quinta-feira, 26 de março de 2020

AS TRÊS PARTES DA MORAL

Conta-se a história de um garoto a quem perguntaram como achava que Deus era. O garoto respondeu que, pelo que era capaz de compreender, Deus era "o tipo de pessoa que está sempre xeretando a vida dos outros para ver se alguém está se divertindo e tentai' acabar com isso". Infelizmente, parece-me que é essa a idéia que um número considerável de pessoas faz da palavra "Moral": algo que se intromete em nossa vida e nos impede de ter momentos agradáveis. Na realidade, as regras morais são como que instruções de uso da máquina chamada Homem. Toda regra moral existe para prevenir o colapso, a sobrecarga ou uma falha de funcionamento da máquina. E por isso que essas regras, no começo, parecem estar em constante conflito com nossas inclinações naturais. Quando estamos aprendendo a usar qualquer mecanismo, o instrutor vive dizendo "Não, não faça isso", porque existem diversas coisas que, embora pareçam muito naturais e até acertadas na forma de lidar com a máquina, na verdade não funcionam.

Certas pessoas preferem falar de "ideais" morais em vez de regras morais, e de "idealismo" moral em vez de obediência. Ora, é certo que a perfeição moral é um "ideal", na medida em que é inalcançável. Nesse sentido, toda perfeição é, para nós, seres humanos, um ideal. Não conseguimos dirigir perfeitamente um automóvel, jogar tênis perfeitamente ou desenhar uma linha perfeitamente reta. Num outro sentido, porém, é enganador dizer que a perfeição moral é um ideal. Quando um homem diz que certa mulher, casa, barco ou jardim é "seu ideal", não pretende (a menos que seja um tolo) que todos tenham o mesmo ideal. Nesses assuntos, temos o direito de ter gostos diferentes e, conseqüentemente, ideais diferentes. E perigoso, porém, dizer que um homem que se esforça para seguir a lei moral seja um homem de "altos ideais", pois isso pode nos dar a impressão de que a perfeição moral é um mero gosto pessoal dele e que o restante dos homens não teria o dever de procurar realizá-la. Esse erro seria desastroso. A conduta perfeita talvez seja tão inalcançável quanto a perfeita perícia ao volante, mas é um ideal necessário prescrito a todos os homens por causa da própria natureza da máquina humana, da mesma forma que a pilotagem perfeita é prescrita a todos os motoristas pela própria natureza dos automóveis. E seria ainda mais perigoso se você se considerasse uma pessoa de "altos ideais" só porque tenta não mentir (em vez de só contar mentirinhas ocasionais), não cometer adultério (em vez de só cometê-lo de vez em quando) e não ser violento com os outros (em vez de ser só um pouquinho violento). Você correria o risco de transformar-se num moralista hipócrita, considerando-se uma pessoa especial a ser felicitada por seu "idealismo". Na verdade, isso seria o mesmo que se julgar especial por esforçar-se para acertar o resultado de uma soma. É claro que a aritmética perfeita é um "ideal", pois certamente cometeremos erros em algumas contas. Porém, não há nada de especialmente louvável em tentar obter o resultado correto de cada passo de uma soma. Seria pura estupidez não fazer essa tentativa, pois cada erro de cálculo vai lhe causar problemas para obter o resultado final. Da mesma forma, toda falha moral causará problemas, provavelmente para os outros, certamente para você. Ao falar de regras e obediência em vez de "ideais" e "idealismo", colaboramos muito para nos lembrar desse fato.

