Na minha juventude, frequentando as escolas bíblicas dominicais eu sempre aprendi que o Calvinismo não era nada mais ou nada menos do que um simples erro de interpretação teológica. Alguns professores chegaram a dizer que o ensino Calvinista não era tão perigoso assim como muitos diziam. Tempos depois fui me aprofundando nos estudos e ao chegar no seminário teológico percebi que precisava ler as “Institutas de Calvino” e uma infinidade de livros ao seu respeito. Logo descobri o quanto eu estava enganado acerca do Calvinismo. Como diz o Lucas Banzoli em seu livro “Calvinismo ou Arminianismo – Quem está com a razão? “O Calvinismo não é apenas um erro teológico é um ensino terrível e assombroso”. Sem sombra de dúvida o Calvinismo é um verdadeiro mal, pois todos os argumentos Calvinistas possuem um propósito: provar que Deus não ama a todos, isto é, provar que Cristo não morreu por todos, provar que Deus não é bondoso com todos. E que, na verdade, Ele se agrada em mandar multidões para o inferno.
Vejamos logo a seguir algumas definições, ou seja, alguns conceitos do que é o “Calvinismo” na visão Calvinista. Na visão dos que defendem com unhas e dentes esse terrível sistema, que ensina que Deus predestinou alguns para a salvação e outros para condenação e tormento eterno. Que que Deus criou seres pré-ordenados a sofrerem eternamente. Que criou o mal e que ordenou o pecado. Que determinou cada evento que aconteceria neste planeta, inclusive esposas que seriam espancadas por seus maridos, crianças estupradas por pedófilos, genocídios, holocausto, tortura, assassinato, etc.
As citações a seguir foram extraídas do livro de Laurence M. Vance “O Outro Lado do Calvinismo” (2017, pp. 16-19):
O que exatamente é o Calvinismo? Como os calvinistas o definem? Para começar, o Calvinismo tem sido ardorosamente descrito em termos vagos como segue:
O Calvinismo é a Religião em sua mais alta concepção. O Calvinismo é o evangelicalismo em sua mais pura e excepcionalmente sólida expressão. [11]
O pensamento central do Calvinismo é, portanto, o grandioso pensamento de Deus. [12]
A Teologia calvinista é o maior de todos os temas que já ocuparam a mente humana. [13]
O Calvinismo, então, emerge aos olhos como nada mais nada menos que a esperança para o mundo. [14]
Essas características vislumbrantes do Calvinismo seriam de se esperar, visto que vem da boca dos próprios Calvinistas. Outros, entretanto, não poderiam opor-se de modo mais veemente, descrevendo o Calvinismo em outros termos:
O Calvinismo, ou crença na eleição, não é simplesmente uma blasfêmia, mas o cúmulo da blasfêmia. [15]
A doutrina de que um Deus infinito criou milhões de pessoas, sabendo que elas seriam condenadas. [16]
O Calvinismo é, em seus muitos aspectos, um sistema filosófico humano. É um elemento de constante divisão na igreja. [17]
O Calvinismo não é acidentalmente mas essencialmente imoral, visto que torna a distinção entre certo e errado uma questão de decreto positivo, tomando assim possível afirmar que o que é imoral para o homem é moral para Deus, pois Ele está acima da moralidade. [18]
Naturalmente, em resposta a estas declarações o Calvinista responderia que “nenhum sistema teológico jamais foi tão grosseiramente deturpado, ou mais repulsiva e injustamente detratado do que aquele comumente chamado de Calvinismo”. [19]
De modo ousado, os Calvinistas a seguir equiparam o Calvinismo com o próprio Cristianismo bíblico:
O sistema teológico Calvinista... é um sistema de crença bíblica pura fundamentado firmemente na Palavra de Deus. [20]
Tem sido dito corretamente que o Calvinismo é o puro Cristianismo bíblico em sua mais clara e pura expressão. [21]
O Calvinismo é uma tentativa de expressar toda a Bíblia e somente a Bíblia. [22]
O conhecido pregador e autor Presbiteriano D. James Kennedy nos diz porque ele é um Calvinista:
“Sou um Calvinista precisamente porque eu amo a Bíblia e o Deus da Bíblia. As doutrinas do sistema teológico Calvinista são as doutrinas da Bíblia. Se vocês quiserem saber no que realmente cremos, vocês descobrirão que também são Calvinistas, especialmente se vocês amam o Senhor Jesus Cristo e desejam servi-lo de todo o coração". [23]
Mas se o Cristianismo bíblico é o Calvinismo, então qualquer outro sistema teológico é necessariamente falso. E isso é exatamente o que os Calvinistas esperam que todos pensem. De acordo com eles, o Calvinismo não é apenas um sistema bíblico - mas o único sistema bíblico.
Acreditamos que o sistema Calvinista é o único estabelecido nas Escrituras e exigido pela razão. [24]
O Calvinismo é o único sistema fiel à Palavra de Deus. [25]
É questionável se a dogmática teológica não-Calvinista é realmente Cristã. [26]
Os Calvinistas costumam ir ainda mais longe ao insinuar que qualquer coisa aquém de sua posição conduz a heresia e ao erro. Kenneth Talbot e W. Gary Grampton nos advertem que “qualquer comprometimento do Calvinismo é um passo em direção ao humanismo” [27]. Boettner não para por aí:
“Não há ponto de parada consistente entre Calvinismo e Ateísmo” [28]. Portanto, ele insiste que “o futuro do Cristianismo está vinculado a esse sistema teológico historicamente chamado de Calvinismo” [29].
