sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Série Cosmovisões: Definindo o Ateísmo e Demonstrando Suas Fraquezas

Parte 2 – Falhas Racionais e Efeitos Devastadores do Ateísmo

Por Walson Sales

O ateísmo contemporâneo, apesar de seu apelo popular entre setores acadêmicos e culturais, permanece, em sua essência, uma negação. Ele se propõe a negar a existência de Deus, rejeitar a metafísica cristã e a substituir os fundamentos teístas da racionalidade e da moralidade por uma base naturalista. No entanto, conforme demonstrado por David R. C. Deane no capítulo “O que é o Ateísmo e qual é a sua falha essencial?” do Guia Geral da Apologética Cristã, essa negação se sustenta sobre alicerces frágeis e autorrefutáveis. Deane nos conduz a uma análise minuciosa da inconsistência interna do ateísmo e dos efeitos corrosivos que sua lógica impõe à razão, à ciência, à moral e à própria existência humana.

Neste artigo, pretendemos explorar e ampliar os argumentos de Deane, demonstrando que o ateísmo não apenas falha racionalmente, mas carrega consigo consequências devastadoras para a cosmovisão humana. Também argumentaremos que a razão e a fé cristã não são inimigas; ao contrário, a razão encontra sua justificação última no teísmo, enquanto o ateísmo não oferece base racional para o conhecimento, uma vez que não consegue justificar sua própria crença fundamental: a negação de Deus. Por fim, indicaremos o caminho para a Parte 3 desta série, na qual compararemos o ateísmo com o teísmo, destacando a superioridade racional, moral e existencial da visão cristã de mundo.

1. A ausência de provas e a carga da argumentação

David R. C. Deane inicia sua análise com uma indagação provocadora: se não há provas positivas da inexistência de Deus, que razões há para se crer que Ele não existe? O argumento ateísta muitas vezes se limita a afirmar que não há boas razões para acreditar em Deus. Contudo, essa posição é duplamente problemática. Primeiro, porque ela exige uma definição de “bom” — o que, por si só, pressupõe um padrão moral ou racional objetivo que o ateísmo não consegue justificar. Segundo, porque ela ignora o fato histórico incontornável de que nunca houve uma sociedade humana sem alguma forma de transcendência ou senso do divino.

Essa universalidade da experiência religiosa humana aponta para uma inclinação natural do ser humano a reconhecer uma realidade que transcende a matéria. Como G. K. Chesterton afirmou com ironia penetrante: “Se não houvesse Deus, não haveria ateus.” O próprio conceito de “ateísmo” só faz sentido se houver algo a ser negado. Assim, o ateísmo já começa seu projeto com uma contradição: ele só pode negar Deus porque, paradoxalmente, deve primeiro assumir uma noção do que está negando.

2. A circularidade irracional do ateísmo

Ao recusar a existência de Deus, o ateísmo se vê forçado a redefinir todos os critérios da razão à luz de uma natureza fechada e materialista. De acordo com Deane, a crença ateísta é anterior e independente de quaisquer razões para a crença de que Deus não existe. Isso equivale a afirmar que o ateísmo é mais uma disposição existencial ou ideológica do que uma conclusão racional.

Essa circularidade se evidencia na crítica de Chesterton: “Se eu disser que um camponês viu um fantasma, eles me dizem que os camponeses são muito crédulos. Se eu perguntar por que são crédulos, a única resposta é que eles veem fantasmas.” Aplicado ao ateísmo, o raciocínio seria: “A crença em Deus é irracional porque não há Deus; e sabemos que não há Deus porque é irracional acreditar nele.” Trata-se de um círculo vicioso que mina a própria razão ateísta e desacredita qualquer juízo que venha dela. Como brinca o cientista e apologeta John Lennox: “Ele não atira apenas no próprio pé, o que é doloroso; ele atira no próprio cérebro, o que é fatal.”