Vamos dar um passo além. Existem duas maneiras pelas quais a máquina humana pode quebrar. Uma delas é quando os indivíduos humanos se afastam uns dos outros ou colidem uns com os outros e prejudicam uns aos outros, traindo ou cometendo violência uns com os outros. A outra é quando as coisas vão mal dentro do próprio indivíduo — quando as diferentes partes que o compõem (suas faculdades, desejos etc.) dissociam-se ou conflitam umas com as outras. Pode-se fazer uma imagem clara do que estou falando se imaginarmos os seres humanos como uma frota de navios que navega em formação. A viagem só será bem-sucedida se, em primeiro lugar, os navios não se chocarem entre si e não entrarem uns no caminho dos outros; e, em segundo lugar, se cada navio estiver em boas condições de navegação, com suas máquinas em ordem. Aliás, não dá para ter uma das coisas sem a outra. Se os navios se chocarem, a frota não ficará em boas condições por muito tempo. Por outro lado, se os lemes estiverem com defeito, será difícil evitar as colisões. Se você preferir, pense na humanidade como uma orquestra que toca uma música. Para se ter um bom resultado, duas coisas são necessárias: cada um dos instrumentos deve estar afinado e cada músico deve tocar no momento certo para que os instrumentos combinem entre si.

Há uma coisa, porém, que ainda não levamos em conta. Não nos perguntamos qual o destino da frota, ou qual a música que a banda pretende tocar. Mesmo que os instrumentos estivessem todos afinados e todos tocassem no tempo correto, a execução não seria um sucesso se os músicos, tendo sido contratados para tocar música dançante, tocassem somente marchas fúnebres. E, por melhor que fosse a navegação da frota, a viagem não seria um sucesso se, querendo chegar a Nova York, aportasse em Calcutá.

A moral, então, parece englobar três fatores. O primeiro é a conduta leal e a harmonia entre os indivíduos. O segundo pode ser chamado de organização ou harmonização das coisas dentro de cada indivíduo. O terceiro é o objetivo geral da vida humana como um todo: qual a razão de ser do homem, qual o destino da frota de navios,qual música o maestro quer que a banda toque.

Você já deve ter notado que o homem moderno quase sempre pensa no primeiro desses fatores, esquecendo os outros dois. Quando as pessoas dizem nos jornais que estamos buscando um padrão moral cristão, quase  sempre pensam na bondade e na justiça entre nações, classes e indivíduos; ou seja, referem-se apenas ao primeiro fator. Quando um homem, falando de um projeto seu, diz que ele "não pode estar errado, pois não fará mal a ninguém", também está se referindo somente ao primeiro fator. No seu modo de pensar, não importa como o navio está por dentro, desde que não colida com a embarcação ao lado. E, quando começamos a pensar sobre a moral, é muito natural partirmos do primeiro fator, que são as relações sociais. Para começar, os resultados de uma moralidade deturpada nesta esfera são muito evidentes e nos afetam todos os dias: a guerra e a miséria, as jornadas desumanas de trabalho, as mentiras e todos os tipos de trabalho malfeito. Além disso, enquanto ficamos circunscritos a esse primeiro fator, não há muito o que discutir sobre moralidade. Quase todos os povos de todos os tempos chegaram à conclusão (em tese) de que os seres humanos devem ser honestos, gentis e solícitos uns com os outros. Contudo, embora seja natural começar por aí, um pensamento moral que ficasse restrito a isso seria o mesmo que nada. Se não passarmos ao segundo fator - a organização interna de cada ser humano -, estaremos apenas nos enganando. De que vale dar instruções precisas de navegação aos barcos se eles não passam de embarcações velhas e enferrujadas, que não obedecem aos comandos? De que vale pôr no papel regras de conduta social se sabemos que, na verdade, nossa cobiça, covardia, destempero e vaidade vão nos impedir de cumpri-las? Não quero de maneira alguma dizer que não devemos pensar, e nos esforçar, para melhorar nosso sistema social e econômico. Quero apenas salientar que todo esse planejamento não passará de conversa fiada  se não nos dermos conta de que só a coragem e o altruísmo dos indivíduos poderá fazer com que o sistema funcione de maneira apropriada. Seria fácil eliminar os tipos particulares de fraude e tirania que subsistem em nosso sistema atual; mas, enquanto os homens forem os mesmos trapaceiros e manda-chuvas de sempre, encontrarão novas formas de seguir jogando o mesmo jogo, mesmo num novo sistema. É impossível tornar o homem bom pela força da lei; e, sem homens bons, não pode haver uma boa sociedade. É por isso que temos de começar a pensar no segundo fator: a moral dentro de cada indivíduo.
Mas não penso que isso seja suficiente. Estamos chegando a um ponto da questão em que diferentes crenças a respeito do universo produzem formas diferentes de conduta. A primeira vista, pode parecer bastante razoável parar antes de entrar nessa questão, e só nos ocuparmos das partes da moral que são de consenso entre as pessoas sensatas. Mas podemos nos dar a esse luxo? Lembre-se de que a religião envolve uma série de juízos sobre os fatos, juízos que podem ser verdadeiros ou falsos. Caso sejam verdadeiros, as conclusões deles tiradas conduzem a frota da raça humana por um determinado trajeto; caso contrário, o destino será completamente diferente.