Mas o fato de os Calvinistas equacionarem sua doutrina com o que está contido nas Escrituras, em si, não significa nada, pois toda seita ou sistema religioso que profere o nome de Cristo faz o mesmo. O que precisamos é que os Calvinistas sejam mais específicos. O que é exatamente o Calvinismo? Uma vez mais, ouvimos dos próprios Calvinistas:
O Calvinismo é a exata e completa exposição e desenvolvimento do somatório e da essência do que é delineado nas Escrituras como tendo sido realizado para a salvação dos pecadores pelas três pessoas da Divindade [30].
O que o Calvinismo assevera é o aspecto sobrenatural da salvação, como a obra premente do Espírito Santo de Deus na alma, pela virtude daquilo nos faz novas criaturas em Cristo nosso Redentor, e nos toma filhos de Deus o Pai [31].
O Calvinismo, em seu aspecto soteriológico, é a firme percepção, expressão e defesa da completa dependência da alma na livre graça de Deus para a salvação [32].
Todos esses homens estão dizendo basicamente o mesmo: Que o Calvinismo e equivalente ao sistema e doutrina da salvação fundamentados na Bíblia. Alguns Calvinistas, no entanto, restringem tais explanações soteriológicas indo ainda mais fundo ao identificar o Calvinismo com o próprio Evangelho:
O Calvinismo é o Evangelho, e ensinar o Calvinismo significa de fato pregar o Evangelho [33].
O Calvinismo é o Evangelho. Suas notáveis doutrinas são simplesmente as verdades que constituem o Evangelho [34].
Até mesmo o Batista Charles Spurgeon (1834-1892) declarou: “É trivial chama-lo de Calvinismo; o Calvinismo é o evangelho, e nada mais” [35]. Se o Calvinismo é o evangelho, então ele deveria alinhar-se com o Evangelho apresentado na Bíblia. Portanto, seria pertinente comparar o Evangelho de Paulo, o apóstolo, ao evangelho de João Calvino:
Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado; o qual também recebestes, e no qual também permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (1 Coríntios 15:1-4).
Denominamos predestinação o conselho eterno de Deus pelo qual ele determinou o que desejava fazer com cada ser humano. Porque ele não criou todos em igual condição, mas ordenou uns para a vida eterna e os demais para a condenação eterna. Assim, conforme a finalidade para a qual o homem foi criado, dizemos que foi predestinado para a vida ou para a morte. [36]
O Evangelho bíblico é as boas novas acerca do que Jesus Cristo fez na cruz com respeito aos nossos pecados. O evangelho do Calvinismo é igualmente as boas novas - mas apenas se você for um dos “eleitos”. Isso é confirmado por Engelsma: “O Calvinismo é as boas novas! É o Evangelho, as alegres novas! Como a mensagem da graça, ele nos conforta, e a todos aqueles que, pela graça do Espírito, creem em Cristo” [37].
NOTA: Para o não-eleito o Calvinismo não é as boas novas de fato - mas uma eterna sentença de condenação e morte.
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[11] Warfield, Calvin, p. 497.
[12] H. Henry Meeter, The Basic Ideas of Calvinism, 6a. ed. (Grand Rapids: Baker, 1990), p. 17.
[13] Boettner, Predestination, p. 335.
[14] Warfield, Calvin, p. 507.
[15] Samuel Taylor Coleridge, citado em Eugene E. Brussell, ed., Webster’s New World Dictionary of Quotable Definitions, 2a ed. (Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1988), p. 66. [16] Robert G. Ingersoll, citado em Brussell, p. 66.
[17] Kent Kelly, p. 8.
[18] Andrey Moore, citado em Alan P. F. Sell, The Great Debate (Grand Rapids: Baker Book House, 1982), p. 21.
[19] Samuel Miller, Ensaio Introdutório a Thomas Scott, The Articles of the Synod of Dort (Harrisonburg: Sprinkle Publications, 1993), p. 63.
[20] Seaton, pp. 17-18.
[21] Leonard J. Coppes, Are Five Points Enough? The Ten Points of Calvinism (Denver: pelo autor, 1980), p. xi.
[22] Edwin H. Palmer, The Five Points of Calvinism, ed. amp. (Grand Rapids: Baker Book House, 1980), p. 5.
[23] D. James Kennedy, citado em Talbot e Crampton, p. iv.
[24] Boettner, Predestination, p. 352.
[25] Talbot e Crampton, p. 78.
[26] Arthur C. Custance, The Sovereignty of Grace (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1979), p. 302.
[27] Talbot e Crampton, p. 3.
[28] Loraine Boettner, The Reformed Faith (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1983), p. 2.
[29] Ibid.
[30] Cunningham, Reformers, p. 338.
[31] Warfield, Calvin, p. 506.
[32] Ibid, p. 499.
[33] Custance, p. 302.
[34] Engelsma, Defense of Calvinism, p. 4.
[35] Charles H. Spurgeon, Spurgeon’s Sovereign Grace Sermons (Edmonton: Still Waters Revival Books, 1990), p. 129.
[36] João Calvino, Institutes of the Christian Religion, ed. John T. McNeil, trad. Ford Lewis Battles (Philadelphia: The Westminster Press, 1960), p. 926 (III.xxi.5).
[37] Engelsma, Defense of Calvinism, p. 18.
Por Nivaldo Gomes.
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