Durante o primeiro e segundo semestre do terceiro ano (1556-57), Molina leu a Física de Aristóteles e foi influenciado por sua teoria de causalidade. De acordo com Aristóteles, existem quatro tipos de causas: causa material, a que explica de que algo é feito; causa formal, explica a forma ou o padrão que uma entidade segue para se tornar essa entidade; causa eficiente, explica a fonte real da mudança; e causa final, explica o propósito pretendido da mudança. Com respeito a causa eficiente, Molina subdividiu esta noção em causalidade primária, causalidade particular (direta) e causalidade geral (universal ou indireta). Molina defendeu que Deus é causa primária de tudo o que ocorre; nas palavras de Alfred Freddoso, Deus “criou os elementos originais do universo ex nihilo [do nada] e nenhuma criatura pode existir ou possui poder causal em nenhum intervalo de tempo a menos que Deus conserve esse poder causal e seu poder de ser em cada instante neste intervalo.” [Freddoso, “Introduction”, 16]. Contudo, isto não significa que Deus determina tudo o que ocorre ou é moralmente responsável por tudo. Molina sustentou que Deus é a causa direta ou particular quando Deus determina algo (pelo que Ele seria moralmente responsável) por produzir um efeito por si mesmo, desde que o poder causal de Deus em si mesmo controle a natureza específica desse efeito [Molina, Concordia, 2.14.13.25.]. Mas Molina insistiu que as criaturas possuem poder causal autêntico também e são, portanto, particulares e ainda causas secundárias. Contudo, para as criaturas exercitarem seu poder causal, Deus deve cooperar simultaneamente e indiretamente com eles para produzir o efeito pretendido. Quando Deus coopera dessa maneira com as criaturas, Deus age como uma causa geral do efeito, e Molina chamou de ação simultânea e indireta de Deus sua concorrência (Concursus generalis) [Ibid., 2.14.13.26.1.]. O termo geral indica que a natureza específica do efeito (ou seja, o bem ou o mal) não é, de forma alguma, atribuível a contribuição causal de Deus, apesar de essa contribuição ser necessária a fim de que qualquer efeito seja produzido. Antes, a maldade ou a bondade do efeito é devido apenas as criaturas, que são a causa particular desse efeito.
Para ilustrar, Molina observou que o sol contribui causalmente aos atos de pecado do homem ao prover calor e luz na terra, sem os quais os humanos não podem fazer nada. Por isso o sol não é moralmente responsável pelo pecado humano. Obviamente, no entanto, o sol não é moralmente responsável pelo pecado humano, pois nenhuma de suas contribuições causais determinaram a produção das ações pecaminosas. Os seres humanos escolheram livremente a capacitação causal do sol com respeito às ações pecaminosas e são, portanto, os únicos responsáveis pelo pecado [Ibid., 2.14.13.26.12.]. Exatamente da mesma forma, Molina asseverou, as criaturas usam a capacitação causal da concorrência geral de Deus com respeito às ações pecaminosas, apesar de que Deus não deseje absolutamente que a sua concorrência geral seja usada da maneira que é usada. Assim, como o sol, Deus é a causa geral do pecado humano (e tudo o mais que os humanos fazem), mas sem determinar ou ser moralmente responsável por eles. Como Freddoso colocou muito bem, para Molina “Deus é a paradigmática causa indeterminista” [Freddoso, “Introduction”, 19]. Ligada intimamente ao entendimento de Molina da causalidade divina estava sua análise da distinção de Aristóteles entre potencialidade e realidade. Molina argumentou que para essência individual, Deus conhece desde a eternidade, se e quando cada uma de suas potencialidades seriam efetivadas, ou por si mesmo ou por algum agente externo, sob qualquer circunstância [Molina, Commentaria,12.1.2.].
Tradução Walson Sales
Fonte: MacGregor, Kirk R. Luis de Molina: The Life and Theology of The Founder of Middle Knowledge. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, p. 53-55.
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