quinta-feira, 5 de junho de 2025

Tishá Be-Av e a Expulsão dos Judeus da Espanha: Um Destino Marcado pela Tragédia

Por Walson Sales 

A história do povo judeu é repleta de momentos de grande sofrimento e perseguição, mas poucos eventos ilustram de forma tão contundente essa realidade quanto a expulsão dos judeus da Espanha em 1492. Este acontecimento trágico, determinado pelo Decreto de Alhambra, marcou não apenas o fim de uma era de coexistência judaico-ibérica, mas também coincidiu com uma data profundamente simbólica no calendário judaico: Tishá Be-Av, o nono dia do mês de Av. 

Neste artigo, inspirado na leitura do livro História dos Judeus de Pernambuco, do pesquisador Jacques Ribemboim, exploramos a relação entre essa expulsão e outras tragédias históricas ocorridas no mesmo dia, revelando um padrão de dor e exílio que acompanha o povo judeu há milênios.  

1. O Decreto de Alhambra e a Expulsão de 1492

Em 1492, o rei Fernando e a rainha Isabel consolidaram a unificação da Espanha com a conquista de Granada, o último reduto muçulmano na Península Ibérica. Em nome da uniformidade religiosa, decretaram a expulsão de todos os judeus que se recusassem a converter-se ao catolicismo. O Édito de Expulsão, ou Decreto de Alhambra, concedia um prazo de apenas quatro meses para que cerca de 100 mil judeus deixassem o país.

Aqueles que permaneceram, contrariando a ordem real, enfrentariam a morte ou a conversão forçada. Esse evento desestruturou comunidades judaicas que haviam vivido na Península Ibérica desde o período romano, muito antes do surgimento do cristianismo. Famílias inteiras tiveram que vender suas propriedades a preços insignificantes, trocando casas por burros e terras por pedaços de tecido, conforme relatos históricos.  

A fuga não garantia segurança: muitos buscaram abrigo em Portugal, onde foram inicialmente aceitos mediante pagamento, mas logo enfrentaram novas perseguições. Outros tentaram alcançar o norte da África, correndo o risco de serem capturados por piratas e vendidos como escravizados. Para os que conseguiram chegar a regiões como a Itália e o Império Otomano, o sentimento era de alívio e sobrevivência.

2. Tishá Be-Av: Um Dia de Tragédias na História Judaica

O que torna esse episódio ainda mais marcante é que o prazo final para a saída dos judeus da Espanha se encerrou precisamente no nono dia do mês de Av (Tishá Be-Av). No calendário judaico, essa data é guardada como um dia de luto, jejum e oração, pois nela ocorreram algumas das maiores calamidades da história do povo judeu.

586 a.C.: O Primeiro Templo de Jerusalém, construído por Salomão, foi destruído pelos babilônios liderados por Nabucodonosor.

70 d.C.: O Segundo Templo foi destruído pelo general romano Tito, marcando o início da diáspora judaica pelo mundo.  

1290: Os judeus foram expulsos da Inglaterra pelo rei Eduardo I, obrigados a abandonar seus lares e pertences.  

1492: Os judeus foram expulsos da Espanha, encerrando séculos de presença judaica na Península Ibérica.

Essa sucessão de tragédias ocorrendo no mesmo dia do calendário hebraico levanta questões profundas sobre o sofrimento cíclico do povo judeu. A coincidência histórica impressiona e reforça a relevância de Tishá Be-Av como um marco de destruição e exílio.  

3. As Implicações Históricas e Culturais da Expulsão

A expulsão dos judeus da Espanha teve impactos duradouros, tanto para os judeus quanto para o próprio reino espanhol. Enquanto comunidades judaicas floresceram em outras partes do mundo, a Espanha perdeu uma população altamente qualificada, composta por comerciantes, médicos, cientistas e intelectuais.

Para os judeus sefarditas (nome derivado de "Sefarad", termo hebraico para Espanha), a expulsão significou um novo período de diáspora, que os levou a regiões como o Império Otomano, Marrocos, Holanda e, posteriormente, ao Brasil. Muitos desses refugiados ajudaram a fundar comunidades judaicas em diversos países, incluindo Pernambuco, como menciona Jacques Ribemboim em sua pesquisa sobre os judeus no Brasil.  