Voltemos, por exemplo, à pessoa que diz que uma coisa não pode estar errada se não faz mal a outros seres humanos. Essa pessoa sabe muito bem que não deve danificar os outros navios do comboio; porém, pensa sinceramente que tudo o que fizer em seu próprio navio é da sua própria conta. Mas, para isso, não importa saber se o navio é de sua propriedade ou não? Não importa saber se eu sou, por assim dizer, o senhorio do meu próprio corpo, ou se sou somente o seu inquilino, responsável perante o verdadeiro proprietário? Se fui feito por outra pessoa, por alguém que tem os seus próprios desígnios, o fato é que tenho uma série de obrigações em relação a essa pessoa, obrigações que não existiriam se eu simplesmente pertencesse a mim mesmo. Além disso, o cristianismo assevera que todo indivíduo humano viverá eternamente, o que pode ser verdadeiro ou falso. Há várias coisas com as quais eu não me preocuparia se fosse viver apenas setenta anos, mas que me preocupam seriamente com a perspectiva da vida eterna. Talvez minha irritabilidade ou meu ciúme fiquem piores com o tempo - de forma tão gradual que a mudança seja imperceptível ao longo de sete décadas. No entanto, eles serão um verdadeiro inferno em um milhão de anos: aliás, se o cristianismo é verídico, "inferno" é o termo técnico exato para designar como as coisas serão então. A imortalidade também traz à tona outra diferença que, inclusive, está ligada à diferença entre totalitarismo e democracia. Se um homem não vive mais que setenta anos, um estado, uma nação ou uma civilização que pode durar mil anos são mais importantes do que ele. Porém, se o cristianismo é verdadeiro, o indivíduo não é apenas mais importante, mas incomparavelmente mais importante, pois sua vida não tem fim; comparada à sua vida, a duração de um estado ou civilização não passa de um simples instante.

Parece-nos, portanto, que, para pensar a respeito da moral, temos de levar em conta os três departamentos: as relações entre os homens; as coisas que se passam no interior de cada ser humano; e as relações entre o homem e o poder que o criou. Podemos todos cooperar no primeiro. Os desacordos começam com o segundo e se tornam mais sérios no terceiro. É no trato com o último que se evidenciam as principais diferenças entre cristãos e não-cristãos. No restante deste livro, assumirei o ponto de vista cristão e examinarei todo o cenário partindo do pressuposto da veracidade do cristianismo.

Extraído do Livro "Cristianismo Puro e Simples" de C. S. Lewis. p 29 a 31.

Enviado por Sandro Nascimento.

Vozes Silenciadas pelo Martírio

Blandina: dedicada escrava que foi uma fiel serva de Deus

Se um cristão moderno desejasse realmente saber o que os seus antepassados sofreram pela fé durante os três séculos de perseguição, não o poderiam satisfazer com uma visita às catacumbas, como temos  nos empenhado em fazer, a fim de conhecer a espécie de vida que eles foram compelidos a viver. Aconselhá- lo-íamos, contudo, a ler aqueles registros imperecíveis, Acts of The martyrs ( Ata dos mártires), que lhe mostrariam como eles foram mortos. Não conhecemos, depois da inspirada palavra de Deus, um escrito tão comovente, tão terno, tão consolador, e que ministre tanta força à fé e à esperança.
Wiseman, citado por O' Reilly, A.J. Os mártires do Coliseu, p.9.