3. As caricaturas do divino e os ídolos da razão naturalista

Livros populares como Deus, um delírio (Richard Dawkins), Deus não é grande (Christopher Hitchens), God: The Failed Hypothesis (Victor Stenger) e outros, apesar de sua retórica poderosa, criticam um deus que o Cristianismo nunca afirmou existir. Criam-se caricaturas de divindades semelhantes a Zeus, Odin ou até ao “Monstro do Espaguete Voador” para, então, ridicularizar a ideia de Deus. No entanto, o Deus cristão não é um ente entre outros entes, uma criatura poderosa ou uma invenção folclórica. Ele é o próprio fundamento do ser, a fonte de toda realidade contingente. Como ensina o Êxodo: “Eu Sou o que Sou” (Ex 3.14).

Ao perguntar “Quem criou o Criador?”, os críticos revelam que ainda operam dentro de um paradigma naturalista. A questão só faz sentido se Deus for uma entidade criada, sujeita ao tempo e espaço. Mas o Deus bíblico é eterno, atemporal, imaterial — não pode ser colocado em um tubo de ensaio ou limitado pelas leis da física que Ele mesmo instituiu.

4. O ateísmo como escravidão da razão ao naturalismo

O compromisso ateísta com a inexistência de Deus força o ateu a submeter toda a razão ao domínio da natureza. Isso significa que todas as explicações devem vir exclusivamente da física, da química ou da biologia — e qualquer noção de propósito, moralidade objetiva ou transcendência é descartada como “ilusória”.

Contudo, esse reducionismo gera consequências dramáticas. Se todos os nossos pensamentos são apenas o produto de reações químicas determinadas, então não há espaço para livre-arbítrio, verdade objetiva ou mesmo confiança racional. Como C. S. Lewis advertiu em Milagres: “Se minha mente é apenas o produto de causas irracionais, então não posso confiar na validade de nenhuma de minhas crenças, incluindo o naturalismo.” Em outras palavras, o ateísmo implode a própria base da racionalidade que pretende preservar.

5. Efeitos devastadores: moralidade, dignidade e sentido

Se Deus não existe, tudo é permitido — essa máxima, atribuída a Dostoiévski, resume bem o dilema moral do ateísmo. Sem um referencial transcendente, a moral se torna subjetiva, relativa, produto de preferências culturais ou impulsos evolucionários. A dignidade humana é reduzida à biologia, e o sentido da vida desaparece no abismo do niilismo.

Deane identifica esse efeito como corrosivo, pois não afeta apenas as ideias, mas toda a vida humana. Quando a cultura adota o ateísmo como fundação, ela perde o solo firme da verdade, da justiça, da esperança. A história dos regimes totalitários do século XX, muitos dos quais fundados sobre uma cosmovisão ateísta (como o comunismo soviético), demonstra o poder destrutivo de sistemas que negam o transcendente.

6. Fé e razão: aliadas no conhecimento

Um dos enganos mais persistentes é a falsa dicotomia entre fé e razão. No entanto, como apontam filósofos cristãos como Alvin Plantinga e William Lane Craig, todo conhecimento envolve crença justificada. A razão não é um substituto da fé, mas seu instrumento. O cristianismo oferece as bases para o uso confiável da razão: a mente humana foi criada por um Deus racional para compreender uma criação ordenada.

O ateísmo, por outro lado, não possui qualquer justificação última para a crença na razão, nem na validade do conhecimento. Como pode confiar na razão alguém que crê ser apenas o produto de forças irracionais da natureza?

Conclusão: o impasse do ateísmo e a promessa do teísmo

O ateísmo, longe de ser uma alternativa racional ao teísmo, se revela um sistema defeituoso, circular, incapaz de justificar sua própria lógica, moralidade ou sentido da existência. Sua tentativa de negar Deus resulta em negar a própria razão — um suicídio intelectual. Como vimos, as falhas racionais do ateísmo não são meramente acadêmicas: elas trazem efeitos devastadores para a cultura, a sociedade e a alma humana.

Em contraste, a cosmovisão teísta cristã sustenta a razão, a moral, a dignidade e a esperança. Ela afirma um Deus eterno e pessoal, fonte de toda verdade e existência, cuja revelação em Jesus Cristo não apenas responde aos anseios da razão, mas também transforma o coração humano.

