sexta-feira, 26 de setembro de 2025

O Dilúvio na Tradição Babilônica: Análise e Comparação com o Relato Bíblico – Parte 5

Por Walson Sales

Revisitando as Diferenças entre o Épico de Gilgamesh e a Narrativa Bíblica do Dilúvio

A controvérsia em torno do relato do dilúvio bíblico e sua suposta dependência do Épico de Gilgamesh tem sido debatida por acadêmicos, arqueólogos e teólogos. Embora existam semelhanças estruturais entre os relatos, as diferenças teológicas, morais e filosóficas são tão profundas que tornam insustentável a hipótese de plágio. Nesta última parte da série, revisitaremos essas diferenças e demonstramos a superioridade da narrativa bíblica.

1. Diferenças Fundamentais entre as Narrativas

1.1. Contraste Teológico: Monoteísmo vs. Politeísmo

A concepção de Deus nas duas narrativas é absolutamente divergente:

- O relato bíblico apresenta um Deus único, santo e justo, que executa julgamento sobre a humanidade por sua corrupção moral (Gênesis 6:5-7).

- O Épico de Gilgamesh descreve uma assembleia de deuses briguentos e inconsistentes, que causam o dilúvio por razões arbitrárias, sem uma base moral clara. Durante a destruição, os deuses se acovardam e se escondem, um contraste gritante com a soberania do Deus bíblico. 

Além disso, na narrativa babilônica, os deuses reagem ao sacrifício de Utnapishtim de forma degradante, "ajuntando-se como moscas" sobre a oferta. Já no relato de Gênesis, Deus responde ao sacrifício de Noé de maneira digna, estabelecendo uma aliança com a humanidade (Gênesis 8:21-22).

1.2. Contraste Moral: Justiça vs. Capricho Divino

A diferença moral entre os relatos é evidente:

- No Gênesis, Deus decide enviar o dilúvio devido à depravação moral extrema da humanidade (Gênesis 6:11-13), enquanto preserva Noé, um homem justo. O evento tem um propósito ético e didático. 

- No Épico de Gilgamesh, os deuses enviam o dilúvio sem justificativa clara. Não há uma ênfase em pecado ou arrependimento; em vez disso, a decisão é baseada em um capricho divino.

A justiça divina no relato bíblico é consistente com a noção de um Deus santo e moralmente perfeito, enquanto o politeísmo do Épico de Gilgamesh resulta em divindades moralmente contraditórias.

1.3. Contraste Filosófico: Ordem vs. Caos

A narrativa do Gênesis apresenta um universo governado por um Deus que cria, sustenta e governa o cosmos de forma ordenada. Em contraste:

- O pensamento babilônico mistura espírito e matéria, resultando em uma cosmovisão caótica e panteísta.

- O Épico de Gilgamesh atribui o dilúvio a fenômenos naturais personificados como divindades, como Adade (deus da tempestade) e Ninurta (deus da irrigação).

- Em Gênesis, Deus controla e utiliza as forças naturais, mas não é parte da criação.

Isso demonstra que a narrativa bíblica reflete uma cosmovisão superior, com um Criador transcendente e um universo regido por leis racionais.

2. Superioridade da Narrativa Bíblica 

2.1. Coerência Interna e Valor Histórico

O relato do Gênesis apresenta uma coerência narrativa e moral que está ausente no Épico de Gilgamesh. Além disso, as evidências arqueológicas, como os registros cuneiformes das antigas civilizações mesopotâmicas, mostram que diversas culturas preservaram memórias de uma grande inundação, reforçando a possibilidade de um evento histórico real.

2.2. Universalidade do Dilúvio

Muitos povos antigos possuem mitos sobre um dilúvio catastrófico, incluindo os sumérios, acádios, chineses, egípcios e até tribos indígenas das Américas. Isso sugere que o evento pode ter sido real, mas que diferentes culturas o registraram de maneiras distintas. O relato bíblico se destaca por sua clareza teológica e propósito moral.

2.3. Impacto Cultural e Teológico

A narrativa de Noé influenciou profundamente o pensamento judaico-cristão, fornecendo uma base para a doutrina da aliança e do juízo divino. Já o Épico de Gilgamesh permaneceu como um mito politeísta, sem impacto significativo na formação de uma teologia consistente. 

3. Conclusão: A Bíblia Plagiou o Épico de Gilgamesh?

As diferenças entre as narrativas são tão significativas que a hipótese de plágio não se sustenta. O relato bíblico não apenas se distingue pelo seu monoteísmo puro, mas também por sua superioridade moral e filosófica. Enquanto o Épico de Gilgamesh apresenta um dilúvio caótico e sem propósito, o Gênesis descreve um evento com ordem, justiça e significado espiritual.

Diante disso, a teoria de que Moisés ou os autores hebreus copiaram os mitos babilônicos carece de evidências concretas. Pelo contrário, a consistência do relato bíblico e sua preservação ao longo dos séculos reforçam sua confiabilidade histórica e teológica.

A Bíblia não é um mito derivado da Mesopotâmia, mas sim a revelação de Deus à humanidade, trazendo um relato autêntico e moralmente superior do dilúvio.

Bibliografia Utilizada e Leitura Sugerida

Obras sobre o Dilúvio, Antigo Testamento e Contexto do Oriente Médio Antigo

- Collins, John C. Did Adam and Eve Really Exist? Crossway, 2011.

- Walton, John H. Ancient Near Eastern Thought and the Old Testament: Introducing the Conceptual World of the Hebrew Bible. Baker Academic, 2006.

- Kaiser, Walter C. The Promise-Plan of God: A Biblical Theology of the Old and New Testaments. Zondervan, 2008. 

- Archer, Gleason L. A Survey of Old Testament Introduction. Moody Publishers, 2007. 

- Copan, Paul & Craig, William Lane. Creation Out of Nothing: A Biblical, Philosophical, and Scientific Exploration. Baker Academic, 2004.  

Estudos Apologéticos e Arqueológicos

- Geisler, Norman L. Enciclopédia de Apologética.* Vida Nova, 2002.

- Unger, Merrill F. Arqueologia do Antigo Testamento. Vida Nova, 2011.  

- Kitchen, Kenneth A. On the Reliability of the Old Testament. Eerdmans, 2003.  

- Sarfati, Jonathan. The Genesis Account: A Theological, Historical, and Scientific Commentary on Genesis 1–11. Creation Book Publishers, 2015.  

Estudos Específicos sobre o Dilúvio e o Gênesis

- Hasel, Gerhard F. The Biblical Flood: A Case Study of the Church’s Response to Extrabiblical Evidence. Andrews University Press, 1974.  


- Snelling, Andrew A. Earth’s Catastrophic Past: Geology, Creation, and the Flood. Institute for Creation Research, 2009.  


- Woodmorappe, John. Noah’s Ark: A Feasibility Study. Institute for Creation Research, 1996.  


- Young, Davis A. The Biblical Flood: A Case Study of the Church’s Response to Extrabiblical Evidence. Eerdmans, 1995. 

Esses autores trazem diferentes perspectivas — arqueológica, teológica, histórica e apologética —para a compreensão do Dilúvio e sua relação com os mitos do Oriente Médio Antigo. Essa seleção cobre desde a confiabilidade do relato bíblico até as evidências científicas e filosóficas que sustentam sua autenticidade.  

Portanto, monte sua biblioteca sobre o tema e nunca mais seja enganado pelos críticos.

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