quinta-feira, 23 de julho de 2020
CRIAÇÃO E EVOLUÇÃO – A CIÊNCIA DA CRIAÇÃO.
POR J. P. MORELAND
A primeira coisa que devemos fazer é fornecer uma definição operacional, suficiente da ciência da criação. Em dezembro de 1981, houve um julgamento entre criação/evolução [McLean vs. Arkansas] em Little Rock, no Arkansas. Foi dada seguinte definição de ciência da criação:
A ciência da criação significa as evidências científicas para a criação e as inferências a partir dessas evidências. A ciência da criação inclui as evidências científicas e as inferências relacionadas que indicam :
1. A criação repentina do universo, da energia e da vida a partir do nada;
2. A insuficiência da mutação e da seleção natural em produzir o desenvolvimento de todos os tipos de vida a partir de um organismo simples;
3. As mudanças apenas dentro de limites fixos dos tipos originalmente criados de plantas e animais;
4. A distinta ancestralidade entre homens e macacos;
5. A explicação da geologia da terra pelo catastrofismo, incluindo a ocorrência de um dilúvio universal;
6. E, um início relativamente recente da terra e dos tipos de vida. Essa definição é adequada para os nossos propósitos, mas duas qualificações devem ser feitas;
Primeira: alguns estudiosos evangélicos não acreditam que a Bíblia ensine que o dilúvio de Noé foi um evento universal, mas, sim, uma inundação que se estendeu o suficiente para incluir a raça humana. Foge aos nossos presentes propósitos debater essa questão, mas vale mencionar que o debate fundamental entre a criação e a evolução não implica na existência de um dilúvio universal. A natureza do dilúvio é uma questão secundária , que ganha importância dependendo da percepção da força da evidência exegética para a concepção e a centralidade da inundação em um sistema de integração. Em segundo lugar, a idade da terra ou do universo não é tampouco uma questão central no debate entre a criação e a evolução. [...] por ora, basta dizer que o principal ponto de discórdia entre criacionista e evolucionista é a adequação da teoria geral, em especial a do homem, e o desenvolvimento entre os primeiros seres vivos e o homem.
A ciência da criação, conforme foi definida pela lei de Arkansas, é uma ciência? A resposta é sim e, para entender melhor isso, deveríamos considerar com atenção as principais críticas que foram levantadas contra o status científico da ciência da criação. É difícil resolver a questão oferecendo uma definição de ciência, pois, como Laudan assinala: “poucos autores conseguem concordar entre sí sobre o o que torna uma atividade científica”. No entanto, podemos tentar esclarecer muitas das características que a maioria dos filósofos acredita definir como sendo científica a grande parte dos casos de atividades científicas. Essas características podem ser examinadas ao serem estudadas as tentativas de demonstrar como a ciência da criação falha de uma forma importante. Tenhamos em mente que nosso objetivo agora não é provar que a ciência da criação de fato, explica adequadamente os dados científicos. Eu acredito que ela realmente o faz, explica adequadamente os dados científicos. Eu acredito que ela realmente o faz. Entretanto, nosso propósito aqui é mais modesta, apenas tentar mostrar que a ciência da criação é realmente uma ciência. Seis objeções são com frequência levantadas na tentativa de mostrar que a ciência da criação é uma religião, e não uma ciência.
A CIÊNCIA DA CRIAÇÃO USA UM CONCEITO RELIGIOSO(DEUS) E PORTANTO, É UMA RELIGIÃO E NÃO UMA CIÊNCIA.