Na Parte 3 desta série, avançaremos para uma comparação sistemática entre o ateísmo e o teísmo, analisando qual das duas cosmovisões oferece respostas mais coerentes, completas e satisfatórias para as grandes questões da vida: origem, propósito, moralidade e destino.

Bibliografia utilizada e sugerida:

- DEANE, David R. C. O que é o Ateísmo e qual é a sua falha essencial? In HOLDEN, Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.  

- CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.  

- LENNOX, John C. Seven Days That Divide the World: The Beginning According to Genesis and Science. 10th Anniversary Edition. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2021

- CRAIG, William Lane. Em guarda: Defenda a fé cristã com razão e precisão. São Paulo: Vida Nova, 2011.

- PLANTINGA, Alvin. Warranted Christian Belief. Oxford: Oxford University Press, 2000.  

- LEWIS, C. S. Milagres. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2021.  

- GEISLER, Norman L.; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida, 2008.

Série Cosmovisões: Definindo o Ateísmo e Demonstrando Suas Fraquezas

Parte 3 - Breve Comparação entre Ateísmo e Teísmo: O que Explica Melhor a Realidade?

Por Walson Sales

A presente análise encerra a série sobre o "Ateísmo", culminando na comparação entre o ateísmo e o teísmo cristão, com base no texto de David R. C. Deane, incluído no livro Guia Geral da Apologética Cristã, editado por Joseph M. Holden. Esta comparação visa avaliar qual dessas cosmovisões oferece uma explicação mais coerente e abrangente para a realidade.

1. Divergência Fundamental: A Natureza de Deus

A separação entre ateus e teístas cristãos ocorre na concepção da natureza de Deus. Enquanto o ateísmo considera Deus como uma construção imaginária, o teísmo cristão o reconhece como uma realidade transcendente e pessoal. Deane enfatiza que, para um diálogo significativo, é essencial compreender a natureza de Deus conforme revelada nas Escrituras.

2. A Realidade Aponta para uma Causa Sobrenatural

A estrutura do universo sugere uma causa sobrenatural:

-Tempo Criado: Implica um criador eterno.

-Espaço Criado: Indica um criador transcendente.

-Matéria Criada: Sugere um criador imaterial.

-Complexidade do Universo: Aponta para uma inteligência suprema.

-Seres Humanos Pessoais: Revelam um criador pessoal.

-Moralidade Humana: Reflete uma fonte moral absoluta.

Esses aspectos corroboram a visão teísta de um Deus criador e sustentador de todas as coisas. 

3. A Coerência do Teísmo Cristão

O teísmo cristão oferece uma explicação abrangente para a realidade:

-Origem do Universo: Deus cria ex nihilo.

-Ordem e Design: A criação reflete a sabedoria divina.

-Consciência e Moralidade: Derivam de um Deus pessoal e moral.

-Sentido e Propósito: Encontrados na relação com Deus.

Essa cosmovisão integra razão e fé, ciência e espiritualidade, oferecendo uma compreensão holística da existência.

4. Limitações do Ateísmo

O ateísmo, ao negar a existência de Deus, enfrenta dificuldades em explicar:

-Origem do Universo: Sem uma causa primeira, a existência do universo permanece inexplicada.

-Ordem e Complexidade: Atribuir a complexidade à aleatoriedade carece de fundamento.

-Consciência e Moralidade: Sem uma fonte transcendente, valores morais tornam-se relativos.

-Sentido e Propósito: A vida carece de significado intrínseco.

Essas limitações evidenciam a insuficiência do ateísmo em fornecer uma explicação satisfatória para a realidade.

5. Fé e Razão: Aliadas na Busca pela Verdade

Contrariando a visão de que fé e razão são opostas, o teísmo cristão as vê como complementares. Alvin Plantinga argumenta que a crença em Deus pode ser uma crença básica, racional e justificada. Além disso, a fé cristã é fundamentada em evidências históricas e experiências pessoais, integrando-se à razão na busca pela verdade. 

Conclusão

A análise comparativa entre o ateísmo e o teísmo cristão revela que o teísmo oferece uma explicação mais coerente e abrangente para a realidade. Ele responde satisfatoriamente às questões fundamentais sobre a origem, ordem, moralidade e propósito da vida. Ao integrar fé e razão, o teísmo cristão proporciona uma cosmovisão que não apenas explica o mundo, mas também oferece sentido e esperança.

