Por Walson Sales
Em The Return of the God Hypothesis, Stephen C. Meyer examina como o materialismo científico ganhou tração na cultura contemporânea, impulsionado por um esforço midiático ateísta que busca desacreditar a crença em Deus. Desde o início dos anos 2000, figuras proeminentes como Richard Dawkins, Sam Harris e Neil deGrasse Tyson, entre outros, têm utilizado livros, programas de televisão e plataformas populares para promover a ideia de que a ciência, corretamente entendida, elimina a necessidade de um criador. Este artigo, como Parte 1 de uma análise em três partes, explora o surgimento desse movimento, conhecido como Novo Ateísmo, e suas estratégias para popularizar o materialismo. Aqui, examinaremos as vozes principais, suas narrativas e os argumentos centrais que sustentam essa campanha, destacando a força de sua retórica e as implicações de suas ideias, conforme delineadas por Meyer.
1. O Surgimento do Novo Ateísmo e a Revolução Editorial
Meyer observa que "nos últimos anos, vozes poderosas popularizaram o materialismo científico", destacando o impacto do Novo Ateísmo a partir de 2006. Esse movimento, liderado por cientistas e filósofos como Richard Dawkins, autor de The God Delusion, desencadeou uma sensação editorial global com uma série de best-sellers. Obras de Victor Stenger, Sam Harris, Christopher Hitchens, Daniel Dennett, Stephen Hawking e Lawrence Krauss seguiram o mesmo caminho, argumentando que a ciência mina a crença em Deus. O sucesso comercial desses livros reflete não apenas a habilidade retórica de seus autores, mas também um apetite cultural por narrativas que desafiem as tradições religiosas.
A força desse esforço reside em sua capacidade de alcançar um público amplo, transformando ideias acadêmicas em linguagem acessível. Dawkins, por exemplo, tornou-se uma figura quase icônica, com The God Delusion vendendo milhões de cópias. Essa revolução editorial foi complementada por outras mídias, como a série Cosmos: A Spacetime Odyssey de 2014, apresentada por Neil deGrasse Tyson na Fox e National Geographic. Meyer cita o credo materialista de Carl Sagan, reprisado na série: "O cosmos é tudo o que é, ou foi, ou será." Esse lema, ecoado por Tyson, ilustra como a mídia televisiva amplificou a mensagem ateísta, oferecendo uma visão de mundo que exclui o transcendente e apela à autoridade da ciência.
2. A Narrativa Darwiniana e a Ilusão do Design
Um dos argumentos centrais do Novo Ateísmo, conforme Meyer apresenta, é a reinterpretação darwiniana do design biológico. Ele escreve: "Segundo Dawkins e outros, a evidência de design nos organismos vivos por muito tempo forneceu a melhor razão para acreditar na existência de Deus, porque apelava a evidências científicas publicamente acessíveis." No entanto, Dawkins argumenta que, desde Darwin, sabemos que não há design real, apenas a "ilusão" ou "aparência" dele. O mecanismo evolutivo de mutação aleatória e seleção natural — o "relojoeiro cego" de Dawkins — teria o poder de imitar uma inteligência projetante sem ser guiado ou projetado.
Essa narrativa é poderosa por sua simplicidade e alinhamento com a biologia moderna. Bill Nye, o "Science Guy", reforça isso em Undeniable: Evolution and the Science of Creation, afirmando: "Talvez haja uma inteligência no comando do universo, mas a teoria de Darwin não mostra sinais disso e não precisa disso." Meyer destaca como essa ideia permitiu, nas palavras de Dawkins, "ser um ateu intelectualmente satisfeito". Contudo, a força desse argumento depende de uma premissa questionável: a suficiência do mecanismo darwiniano. Pesquisas contemporâneas, como as de Michael Behe sobre complexidade irredutível, sugerem que sistemas biológicos podem exceder a capacidade explicativa de processos não guiados, uma crítica que Meyer explora em outras partes de sua obra e que será abordada na Parte 2.
3. A Física como Substituta de Deus
Além da biologia, o Novo Ateísmo recorre à física para sustentar o materialismo. Meyer aponta que "outros novos ateus, incluindo Lawrence Krauss, dizem que a física torna a crença em Deus desnecessária." Krauss argumenta que as leis da física quântica explicam como o universo surgiu de "literalmente nada", enquanto Stephen Hawking, em The Grand Design, afirma: "Porque existe uma lei como a gravidade, o universo pode e vai se criar a partir do nada." Victor Stenger, em God: The Failed Hypothesis, segue uma linha semelhante, rejeitando a necessidade de um criador.
A força desse argumento está em sua ousadia metafísica e apelo à autoridade científica. Hawking, até sua morte em 2018, era uma figura de imenso prestígio, e sua declaração sobre a "criação espontânea" capturou a imaginação popular. No entanto, essa visão enfrenta problemas filosóficos. O "nada" de Krauss e Hawking não é um vácuo absoluto, mas um estado quântico regido por leis — o que levanta a questão: de onde vieram essas leis? A crítica de filósofos como David Albert, que revisou o livro de Krauss, destaca que tal "nada" é, na verdade, "algo", enfraquecendo a alegação de autossuficiência. Meyer, ao expor essas ideias, sugere uma fragilidade implícita que será aprofundada na Parte 2.
4. A Desconstrução da Crença Religiosa
O esforço ateísta midiático também busca deslegitimar a crença em Deus como um fenômeno irracional. Meyer observa que Daniel Dennett, em *Breaking the Spell*, "dá uma explicação evolutiva para a origem da crença religiosa", atribuindo-a a um impulso cognitivo programado pela evolução, e não a uma base racional ou evidencial. Para Dennett, o darwinismo atua como um "ácido universal", corroendo qualquer fundamento para a fé ou moralidade tradicional. Essa abordagem psicológica é complementada pela retórica de Dawkins, que chama a crença em Deus de "delírio".
A força aqui está na inversão narrativa: a religião, historicamente vista como fonte de significado, é reduzida a um subproduto evolutivo. Isso ressoa com uma sociedade secular que valoriza explicações científicas sobre metafísicas. Contudo, essa visão ignora a persistência da fé em contextos racionais e a complexidade das evidências históricas, como os relatos dos evangelhos, que desafiam uma explicação puramente naturalista. Meyer, ao destacar essa estratégia, prepara o terreno para uma defesa das evidências teístas, um tema que expandiremos na Parte 2.
Conclusão
O esforço ateísta midiático a favor do materialismo, conforme descrito por Stephen C. Meyer em The Return of the God Hypothesis, é um fenômeno cultural poderoso, sustentado por uma combinação de best-sellers, programas de TV e figuras carismáticas como Dawkins, Tyson e Hawking. Seus argumentos — da ilusão do design biológico à autossuficiência do universo físico e à desconstrução da fé — têm uma força retórica impressionante, apelando à autoridade da ciência e à sensibilidade moderna. Contudo, como esta Parte 1 sugere, essas ideias repousam sobre premissas que merecem escrutínio.
Na Parte 2, exploraremos as limitações desses argumentos, examinando as evidências que desafiam o materialismo e a robustez da hipótese teísta que Meyer defende. Por ora, fica claro que o Novo Ateísmo, embora bem-sucedido em popularizar sua visão, não é imune a questionamentos. Como disse o apóstolo Paulo, "examinai tudo; retende o que é bom" (1 Tessalonicenses 5:21) — um convite que o debate entre materialismo e teísmo continua a exigir.
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