Além disso, a perseguição religiosa da Inquisição, que se intensificou após a expulsão, mostrou que a conversão forçada não era garantia de segurança. Cristãos-novos continuaram sendo perseguidos, acusados de praticar o judaísmo em segredo.  

Conclusão: O Destino Marcado de um Povo Resiliente

A história dos judeus da Espanha é um testemunho da resistência e perseverança de um povo que, mesmo diante de perseguições, manteve sua identidade e fé. O fato de a expulsão de 1492 coincidir com outras grandes tragédias do povo judeu em Tishá Be-Av reforça a carga simbólica dessa data e a profundidade das cicatrizes deixadas pelo exílio e pela intolerância.  

A narrativa histórica dos judeus, marcada por perseguições, expulsões e reconstruções, serve como um lembrete da necessidade de respeito à diversidade cultural e religiosa. E, paradoxalmente, mostra que mesmo nos momentos mais sombrios, a identidade e a cultura judaicas conseguiram não apenas sobreviver, mas florescer em novas terras.  

A história da expulsão dos judeus da Espanha, assim como tantas outras tragédias associadas a Tishá Be-Av, nos convida à reflexão sobre o passado e à busca por um futuro em que o respeito e a tolerância possam prevalecer sobre a intolerância e a perseguição.

Diante da tragédia de 7 de outubro e do crescente antissemitismo mundial, que pode culminar em uma coalizão contra Israel (Zacarias 14), devemos intensificar nossas orações por essa nação e nos preparar para os eventos escatológicos finais.

A Arqueologia e a Autenticidade dos Evangelhos: Confirmações Históricas na Terra de Israel

Por Walson Sales 

A arqueologia tem se mostrado uma das ferramentas mais poderosas para confirmar a autenticidade dos relatos bíblicos, especialmente os encontrados nos Evangelhos. Com o avanço das escavações em Israel, muitas descobertas têm sido feitas, provando que os detalhes geográficos, culturais e históricos narrados no Novo Testamento são precisos. O capítulo 4 do livro The Surprising Rebirth of Belief in God: Why New Atheism Grew Old and Secular Thinkers are Considering Christianity Again, de Justin Brierley, oferece uma visão fascinante sobre como a arqueologia tem vindo à tona como uma evidência crucial da veracidade das Escrituras. Este artigo ampliará os pontos abordados por Brierley, destacando algumas descobertas arqueológicas que corroboram os relatos dos Evangelhos e do Antigo Testamento, e discutindo a importância dessas evidências para a fé cristã.

1. Descobertas Arqueológicas que Confirmam os Evangelhos

Uma das descobertas arqueológicas mais notáveis é o tanque de Siloé, mencionado no Evangelho de João, capítulo 9. Durante anos, os céticos duvidaram da existência desse tanque, uma vez que nunca havia sido encontrado. Contudo, em 2004, durante escavações em Jerusalém, os arqueólogos descobriram as escadas do tanque e, eventualmente, o local foi completamente escavado, revelando uma grande estrutura que confirma a narrativa do Evangelho. Os vestígios de moedas encontradas no tanque ajudam a datar o local para os anos próximos à vida de Jesus, validando assim o relato bíblico.

Além disso, várias outras descobertas arqueológicas em locais como Nazaré e Cafarnaum têm corroborado a veracidade dos Evangelhos, mostrando que as cidades mencionadas, longe de serem invenções posteriores, têm uma importância histórica real. Casas, sinagogas e outros vestígios têm sido desenterrados, desafiando a visão cética de que os locais de ministério de Jesus eram meras ficções criadas pelos escritores do Novo Testamento.

2. A Confirmação da Crucificação de Jesus

Outro aspecto da arqueologia que fortalece a credibilidade dos Evangelhos é a descoberta de restos humanos de vítimas de crucificação. As descobertas de esqueletos com evidências claras de crucificação oferecem uma prova tangível de como era o processo de execução na época de Jesus. Tais achados confirmam a descrição de sua morte na cruz, conforme relatado nos Evangelhos, e desmentem as alegações de que a crucificação teria sido uma invenção posterior ou uma alegoria criada pelos escritores cristãos.