A atitude dos nossos irmãos antepassados diante dos suplícios era serena, e suas respostas no tribunal era a mesma:"Eu sou cristão".  Para eles, ser cristão dizia tudo: seu nome , sua cidadania, seu parentesco, sua vocação. O cristão é cidadão dos céus, filho de Deus, sua família é a família da fé e tem como principal vocação servir ao Reino.
Os mártires consideravam o dia da sua passagem à mansão eterna como o dia do seu nascimento: " só à luz da esperança se compreende de maneira completa a alegria com que os mártires se dirigem aos tormentos que lhe dariam a morte"

Durante muitos  anos, o Império Romano moveu perseguição contra os cristãos. Os diversos tipos de castigos e crueldade dos algozes causaram a morte de muitos inocentes.
Contudo, Tertuliano afirmou  que o sangue dos mártires era a semente dos cristãos e realmente quanto maior era a perseguição, mais crescia o Cristianismo.

• A perseguição sob o governo de Marco Aurélio

Marco Aurélio era estoico e foi um espírito culto que se diferenciou dos seus antecessores. Casou com a filha de Antônio Pio e o sucedeu como Imperador. Gostava do estudo e da escrita, sua obra Meditações tornou-se importante em sua época.
Mesmo sendo um imperador diferente dos outros, foi igual ou pior em relação a perseguição. Ele louvava o uso da razão, mas era superticioso, cada passo era direcionado por seus advinhos, e os sacerdotes ofereciam sacrifícios por seus bons êxitos. Seu governo foi repleto de calamidades: inundações, epidemias, invasões - e tudo isso foi considerado culpa dos cristãos.
Seguem-se alguns relatos de mártires contemporâneos ao governo de Marco Aurélio, que deram belos testemunhos de sua fé, quando foram presos e executados. As mulheres arrumavam-se para enfrentar a morte e criam que aquele dia seria o mais feliz de suas vidas, pois não seria o final, mas sim o início da vida eterna. Essas cristãs foram portadoras de uma grande fé em um Salvador que ressuscitou e está à direita de Deus nos céus, recepcionando os seus  e dando paz e alegria na hora da morte.

Blandina - cheia da força de Deus, respondeu : - Sou cristã, e entre nós não se prática mal algum. Os verdugos chegaram a revezar-se para arrancar-lhe qualquer confissão, mas foi tudo em vão. E os cristãos admirados com tão grande força da alma de uma menina e com tanta grandeza moral numa simples serva, reconheceram nela a porta- voz do próprio mestre  Jesus" para quem é de grande honra aquilo que os homens tem como desprezível e que leva mais em conta o poder do amor do que as vãs aparências"

Por ocasião de uma festa que coincidiu com uma feira popular, quando se formou um grande ajuntamento, a população excitada pela expectativa dos jogos deteve alguns cristãos, maltratou -os e denunciou- os as autoridades que, cedendo a pressão da multidão, iniciaram o processo. Então foram presos alguns  notáveis cristãos, acusados de crimes imaginários, e seus servos foram presos e torturados para que confirmassem a acusação de canibalismo. Mesmo parecendo algo ridículo, não é difícil entender a razão dos boatos. Os cristãos não revelavam os detalhes da celebração da Santa Ceia do Senhor aos não batizados. Mas seus servos ou vizinhos podiam ouvir algo sobre comer a carne de Cristo e beber seu sangue. E o fato de ter que  dar informações sob tortura, não seria difícil transmitir informações equivocadas.
Houve uma época de violenta perseguição, segundo Irineu, quando seus criados  foram  presos e torturados para que revelassem algum segredo se suas práticas.

Esses escravos não tinham nada a dizer que agradasse os seus algozes, exceto o que tinham ouvido dos seus mestres  que a comunhão divina era o corpo e sangue de Cristo, e imaginando que eram, ao pé da letra,  o corpo e sangue, deram essa informação aos seus inquisidores.
Diante disso, a fúria do governador e da multidão, recaíram sobre o diácono Santos de Viena; Maturo, recém- batizado,; sobre Atalo de Pérgamo  e sobre Blandina, uma jovem escrava, os quais forçaram a confessar os supostos crimes cristãos. a senhora de Blandina, também aprisionada, temia por ela, considerando -a fraca de corpo e de espírito. Mas, pelo contrário, ela se mostrou muito forte e quando foi interrogada, confirmou que era cristã e que não sabia de nenhum  ato errado praticados por seus irmãos na fé.

