalhadas do argumento kalam, consulte o restante desse capítulo. Kalam é um termo árabe que significa "palavra / fala", mas passou a significar "teologia natural"; é o argumento clássico usado por muçulmanos e alguns Cristãos na Idade Média para defender a existência de Deus com base na finitude do passado.
[6]VejaDallas Willard, “The Three-Stage Argument for the Existence of God,” in Contemporary Perspectives on Religious Epistemology, ed. R. Douglas Geivett and Brendan Sweetman (New York: Oxford University Press, 1993), 215.
7 Para detalhes sobre como um argumento cumulativo pode ser feito para o teísmo Cristão, veja meu capítulo “David Hume and a Cumulative Case Argument,” in In Defense of Natural Theology: A Post-Humean Assessment, ed. James F. Sennett and Douglas Groothuis (Downers Grove,Ill.: Inter-Varsity, 2005), 297-329.