quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Os inimigos da Bíblia – Parte 2


Apesar da negação, a Bíblia continua sendo o pilar da civilização ocidental

Por Walson Sales

A Bíblia é, para milhões de pessoas no mundo, a Palavra de Deus. Mais do que isso: é um compêndio sagrado que moldou a civilização ocidental, guiou o desenvolvimento de instituições fundamentais e ofereceu uma base moral e espiritual sólida para a humanidade. No entanto, há uma crescente hostilidade, especialmente no meio acadêmico, midiático e político, contra essa fonte de sabedoria milenar. Nesta segunda parte da série *Os inimigos da Bíblia*, analisaremos os principais argumentos levantados contra as Escrituras, desvelando suas fragilidades lógicas e contradições históricas. Apesar dos ataques, a Bíblia permanece como um farol de sentido, civilidade e verdade.

I. A rejeição elitista e sua frágil superioridade intelectual

Em círculos acadêmicos e de mídia, não é incomum encontrar a Bíblia sendo tratada com desprezo, como se fosse um livro de fábulas sem valor histórico ou moral. Christopher Hitchens, um dos mais vocais críticos da religião, declarou que o Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) é uma “ficção mal construída”. Segundo ele, qualquer mente pensante perceberia sua inconsistência narrativa. Tal afirmação, no entanto, escancara um viés ideológico mais do que uma análise honesta e intelectual do texto sagrado.

O problema de Hitchens e de muitos de seus pares está na arrogância do cientificismo – a ideia de que somente o método científico é capaz de produzir conhecimento verdadeiro. Isso exclui, de antemão, qualquer saber metafísico, moral ou espiritual. Contudo, essa própria crença não pode ser provada cientificamente, revelando um paradoxo lógico em sua base argumentativa.

Além disso, a crítica “intelectualizada” ignora deliberadamente o valor documental, cultural e transformador das Escrituras. A Bíblia não foi escrita como um romance moderno, mas como uma coletânea de textos históricos, poéticos, proféticos e sapiencials, com estilos literários próprios e contexto histórico bem definido. Nenhuma obra literária do mundo antigo possui tantas evidências manuscritas e arqueológicas como ela — um fato reconhecido mesmo por estudiosos não cristãos.

II. A acusação nietzschiana: quando o ódio fala mais alto que a razão

Nietzsche, em *O Anticristo*, oferece uma crítica visceral ao Cristianismo, chamando-o de "a mais terrível depravação imaginável", e acusando a Igreja de perverter todos os valores. Essa diatribe, por mais provocadora que seja, não resiste à mínima análise racional.

O niilismo nietzschiano propõe que, em vez de um Deus criador, o homem deve ser o criador dos seus próprios valores. Porém, a história mostra que a rejeição da moral cristã resultou, em muitos contextos, em barbárie. Regimes ateus do século XX, como o de Stalin, Mao e Pol Pot, exterminaram milhões de vidas humanas, justamente por não reconhecerem valor intrínseco algum à existência humana — um valor essencialmente cristão. Como destaca Dinesh D’Souza, quando se nega a existência de Deus, a dignidade humana se torna relativa, e a moral, fluida e manipulável.

Nietzsche não substituiu os valores cristãos por algo melhor, mas os rejeitou e deixou o ser humano em um vácuo moral existencial. O resultado foi a abertura para ideologias destrutivas no século XX.

III. A tentativa naturalista de explicar a fé: o reducionismo evolucionista

Autores como Richard Dawkins e Edward O. Wilson tentam enquadrar a fé religiosa dentro de uma moldura exclusivamente biológica e evolucionária. Para eles, a religião seria um subproduto da seleção natural: um mecanismo de sobrevivência social que, embora ilusório, teria trazido coesão a grupos primitivos.

Essa explicação, no entanto, é falaciosa e reducionista. Primeiro, porque assume que tudo que o ser humano experimenta pode ser explicado pela biologia — algo que não pode ser cientificamente provado, como já dissemos. Segundo, porque ela falha em explicar a universalidade da busca por sentido, transcendência e propósito que acompanha a humanidade desde seus primórdios.

O reverendo Randy Alcorn apresenta duas visões antagônicas: a do naturalismo ateísta, que reduz o ser humano a uma coincidência cósmica, e a do teísmo cristão, que o reconhece como imagem e semelhança de Deus. A primeira visão leva ao niilismo, à desesperança e à falta de propósito; a segunda confere dignidade, valor e esperança eterna. Como afirma Dinesh D’Souza, a cosmovisão cristã é existencialmente mais satisfatória, racionalmente coerente e moralmente superior.