Sem obter nenhuma informação da própria Blandina, conduziram às feras.
Blandina foi pendurada num madeiro e ficou exposta às feras, que se lançavam sobre ela. A visão dela animava os outros mártires que  enxergavam, por seu intermédio, aquele que por eles havia sido crucificado. Como as feras não a tocaram, ela foi retirada e levada ao cárcere, sendo guardada para um outro combate.

Marco Aurélio dispora  em seu edito que os que renegassem a fé cristã seria absorvido. Aos cidadãos romanos que não renegavam a fé mandavam decapitar, os demais foram  mandados as feras.
No último dia de luta dos gladiadores, levaram novamente Blandina juntamente com Pôntico, um rapaz de 15 anos. Obrigados a jurar pelos ídolos, permaneceram firmes na fé e até menosprezaram. Foram então entregues a todo tipo de torturas, para renegarem a fé , mas não o fizeram. A jovem confortava o rapaz que, depois de sofrer muitos tormentos, foi o primeiro a morrer.
Como se fosse convidada a  um banquete de bodas e não lançada as feras, Blandina resistia mesmo depois de açoites,feras e chamas; por último, foi atacada por um touro que a lançou para o alto e assim ela morreu.

Livro: Vozes Femininas no Início do Cristianismo / Rute Salviano Almeida.

Via Fabiana Ribeiro.

quarta-feira, 25 de março de 2020

SINAIS DOS ÚLTIMOS DIAS – (PESTILÊNCIAS)

Hoje não se fala em nenhuma outra coisa no Brasil e no mundo que não seja o “coronavírus”.  Alguns jornais e sites já chegaram a publicar em 18/03/2020 que no Brasil já existem cerca de 428 casos confirmados do novo coronavírus, dados esses fornecidos pelo Ministério da Saúde.  Além dessas informações, o balanço federal já registrou quatro mortes por causa do Covid-19.  Diversas outras epidemias do século XXI dizimaram milhares de pessoas em diversos países e continentes, por exemplo:

O Ebola na África Ocidental (2013-2016), deixando um saldo de 11.300 mortos;
A Gripe A (H1N1) (2009-2010), deixando um Saldo de 18.500 mortos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).  Entretanto a revista médica Lancet estima o número de mortes entre 151.700 e 575.400;
Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) (2002-2003) deixando um saldo de 774 mortos;
A Gripe Aviária (2003-2004) deixando um saldo de 400 mortos.

Agora em 2020 o mundo está em choque por causa dessa pandemia comumente chamada de “coronavírus”. Seria o “coronavírus” um sinal do fim dos tempos? Sim, claro que sim.  Essa epidemia ou como está sendo chamada “pandemia”, encaixa-se dentro do termo “pestilências” citado por Jesus em (Lc 21.11 e Mt 24.7).

O texto a seguir, é de extrema importância para os estudiosos da Palavra de Deus.  Embora ele não seja tão atual e não cite as últimas epidemias do século XXI, algumas delas já citadas resumidamente acima por mim, acredito que a leitura do mesmo é de grande relevância para todos aqueles que gostam de estudar os sinais do tempo do fim.

“Haverá... pestilências em vários lugares...” Lc 21.11; Mt 24.7

Desde os mais remotos tempos, existem doenças infectocontagiosas que se apresentam de forma endêmica e epidêmica.  Dizemos que uma doença infectocontagiosa é endêmica numa determinada região se há uma prevalência dessa doença nessa região mais ou menos constante ao longo do tempo.  Se o número de novos casos dessa doença aumentar na determinada região em um intervalo de tempo específico, ou surgirem casos onde não havia ocorrência da doença, teremos o que se denomina epidemia.