Semelhante objeção falha porque “Deus” não é necessariamente um conceito religioso. Quando Deus funciona como um conceito religioso, ele é utilizado para promover a religião como seu efeito principal ou primário, está envolvido na exortação moral e espiritual, e é encerrado em um ritual e outra formas de devoção religiosa. O fato simples é que Deus pode ser um mero conceito filosófico ou um termo teórico que denote uma entidade teórica explicativa , necessária a algum tipo de elucidação, assim como os termos quark e placa continental. Por exemplo, na filosofia de Aristóteles, Deus é uma entidade, cuja existência serve para explicar, entre outras coisas, a existência do movimento no cosmos. Mas, Aristóteles não cultua o motor imóvel de um sistema filosófico. isaac Newton apelou para a existência de Deus a fim de ajudar a explicar o movimento planetário, argumentando que Deus ocasionalmente cutucou os planetas. Esse recurso de Newton mais tarde foi invalidado [um dos argumentos do tipo ”Deus das lacunas” não sustentável por provas exegéticas]. Mas esse não é o ponto. O ponto é que Deus não se apresenta aqui como um conceito religioso, mas sim teórico, pois, Deus não é objeto de culto ou um meio de exortação moral na teoria de Newton, sendo apenas uma mera entidade explicativa.
DEUS É UM TERMO ILEGÍTIMO EM CIÊNCIA, NÃO PORQUE SEJA RELIGIOSO, MAS PORQUE É SOBRENATURAL, E A CIÊNCIA EXPLICA POR MEIO DE LEIS NATURAIS.
Quatro argumentos podem ser levantados contra tal objeção. Em primeiro lugar, ela parece uma petição de princípio em favor de uma explicação adequada deve ser do tipo naturalista . mas certamente até mesmo um ateu concorda que, na ausência de uma situação de contradições entre os tributos de Deus, a existência de Deus é logicamente possível. Ele poderia existir e poderia ter criado a vida em geral e o homem em particular. Mas, se a ciência não pode em princípio reconhecer essa possibilidade por causa de seus pressupostos naturalistas, então a ciência seria necessariamente falsa no caso do criacionismo ser verdadeiro ,. Qualquer disciplina que não possa , mesmo em princípio, descobrir a verdade é certamente falha.
Em segundo lugar, os cientistas de outras gerações reconheceram que Deus era uma fonte legítima de explicação na ciência [ e alguns ainda o reconhecem hoje, incluindo uns poucos que não são teístas], então por que deveríamos ser obrigados a aceitar uma definição de ciência que arbitrariamente rejeita como não ciência todos os casos na história da ciência nos quais Deus foi utilizado como entidade teórica.
Em terceiro lugar, está longe de ser evidente que Deus esteja sendo usado como um conceito sobrenatural de alguma forma inapropriado para a ciência. É possível distinguir a ciência da operação [que incide sobre a operação regular, recorrente do universo ou, em termos teológicos, as causas secundárias] da ciência da origem [que incide sobre acontecimentos singulares - a origem do universo, da vida na terra, os quais, em termos teológicos, são as causas primárias que não são regulares]. A ciência da origem, na verdade, postula as primeiras causas como dados brutos. Por exemplo, a existência da massa/energia do Big Bang, ou a de outras constantes cósmicas usadas no argumento do desenho são exemplos delas. Deus na ciência da criação simplesmente significa “uma primeira causa que se assemelha mais a um agente racional do que a matéria”. O que há de não científico nisso? Por fim, os cientistas há muito compreenderam a diferença entre estabelecer a existência de um fenômeno e explica-lo por uma lei natural. Charles Darwin(supostamente) estabeleceu a existência da seleção natural meio século antes que as leis da genética pudessem ajudar a explicar o fenômeno. Se, ao contrário do ocorrido, não tivesse havido nenhuma lei natural para explicar a seleção natural, a realização de Darwin, ainda assim seria científica. Da mesma forma poderia ser estabelecida a existência de uma causa primeira explicando essa causa através de sua submissão a leis naturais, o que não seria científico, mesmo que essa causa primeira se assemelha-se a uma pessoa. A ciência da psicologia explica as coisas em termos de desejos e intenções dos sujeitos , e não há nenhuma boa razão para banir tais explicações da ciência.
A CIÊNCIA DA CRIAÇÃO É UMA TEORIA DERIVADA DA BÍBLIA, PORTANTO NÃO É UMA TEORIA CIENTÍFICA.