3. Descobertas no Antigo Testamento

A arqueologia não só tem sido útil para confirmar os relatos do Novo Testamento, mas também tem fornecido evidências substanciais para apoiar a veracidade dos eventos narrados no Antigo Testamento. Um exemplo significativo é a descoberta do "Túnel de Ezequias" em Jerusalém, que remonta ao reinado do rei Ezequias e confirma o relato bíblico sobre a construção de um túnel para trazer água à cidade, como parte da preparação para enfrentar uma invasão assíria. Além disso, a Estela de Tel Dan, descoberta em 1993, contém uma inscrição cananéia que menciona a dinastia de Davi, corroborando a existência histórica do rei Davi, cuja figura foi muitas vezes questionada pelos críticos.

Outro achado recente, anunciado em 2022 pelo arqueólogo Dr. Scott Stripling, é a descoberta de uma "tábua de maldição" que contém o mais antigo exemplo conhecido de escrita hebraica, mencionando o nome de Yahweh. Se verificada, esta descoberta forneceria uma forte evidência de que as histórias do Antigo Testamento podem ter sido registradas muito antes do que se pensava, refutando a ideia de que os relatos bíblicos são invenções posteriores.

4. A Consistência das Descobertas Arqueológicas

Embora muitas evidências arqueológicas tenham se perdido com o passar do tempo, as descobertas recentes têm mostrado uma tendência surpreendente: sempre que novos achados são feitos, eles raramente contradizem os relatos bíblicos. Pelo contrário, eles frequentemente confirmam detalhes que os céticos haviam questionado. Esta consistência das descobertas arqueológicas proporciona uma base sólida para aqueles que defendem a confiabilidade histórica da Bíblia, particularmente no que diz respeito à figura central dos Evangelhos, Jesus Cristo.

Conclusão

Como Justin Brierley, repito , observa em seu livro The Surprising Rebirth of Belief in God: Why New Atheism Grew Old and Secular Thinkers are Considering Christianity Again, a arqueologia tem desempenhado um papel fundamental na revalidação dos relatos bíblicos. As descobertas contínuas em Israel e em outras regiões relacionadas à Bíblia têm desafiado as críticas e reforçado a credibilidade dos Evangelhos e do Antigo Testamento. À medida que mais vestígios históricos são encontrados, torna-se evidente que a Bíblia não é apenas uma obra literária com grande impacto cultural, mas também um registro histórico digno de consideração. Para os cristãos, essas descobertas não apenas reafirmam a veracidade das Escrituras, mas também reforçam a fé na figura central da Bíblia: Jesus Cristo, cujos feitos e ensinamentos continuam a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

A Convergência Inesperada: Como as Coincidências Não Planejadas Fortalecem a Confiabilidade dos Evangelhos

Por Walson Sales 

A busca pela verdade histórica dos Evangelhos tem sido marcada por ceticismo, especialmente no que diz respeito à veracidade dos relatos contidos nos quatro Evangelhos canônicos: Mateus, Marcos, Lucas e João. No entanto, ao longo das últimas décadas, estudiosos têm identificado elementos dentro desses textos que sugerem uma profundidade e autenticidade que não podem ser facilmente descartadas. Um desses elementos é o conceito de "coincidências não planejadas" ou undesigned coincidences, que, como o próprio nome sugere, são detalhes nos relatos dos Evangelhos que se interconectam de maneira natural e que sugerem a veracidade dos eventos narrados. No presente artigo, exploraremos como essas coincidências não planejadas contribuem para a confiabilidade dos Evangelhos, baseando-nos no trabalho de estudiosos como Dr. Lydia McGrew, especialmente no livro Hidden in Plain View: Undesigned Coincidences in the Gospels and Acts, argumento também presente no livro do Justin Brierley.

1. O que são as Coincidências Não Planejadas?

As coincidências não planejadas são situações em que diferentes relatos dos Evangelhos, aparentemente independentes, se cruzam de maneira que não poderiam ser manipuladas ou inventadas pelos autores. Elas não se referem a detalhes que poderiam ser facilmente ajustados ou inventados, mas a eventos e interações que se alinham de maneira surpreendente quando analisados em conjunto. Como McGrew argumenta, essas coincidências são evidências naturais de uma autenticidade histórica que não pode ser explicada por invenções posteriores ou pela tentativa de enganar o leitor.