Os dois conceitos são relativos para uma determinada região num determinado intervalo de tempo.  Portanto, se tivermos apenas três casos de uma doença, como a poliomielite por exemplo, em uma região onde não se registrava nenhum caso há muito tempo, estaremos diante de uma epidemia dessa doença.  Por outro lado, se registrarmos 500.000 novos casos de malária em um ano, em uma determinada região onde esse tem sido, aproximadamente, o número de casos ocorridos todos os anos, diremos que a malária é endêmica nessa região, mas que não houve uma epidemia dessa doença no referido ano.

Em toda a história da humanidade, as doenças infectocontagiosas sempre existiram e se fizeram presentes nas comunidades urbanas e rurais.  Doenças como caxumba, coqueluche, cólera, difteria, febre amarela, hepatite, influenza, malária, peste (bubônica e pneumônica), poliomielite, rubéola, sarampo, tifo, tracoma, tuberculose, varicela, varíola e outras mais raras se apresentavam ao longo dos séculos em epidemias ora mais, ora menos agressivas.  Contribuía para isso, a falta de saneamento básico e o estado imunológico das populações. Como a capacidade imunológica das pessoas sofre influência das condições de vida, fundamentalmente a qualidade da alimentação diária, observamos uma íntima relação entre fome e epidemias ao longo da história.

Outro fator muito importante para a propagação das epidemias eram as guerras, principalmente as guerras de invasão, pois os exércitos levavam consigo agentes infecciosos de uma região para outra disseminando-os.  Por outro lado, a partir do declínio do Império Romano e por mais de mil anos, a insegurança forçava a construção de castelos fechados no campo, e as cidades ficavam cada vez mais compactas para facilitar a defesa. Isso aumentava muito a probabilidade de disseminação de um agente infeccioso na comunidade devido à proximidade entre os portadores do agente e os indivíduos sãos. Tudo isso se agravava sob as condições adversas do inverno em latitudes mais elevadas, onde, pela ausência de meios eficazes de combater o frio, as pessoas tendiam a ficar mais próximas umas das outras.

Esta profecia também se referia a algo distante da realidade vivida pelos discípulos e seus contemporâneos porque, apesar da existência das doenças endêmicas tradicionais como, por exemplo, a lepra, não havia o registro de uma grande epidemia na Palestina há mais de meio século.  Milhares de vezes, em muitos lugares, o número de pessoas que adoeceu por moléstias infectocontagiosas aumentou progressivamente caracterizando as epidemias e, muitas vezes, esse aumento foi tão intenso que acabou determinando as grandes epidemias.

Quando uma grande epidemia se alastrava em uma extensão geográfica que incluía várias nações em várias partes do mundo, tínhamos o que se denomina pandemia.  Para este fenômeno, a contribuição dos longos períodos de fome foi importante. As três pandemias mais importantes dos últimos dois milênios da história da humanidade ocorreram nos séculos VI, XIV e XX.

Desde a época da geração seguinte a de Jesus, vieram ocorrendo inúmeras epidemias que dizimavam dezenas, e às vezes, centenas de milhares de pessoas ao longo dos séculos até que, em 542, mais de cinco séculos após o Sermão Profético, ocorreu uma das mais importantes pandemias da história.  Conhecida como a "Peste de Justiniano", foi de extrema virulência (capacidade do germe de causar doença) e alto índice de mortalidade, e se alastrou por todo o Mediterrâneo, pela Gália e pela Germânia.  Só na cidade de Constantinopla, atual Istambul, morreram aproximadamente 230 mil dos 400 mil habitantes em apenas quatro meses.  O quadro clínico apresentava-se com febre e prostração seguidas pela inflamação dos gânglios linfáticos (bubões ou ínguas nas virilhas, axilas, coxas e próximo das orelhas) que, quando drenados, revelavam um odor fétido. Na evolução surgiam as pústulas negras pelo corpo e a febre se intensificava levando ao coma e à morte.

Cinco anos mais tarde, uma misteriosa epidemia nas ilhas britânicas dizimou dois terços de toda a população, inclusive o seu rei.  Ficou conhecida com a “Praga Amarela”, pela cor da pele das vítimas, no século seguinte, as ilhas britânicas sofreriam mais uma grande epidemia de Praga Amarela e outras três de peste.  Este fato teve influência determinante na história da Inglaterra.