IV. A contribuição incomparável da Bíblia para a civilização

Mesmo diante de todas as críticas, os frutos do Cristianismo e da Bíblia são inegáveis. D. James Kennedy enumera uma lista impressionante de conquistas civilizacionais promovidas por aqueles que se guiaram pelas Escrituras. A lista inclui:

A criação dos hospitais e universidades;

A alfabetização e a educação popular;

A valorização das mulheres e a abolição da escravatura;

O surgimento da ciência moderna;

O estabelecimento do governo representativo e da separação de poderes;

A codificação de línguas, a preservação da arte e da música;

A inspiração ética para milhões de obras de caridade.

Tais contribuições não surgiram por acaso, mas a partir de uma visão de mundo centrada na dignidade humana, na moralidade objetiva e na esperança eterna. Como bem disse Napoleão Bonaparte: “Nações desaparecem, tronos caem, mas a Igreja permanece.”

Rodney Stark, sociólogo e historiador, argumenta que a ascensão do Ocidente deve-se em grande parte ao legado cristão e bíblico. Diferente da narrativa secular progressista, que tenta reescrever a história apagando a influência cristã, Stark documenta que o impulso por ciência, justiça, caridade e dignidade nasceu do solo bíblico.

V. A raiz do ódio: o temor da religião

Por que tantos intelectuais modernos detestam a Bíblia? Thomas Nagel, filósofo ateu, oferece uma resposta surpreendente. Segundo ele, há uma espécie de “medo da religião” nos círculos acadêmicos. A possibilidade de que o universo tenha sentido e que a mente humana esteja conectada a uma verdade transcendente é profundamente desconfortável para muitos. Nagel admite que “não é apenas que eu não acredite em Deus; é que eu não quero que Deus exista”.

Essa confissão é reveladora: o problema com a Bíblia não é apenas intelectual, mas moral e existencial. Muitos não rejeitam a Bíblia porque a estudaram, mas porque não desejam que ela seja verdadeira. Isso confirma o diagnóstico bíblico de que os homens preferiram as trevas à luz porque suas obras eram más (João 3:19).

Conclusão

A Bíblia resiste aos ataques dos séculos como um farol resistente em meio às tempestades da incredulidade. Os argumentos levantados por seus detratores são frequentemente superficiais, motivados por ideologias e preconceitos, e não por uma análise honesta e imparcial.

As Escrituras não apenas sobreviveram às investidas de críticos como Nietzsche, Hitchens ou Dawkins, mas continuam transformando vidas, culturas e nações. Suas palavras permanecem como fundamentos para o direito, a moral, a dignidade humana e a esperança.

A crítica pode ser barulhenta, mas não é definitiva. Como já dizia Spurgeon: “A Bíblia não precisa ser defendida, assim como um leão não precisa de defesa. Basta soltá-la.” E, de fato, por mais que tentem acorrentá-la com o desprezo e o escárnio, ela continua a correr, livre, como um rio de vida, alimentando a alma da civilização ocidental.

Bibliografia utilizada e sugerida:

D'SOUZA, Dinesh. A verdade sobre o Cristianismo: Por que a religião criada por Jesus é moderna, fascinante e inquestionável. (Tradução Valéria Lamim Delgado Fernandes). Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2008.

GEISLER, Norman L.; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida, 2005.

HITCHENS, Christopher. Deus não é grande: Como a religião envenena tudo. (Tradução do original God is not Great). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.

HITCHENS, Peter. The Rage Against God: how atheism led me to faith. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 2010.

HUTCHINSON, Robert J. Uma história politicamente incorreta da Bíblia. (Tradução Fabíola Moura). Rio de Janeiro: Agir, 2012.

KENNEDY, D. James; NEWCOMBE, Jerry. E se Jesus não tivesse nascido? (Tradução James Monteiro dos Reis; Maura Nasseti). São Paulo: Editora Vida, 2003.

MORELAND, J. P.; CRAIG, William Lane. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo: Vida Nova, 2015.

STARK, Rodney. The Triumph of Christianity: How the Jesus Movement Became the World's Largest Religion. San Francisco: HaperOne, 2011

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