Essa objeção é um exemplo da falácia lógica conhecida como falácia genética. A falácia genética é o erro de confundir a origem de uma asserção c om sua autoridade evidente, questionando assim a asserção pela atenção dada a sua origem.. o que é relevante para a racionalidade de uma asserção é a evidência de tal argumento. A prática da alquimia medieval foi a base para a moderna disciplina da química , mas dificilmente isso seria um bom argumento para atacar a racionalidade da teoria química. Não faz diferença se uma teoria científica se origina de um sonho , da Bíblia ou de um desenho na parede de um banheiro. A questão é se razões científicas independentes apoiam a teoria. Os cientistas criacionistas claramente oferecem razões para a ciência da criação. Se essas razões são suficientes é outro assunto. Porém, razões científicas são oferecidas e isso basta á ciência da criação para estabelecer como ciência.
A CIÊNCIA DA CRIAÇÃO NÃO FAZ PREDIÇÕES E NÃO É EMPIRICAMENTE TESTÁVEL.
É verdade que alguns dos princípios do criacionismo não são testáveis isoladamente de outras asserções [por exemplo a alegação de que o homem surgiu de um ato direto de Deus]. Mas, como Laudam argumentou , isso “dificilmente torna o criacionismo uma disciplina ‘não científica’. Hoje é amplamente reconhecido que muitas afirmações científicas não são testáveis isoladamente, mas apenas quando são incorporadas a um sistema maior de asserções , cujas algumas de suas consequências podem ser submetidas a testes. O criacionismo científico produz um grande número de previsões que podem ser testadas . por exemplo, essa disciplina prevê que o registro fóssil falhará em obter formas evidentes de transição e apresentará lacunas sistemáticas. Geólogos do dilúvio preveem que porfirinas serão geralmente encontradas em rochas sedimentares. Muitos outros exemplos poderiam ser citados. É falso que o criacionismo ceintífico não faça predições empíricas testáveis.
OS CIENTISTAS DA CRIAÇÃO SÃO INTOLERANTES E MANTÉM SUA TEORIA TÃO TENAZMENTE QUE IMPOSSIBILITA UMA REVISÃO.
Três problemas podem ser gerados com essa objeção . em primeiro lugar, o argumento é, na melhor das hipóteses, uma crítica ad hominem contra alguns defeitos de personalidade(alegada) de cientistas da criação. Mas o que isso em haver com a ciência da criação como uma teoria? Importaria se todos os newtonianos fossem marxistas? Certamente isso não contaria contra o estatuto científico da teoria newtoniana. Na verdade, a ciência da criação poderia ser testada , ou mesmo ensinada sobre esse assunto , por um evolucionista. E um evolucionista dificilmente poderia ser acusado de toscamente, abraçar a ciência da criação.
Em segundo lugar, muitos cientistas em outras áreas da ciência têm mostrado resistência á mudança científica , como Kuhn e outros tem apontados. Na verdade, em muitos casos é a presença de um pequeno grupo de cientistas, como “rebeldes”, como os cientistas da criação, que ajuda os outros a superarem sua parcialidade em favor de uma teoria dominante. Em terceiro lugar, não é verdade que os cientistas da criação não refinem seus pontos de vista. Os cientistas da criação alteraram várias características de seus modelos quando são comparados a seus colegas de cem anos atrás. Assim, a evidência os leva a refinar e rever suas teorias.
A CIÊNCIA DA CRIAÇÃO NÃO DEPENDE DE PROVAS POSITIVAS PARA APOIAR SEU CASO, MAS DEPENDE DE PROBLEMAS NA TEORIA EVOLUTIVA.
Mas, o simples fato de que alguma versão da teoria evolucionista ser problemática , não significa o criacionismo seja verdadeiro. Uma outra forma de teoria evolutiva pode ser adequada. Essa objeção é falsa porque, a ciência envolve previsões que dão a a evidência positiva para a ciência da criação. Algumas das previsões já listadas seriam exemplos assim. Aqueles que trabalham em estender e esclarecer a ciência devem continuar a esclarecer implicações de testes positivos sobre sua teoria. Mas, é errado dizer que nenhuma evidência positiva foi encontrada para apoiar a ciência da criação.