Inúmeras epidemias se sucederam ao longo dos séculos seguintes até que, no século XIV, ocorreu a mais terrível pandemia da história.  Foi a maior de todos os tempos em índice de mortalidade.  Começando na Ásia, em 1347, e se alastrando para a Europa pelos portos do Mar Negro e do Mediterrâneo, a “Peste Negra” ou “Morte Negra”, como ficou conhecida devido à alta incidência de hemorragias, era transportada por pulgas de ratos dos portos e porões dos navios.  A doença se apresentava de duas formas: a peste bubônica (reconhecida pela inflamação dos gânglios linfáticos) e a peste pneumônica que levava à hemorragia pulmonar fulminante, fazendo as vítimas se sufocarem no próprio sangue.

O desespero que a peste produziu levava as pessoas a se manterem trancadas em suas casas ou cabanas vivendo reclusas com medo de se infectarem.  Não se sabia qual era a causa, nem como ocorria a contaminação.  Famílias, devido ao pânico, rejeitavam seus doentes e os mortos eram enterrados em valas comuns ou deixados nas ruas, a agricultura ficou paralisada e o gado, abandonado no campo.

Em 1349, surgiram os “Irmãos Flagelantes”, homens encapuzados que usavam mantos brancos com uma cruz vermelha estampada na frente e outra nas costas, que peregrinavam de cidade em cidade realizando rituais públicos de autoflagelação.  Por acreditarem que a peste era uma punição pelo pecado, açoitavam-se com chicotes com pregos para que o sangue jorrasse da pele, demonstrando assim o “arrependimento da humanidade”.

A pandemia matou mais pobres do que ricos e mais a população urbana do que a rural.  A taxa de mortalidade era extremamente elevada.  Estima-se que a Peste Negra tenha feito 23 milhões de vítimas na Ásia e 25 milhões, na Europa.  Dizimou um quarto da humanidade, segundo alguns pesquisadores, e um terço, segundo outros.  A Espanha, por exemplo, perdeu metade de sua população. A pandemia provocou um grande atraso no desenvolvimento dos países e contribuiu para uma maior tendência ao fanatismo, ao misticismo e à superstição.

A Peste Negra apresentou recorrências a cada 10 ou 15 anos durante meio século e, depois, voltou a causar muitas outras epidemias nos séculos seguintes, mas em proporções menores e em limitadas extensões geográficas.  No final do século XV, surgia uma nova doença na Europa.  Conhecida como a "Peste Francesa", a sífilis se alastrou depois que o exército de Carlos VIII da França sitiou Nápoles em 1494.  Acreditavam que era um castigo pela promiscuidade sexual, pois as primeiras manifestações da doença se apresentavam como chagas nas “vergonhas”. Como não havia tratamento eficaz, a doença evoluía levando muitos a sequelas graves e à morte.

Ao longo dos séculos, continuaram a ocorrer grandes epidemias de malária, febre amarela, varíola, tifo, coqueluche, gripe, difteria, sarampo, poliomielite e peste.  Essas epidemias se revezavam quanto à época e à região acometida. Assim, durante a “Guerra dos Trinta Anos”, por volta de 1630, ocorreu, entre outras, uma nova epidemia de peste bubônica que causou a morte de aproximadamente um milhão de pessoas no Norte da Itália e Sul da França.

Em 1830, chegou à cólera, uma doença desconhecida pelos europeus até 1817.  Vindo da Ásia, onde doença era endêmica há séculos, o cólera dizimava as populações, principalmente urbanas, e tinha preferência pelos mais pobres.  A aparência das vítimas era assustadora pois, em poucos dias, a diarreia profusa levavam-nas a uma desidratação tão intensa que pareciam esqueletos recobertos de pele.  A mortalidade era muito alta pois não havia como compensar a grande perda de líquidos pelo organismo.