Bibliografia utilizada e sugerida:

- DEANE, David R. C. O que é o Ateísmo e qual é a sua falha essencial? In HOLDEN, Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.

- PLANTINGA, Alvin. God and Other Minds: A Study of the Rational Justification of Belief in God. Cornell University Press, 1967.

- LENNOX, John C. Seven Days That Divide the World: The Beginning According to Genesis and Science. Zondervan, 2011.

- DAWKINS, Richard. The God Delusion. Houghton Mifflin Harcourt, 2006.

- HARRIS, Sam. The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason. W. W. Norton & Company, 2005.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Série Cosmovisões: Definindo o Ateísmo e demonstrando suas fraquezas

Parte 1 – Definindo o Ateísmo e os fundamentos da “crença” ateísta

Por Walson Sales

Refletir sobre o ateísmo como cosmovisão é uma tarefa desafiadora, mas absolutamente necessária em uma era marcada pelo ceticismo, pelo relativismo e pelo avanço de correntes filosóficas que negam a centralidade de Deus na explicação da realidade. Este artigo tem por objetivo analisar, com rigor filosófico e apologético, os fundamentos do ateísmo contemporâneo, tomando como base o texto de David R. C. Deane no capítulo “O que é o Ateísmo e qual é a sua falha essencial?”, presente na obra Guia Geral da Apologética Cristã, organizada por Joseph M. Holden.  

Tenho a honra de abordar esse tema após escrever três livros diretamente voltados ao estudo crítico do ateísmo e dois outros que lidam com implicações profundas da visão de mundo ateísta. As obras Ateísmo: Respostas às Objeções à Veracidade do Cristianismo (Editora Beréia), A existência de Deus e os ateus: uma apologética com diálogo* (Editora Fasa) e A visão de mundo ateísta (Fasa), somadas aos dois volumes de Apologética para Hoje (Amazon KDP), fornecem um pano de fundo sólido que sustenta a abordagem crítica e embasada que será apresentada neste texto.

Como toda cosmovisão, o ateísmo tenta responder a, pelo menos, onze aspectos fundamentais da realidade: Deus, metafísica, ética, epistemologia, antropologia, história, origem, identidade, propósito, moralidade e destino. As seis primeiras áreas são destacadas por Ronald H. Nash em sua clássica obra Questões Últimas da Vida: Uma Introdução à Filosofia, enquanto os cinco últimos aspectos são sistematizados por Frank Turek e Norman Geisler em Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu, livros, portanto, que recomendo veementemente.

1. A história complexa do ateísmo e suas metamorfoses conceituais

David R. C. Deane inicia sua análise com uma observação precisa e pertinente: o ateísmo não é um conceito fixo e estático, mas sim uma ideia que sofreu diversas alterações ao longo do tempo. Na Antiguidade e na Idade Média, o termo era frequentemente utilizado como acusação, não como identidade. Sócrates, por exemplo, foi condenado por “ateísmo”, embora sua “culpa” estivesse relacionada à recusa em adorar os deuses do panteão grego. Curiosamente, os primeiros cristãos também foram chamados de “ateus” pelos romanos por se recusarem a reverenciar os múltiplos deuses da religião oficial do império.

A modernidade, com sua ruptura epistemológica e seu entusiasmo pela razão e pela ciência, foi o solo fértil para o crescimento do ateísmo como cosmovisão. Entre os séculos XV e XVII, as revoluções científicas, filosóficas e sociais criaram um ambiente em que o ateísmo deixou de ser meramente uma acusação ou marginalidade intelectual e se tornou um sistema articulado de negação de Deus.

Essa transformação levou o ateísmo a adquirir força como um sistema filosófico que se sustenta na negação das realidades transcendentais. Deane aponta que o ateísmo moderno não surgiu isoladamente, mas como resultado da convergência de diversas filosofias naturalistas e humanistas. Essa convergência criou uma base ideológica comum: o naturalismo secular, que considera a natureza como o fato último e único.