Em segundo lugar, se há um pequeno número de hipóteses rivais atualmente disponíveis , e se uma dessas hipóteses é falsificada ou enfraquecida , isso oferece, suporte para seus rivais. A possibilidade lógica de alguma teoria futura desconhecida emergente não refuta esse ponto, pois, é preciso operar com os principais rivais á mão.
Considere o seguinte caso. A versão neodarwiniana da macroevolução sustenta que a mudança evolutiva acontece em um grande número de etapas sequenciais, envolvendo mudanças muito pequenas em cada ponto ao longo do caminho. Mas o registro fóssil simplesmente não ofereceu o que prevê o neodarwinismo. Milhões de fósseis foram descobertos e encontraram um número muito pequeno de formas de transição controverso foi descoberto. O neodarwinismo prevê que devem ser encontrados milhares e milhares. Atualmente, três opções são oferecidas pelos cientistas em sua tentativa de explicar o registro fóssil. Em primeiro lugar, é possível escolher reafirmar o neodarwinismo, mas adicionando-se algumas hipóteses ad hoc para explicar a ausência de formas de transição. Por exemplo, os neodarwinistas ás vezes argumentam que, como as formas de transição não são claramente superiores na luta pela sobrevivência , elas não duram muito tempo e, portanto , deixam poucos fósseis. Em segundo lugar, é possível abraçar uma versão diferente da teoria evolutiva chamada de equilíbrio pontuado. Segundo essa concepção a mudança evolutiva ocorre rapidamente e é seguida por longos períodos de êxtase, nos quais nenhuma mudança ocorre. Assim, o registro fóssil carece de formas de transição porque elas não existiram. Em terceiro lugar, é possível aceitar o criacionismo científico e argumentar que não há nenhuma forma de transição evidente porque não houve transição.
Os defensores do equilíbrio pontuado argumentam que a ausência de um grande número de formas de transição tende a refutar o neodarwinismo, pois, mesmo que as formas de transição não sejam superiores na luta pela sobrevivência, ainda seria esperado encontrar mais delas no registro fóssil do que se tem hoje[se o neodarwinismo fosse verdade]. Esse me parece um bom argumento. O registro fóssil tende a refutar o neodarwinismo e, por isso, acaba apoiando o equilíbrio pontuado. Mas, “pau que bate em Chico, bate em Francisco”, e não vejo nenhuma razão, para acreditar que o registro fóssil não apoie da mesma forma, o criacionismo científico, já que ele tende a refutar o neodarwinismo. Na verdade, é possível argumentar que o equilíbrio pontuado é em sí uma estratégia ad hoc para salvar, de alguma maneira o darwinismo. Em qualquer caso, se existe um pequeno conjunto de hipóteses rivais, então quando uma delas fica enfraquecida, as outras são fortalecidas, mesmo que seja logicamente possível que uma teoria totalmente nova surja no futuro próximo. Se os defensores do equilíbrio pontuado podem adequadamente argumentar dessa forma, e acredito realmente que possam , então não há nenhuma boa razão pela qual os criacionistas científicos não possam usar o mesmo argumento.
CONCLUSÃO.
Em suma, nenhuma das grandes objeções contra o status científico da ciência da criação atinge seu objetivo. Tal constatação, juntamente com o fato de que nenhuma definição geralmente aceita da ciência é acolhida pela maioria dos filósofos da ciência, implica implausível defender que o criacionismo científico não seja uma ciência. Opiniões em contrário ou são desinformadas ou representam um mero preconceito.
FONTE.
1. MORELAND, J. P.. Racionalidade da Fé Cristã. Trad. José Carlos Siqueira. S. Paulo. 2013. Hagnos. pg. 267-274.
VIA LEONARDO MELO.
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