As epidemias continuaram a se suceder até que, em 1918 e 1919, ocorreu outra terrível pandemia, a “Gripe Espanhola”.  Foi a maior pandemia da história em número de pessoas acometidas.  Estimativas referem cerca de um bilhão de doentes. A estimativa de mortos é bem imprecisa, variando entre 20 e 40 milhões em todo mundo. Agravada pelas condições do fim da Primeira Guerra Mundial, a pandemia matou mais do que a própria guerra.  O mundo viveu um período de pânico generalizado, pois as pessoas podiam acordar pela manhã com um aspecto saudável e estarem mortas à noite. A evolução do quadro clínico era dramaticamente fulminante. Milhares de pacientes que sobreviveram ficaram com sequelas neurológicas graves.

Em 1920, houve uma grande epidemia de tifo na Rússia e, somente nesse ano, morreram 3,5 milhões de pessoas. Desde então, as epidemias continuaram a se repetir, sendo progressivamente menos intensas e se restringindo cada vez mais aos países sub desenvolvidos, onde as medidas de prevenção e contenção das epidemias não evoluíram como nos países desenvolvidos.  A medicina, no século XX, conseguiu grandes vitórias no que se refere às doenças infectocontagiosas, pois, com o desenvolvimento de vacinas e antibióticos, pôde prevenir ou tratar a maioria delas, evitando a morte de, provavelmente, centenas de milhões de pessoas, principalmente ao longo das últimas seis décadas.

O melhor exemplo de vitória da medicina sobre as doenças infectocontagiosas foi o que ocorreu com a varíola, doença que, por milênios, foi um flagelo para a humanidade.  Transmitida pelo ar, a varíola foi responsável por devastadoras epidemias ao longo da história.  Em seu auge na Europa, no século XVIII, a varíola matou milhões de pessoas, em sua maioria crianças.  Alguns pesquisadores acreditam que a varíola foi a doença que mais matou em toda a história da humanidade, mais até que a Peste Negra.  Após anos de vacinação em massa, em 1979, a Organização Mundial da Saúde declarou a varíola uma doença erradicada do planeta.

Várias epidemias, ao longo da história, ficaram registradas como de causa desconhecida, até que uma nova epidemia surgiu há duas décadas, a AIDS, que em pouco tempo teve seu agente causador descoberto.  No princípio todos ficaram muito alarmados pois, em poucos anos, a doença se transformou em uma pandemia com uma curva de crescimento que revelava uma progressão geométrica em vários países no mundo.  Com as campanhas de prevenção, conseguiu-se um controle relativo dessa epidemia na maioria dos países e, com o advento dos medicamentos antivirais, o prognóstico das vítimas tem melhorado muito, porém, em países pobres, esse benefício da ciência tem chegado de forma muito escassa.  Em razão disso, atualmente, a epidemia de AIDS tem matado menos nos países ricos e mais nos países pobres sendo que, em alguns destes, principalmente na África, pela falta de uma política de prevenção, a epidemia está em franca expansão.  Mas há ainda a Esperança do desenvolvimento de uma vacina eficaz em poucos anos, o que produziria um efeito determinante no controle da epidemia nesses países.

Ainda existem várias endemias no mundo atualmente, a quase totalidade delas se concentra nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, porém, não há comparação com o que foi no passado, e o investimento de organizações oficiais e não governamentais em medidas de prevenção e o surgimento de novas vacinas e novos medicamentos têm melhorado esta realidade.  No que se refere a possibilidade do surgimento de novas doenças infectocontagiosas, a ciência hoje está muito mais bem equipada, pois a tecnologia para identificação e rastreamento de possíveis novos agentes infecciosos tem evoluído de uma forma incrível nos últimos anos.

Sempre haverá alarmistas no que se refere às doenças infectocontagiosas, mas é inegável que, ao observarmos a evolução da medicina nesta área no último século, principalmente nas últimas décadas, constataremos que as vitórias sobre essas pestilências vieram-se acumulando e hoje, a grande maioria delas é passível de prevenção e tratamento eficazes.

A maior parte do texto desse artigo foi extraído do livro “Os Últimos Dias” do autor Ricardo L. V. Mascarenas. (2001).

Por Nivaldo Gomes.