domingo, 7 de abril de 2019

Confissões e Credos na Bíblia

Uma confissão ou credo é o resumo de uma doutrina (e as vezes prática) que tem vários usos.

Primeiro, o credo permite os crentes de mesma opinião a cooperarem ao identificarem suas opiniões em comum. Todos prometem avançar nas mesmas doutrinas e práticas ao se subscreverem a uma confissão comum. O controle de qualidade e responsabilidade então se seguem, e os recursos coletados são usados para os propósitos em comum acordo.
Segundo, as confissões deixam transparentes as posições doutrinárias das igrejas individuais aos observadores externos e as pessoas que buscam uma igreja.
Terceiro, as confissões estabelecem um “currículo central” da igreja. As confissões mantêm o clero e o laicato nas mesmas linhas teológicas e práticas, sabendo onde estão as fronteiras externas e quais doutrinas devem receber ênfase especial. De fato, dificilmente se pode imaginar uma parceria ministerial funcionando bem sem uma plataforma confessional de algum tipo, mesmo que mínima.
Contudo, alguns Cristãos não aceitam o uso de confissões ou credos, preocupados que os credos possam diluir a autoridade singular da Bíblia. Evangélicos que não querem que seus líderes e membros se detenham mais em confissões do que na Escritura estão preocupados que a exegese bíblica possa perder sua prioridade sobre as afirmações confessionais. Mas nenhum subgrupo cristão pode se definir sem algum recurso de afirmação doutrinária. Tem que se ir além de “Somos a favor de Jesus Cristo, da Bíblia, e do evangelismo...” para definir como Jesus será pregado, como a Escritura será interpretada, e como as missões serão conduzidas. Algumas fronteiras devem ser estabelecidas para manter a igreja “na mensagem”, “na missão” e portanto, intacta.
Confissões na Bíblia. Tanto o Antigo, quanto o Novo Testamento contém afirmações que funcionam como confissões ou resumos doutrinários, mesmo que estas não sejam abrangentes. O Decálogo serve a este propósito: ele define quem é Yahweh e estabelece a conduta absoluta de Israel, mas sem ser tão exaustivo (Ex. 20: 2-17; Dt 5: 6-21). O Shemá é outro exemplo do Antigo Testamento (Dt 6: 4-5). No Novo Testamento, I Co 15: 3-8 contém uma afirmação confessional com respeito a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, talvez a mais antiga confissão viva. A mesma conclusão se segue com respeito a Fp 2: 6-11; I Tm 3:16, pois ambos foram reconhecidos como tendo uma estrutura de fórmula e captura algo da fé “que uma vez foi entregue aos santos” (Jd 3). Como Judas 4 indica, resumos desse tipo se mostram especialmente úteis em confrontar o surgimento do erro.
As confissões ecumênicas. A pressão da confusão doutrinária e a necessidade de salvaguardar a ortodoxia deu surgimento às quatro grandes confissões ecumênicas (universalmente aceitas).
A primeira dessas afirmações, o Credo dos Apóstolos (ou da Roma Antiga), foi composto em torno de 150 AD, primeiramente para refutar as heresias de Marcião e os gnósticos, que desprezavam o mundo material. A Referência no credo a “Deus Pai todo poderoso, fez os céus e a terra” exclui a ideia de um mundo material saindo do domínio de Deus. Deus criou todas as coisas e governa sobre tudo. Da mesma forma, a afirmação com respeito a Jesus ligado diretamente ao Pai e também enfatiza sua materialidade. Ele nasceu neste mundo, e sofreu sob uma figura histórica, Pôncio Pilatos.
O credo Niceno (325 d.C.) responde às heresias de Ário, que argumentou que que Deus, o Pai, criou Jesus, seu Filho, de modo que o Filho é meramente de uma substância “semelhante” a do Pai, mas não da “mesma” substância. Este credo afirma que o Filho é “Deus de Deus, unigênito, não feito, sendo da mesma substância com o Pai”.
O credo de Calcedônia (451 d.C.) é a questão mais complexa da Cristologia, definindo o sentido em que Deus poderia se tornar encarnado na pessoa de Jesus; ao fazê-lo, rejeita três heresias adicionais.
Apolinário (cerca de 315-393 d.C.) sugeriu que Jesus era essencialmente meio humano, com o Espírito de Deus habitando o corpo humano.
Nestório (cerca de 381-451 d.C.) expôs uma Cristologia que deixou a igreja com duas pessoas, Deus e Jesus, ocupando o salvador, por assim dizer, como o resultado de que ele cessa de ser o Deus-homem.
Eutíquio (cerca de 387-454 d.C.) caiu no erro contrário chamado de “Monofisismo”, que afirma que quando Deus se tornou encarnado em Cristo, sua humanidade quase desapareceu em sua deidade. As duas naturezas foram mescladas, e resultou em um terceiro tipo de pessoa, não sendo nem Deus, nem homem, mas algo diferente, embora em sua maior parte como Deus.
O Credo de Calcedônia incorporou uma linguagem que excluiu estas três visões precárias, insistindo que Jesus Cristo é “reconhecido em duas naturezas, inconfundíveis, inalteráveis, indivisíveis, inseparáveis; não sendo retiradas as distinções de nenhuma maneira pela união, mas antes a propriedade de cada natureza sendo preservada”.
O Credo de Atanásio, do quarto ou quinto século AD, reitera a Cristologia de Calcedônia e oferece uma afirmação sucinta da Trindade: “de modo que O Pai é Deus, O Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus. E ainda eles não são três deuses, mas um Deus”. Nestas formas e outras através das eras, a igreja tem resumido o que levou Deus a revelar em sua singular e autoritativa palavra.

Fonte:
The Baker Illustrated Bible Dictionary, pp. 343-344
Tradução Walson Sales.

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