2. O Exemplo de Filipe e a Multiplicação dos Pães

Um exemplo clássico de coincidência não planejada é o relato da multiplicação dos pães e peixes, especificamente o diálogo entre Jesus e o apóstolo Filipe. No Evangelho de João (6:7), Jesus pergunta a Filipe onde poderiam comprar pão para alimentar a grande multidão que o seguia, e Filipe responde que, mesmo com uma grande soma de dinheiro, não seria possível dar nem um pedaço de pão a cada pessoa.

Se este fosse um relato inventado, por que o autor escolheria perguntar a Filipe, em vez de um dos discípulos mais proeminentes, como Pedro ou João? A resposta encontra sua explicação em outros relatos, como o de Lucas (9:10-11), que menciona que o milagre ocorreu próximo à cidade de Betsaida, cidade natal de Filipe. Portanto, Filipe, sendo da região, seria a pessoa mais adequada para responder à pergunta de Jesus, o que faz todo o sentido dentro do contexto histórico e geográfico.

3. A Força das Coincidências Não Planejadas no Contexto dos Evangelhos

Este exemplo de Filipe, por si só, pode parecer um detalhe menor, mas a grande quantidade de coincidências semelhantes encontradas nos Evangelhos torna essas interligações extremamente significativas. Através da análise de inúmeros exemplos de coincidências não planejadas, fica claro que os Evangelhos não foram escritos com a intenção de serem uma obra de ficção cuidadosamente planejada, mas sim relatos baseados em testemunhos reais de eventos vividos pelos autores e seus interlocutores.

Essas interações são descritas com tal naturalidade e profundidade, refletindo uma realidade histórica genuína. Como a pesquisa de McGrew destaca, as coincidências não planejadas são "marcas da verdade dos Evangelhos ocultas à vista de todos". São evidências que surgem de maneira espontânea e que não podem ser vistas como meros erros ou invenções, mas como reflexos da precisão dos relatos originais.

4. Comparação com Outras Narrativas Apócrifas

Um contraste importante surge quando comparamos os Evangelhos canônicos com os textos apócrifos ou tardios, como os Evangelhos de Tomé ou de Judas. Estes últimos, que datam de um período posterior aos Evangelhos canônicos, são frequentemente vagos e carecem dos mesmos detalhes históricos e culturais precisos que encontramos nos quatro Evangelhos do Novo Testamento. A ausência de coincidências não planejadas e a falta de um contexto geográfico e cultural plausível são características marcantes desses textos, sugerindo que não são baseados em testemunhos contemporâneos, mas em tradições muito mais distantes no tempo.

5. A Importância das Coincidências Não Planejadas para a Confirmação da História

A multiplicidade de coincidências não planejadas que emergem de um exame mais atento dos Evangelhos fortalece a confiança na precisão histórica desses relatos. Se os Evangelhos tivessem sido criados por um grupo de pessoas tentando criar uma narrativa fictícia ou inventada, seria difícil para tantos detalhes se alinharem de maneira tão precisa e natural. O fato de que diferentes textos, independentes uns dos outros, se complementam de maneira inesperada, aponta para a autenticidade dos relatos. Em vez de serem uma invenção tardia, os Evangelhos apresentam a marca de testemunhos autênticos e de primeira mão sobre a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo.

Conclusão:

O conceito de coincidências não planejadas, como discutido no livro *Hidden in Plain View* de Dr. Lydia McGrew, oferece uma perspectiva fascinante sobre a confiabilidade dos Evangelhos. Ao considerar os relatos dos Evangelhos sob a ótica dessas coincidências, torna-se evidente que não estamos lidando com histórias fabricadas ou distorcidas, mas com testemunhos genuínos de eventos históricos vividos por pessoas reais. A precisão e os detalhes contextuais que emergem desses relatos não podem ser explicados por invenções posteriores e servem como um forte argumento a favor da autenticidade dos Evangelhos. Para os céticos que questionam a veracidade dos relatos bíblicos, essas coincidências não planejadas devem ser vistas como evidências sólidas da confiabilidade dos textos que narram a vida de Jesus Cristo.