2. A definição de ateísmo e a necessidade de coerência conceitual

Deane adota a definição de ateísmo proposta por Stephen Bullivant e Lois Lee no *Oxford Dictionary of Atheism* (2016), que compreende o ateísmo como “uma crença na inexistência de um Deus ou deuses, ou (mais amplamente) na ausência de crença em sua existência.” O autor restringe sua análise ao primeiro sentido: a crença na inexistência de Deus, especificamente no contexto do teísmo cristão.

O ponto é fundamental. O ateísmo não pode se esconder sob a indefinição conceitual. Para ser tratado como uma cosmovisão, ele precisa oferecer respostas, sustentar afirmações e arcar com o ônus da prova. Como Phillip Johnson expressa de forma contundente:  

> “Aquele que nega um conjunto específico de crenças é, na verdade, um crente em um outro conjunto específico de crenças.”

Essa frase ilustra uma realidade que muitos ateus modernos procuram evitar: negar Deus é assumir uma posição metafísica alternativa. O ateísmo não é neutro, mas está comprometido com uma determinada visão da realidade – geralmente naturalista, materialista e imanente. Como tal, precisa ser tratado com o mesmo rigor crítico que qualquer outra cosmovisão.

3. A crença ateísta como construção racional e suas bases frágeis

Deane destaca que a crença, para ser considerada conhecimento, precisa ser uma "crença verdadeira justificada", conceito já presente na epistemologia de Platão. Assim, a questão não é apenas o que o ateu crê, mas com que fundamento ele crê. E aqui se revela uma fragilidade estrutural do ateísmo: sua base epistêmica repousa sobre a negação de uma realidade que, por definição, ele não pode provar inexistente.

Como Austin Farrer observa, a disputa entre o crente e o ateu não é sobre o sentido de buscar um “fato final”, mas sobre qual fato final se sustenta: para o teísta, esse fato é Deus; para o ateu, é o universo. Trata-se, portanto, de uma disputa entre dois fundamentos ontológicos distintos. E o ônus de justificar a ausência de Deus repousa igualmente sobre quem afirma sua inexistência, mesmo que muitos ateus tentem escapar disso com jogos semânticos.

4. Agnosticismo disfarçado: uma fuga do ônus da prova

Muitos ateus, confrontados com o ônus da prova, recuam para o agnosticismo, alegando não ter certeza da inexistência de Deus, mas apenas uma ausência de crença. Contudo, essa posição é, muitas vezes, uma camuflagem conceitual. Como Deane observa, há uma diferença lógica entre dizer “não acredito que Deus exista” e “acredito que Deus não existe”. O primeiro é uma posição de dúvida; o segundo é uma afirmação positiva e exige justificação racional.

A tentativa de redefinir o ateísmo como “mera ausência de crença” é um recurso conveniente para escapar da responsabilidade argumentativa. Contudo, se o ateísmo quiser ser levado a sério como cosmovisão (e não como uma identidade meramente negativa ou social), ele precisa se comprometer com argumentos robustos e responder às grandes questões da vida.

5. O ateísmo como cosmovisão: respostas insuficientes às questões fundamentais

Toda cosmovisão precisa oferecer respostas plausíveis às 11 questões mencionadas anteriormente. Quando analisamos o ateísmo à luz dessas categorias, vemos que ele fracassa em fornecer uma estrutura coerente e abrangente:

- Deus: nega Sua existência sem justificativa conclusiva.

- Metafísica: reduz tudo à matéria, eliminando o transcendente.

- Ética: não oferece fundamento objetivo para valores morais universais.

- Epistemologia: depende de processos mentais supostamente racionais, sem explicar a origem da razão em um universo irracional.

- Antropologia: reduz o ser humano a um animal avançado, negando dignidade intrínseca.

- História: vê os eventos como aleatórios, sem propósito final.

- Origem: propõe explicações naturalistas frágeis e especulativas.

- Identidade: não fornece base sólida para o “eu” consciente e pessoal.

- Propósito: afirma que a vida não tem propósito objetivo.

- Moralidade: adota relativismo moral ou utilitarismo, ambos instáveis.

- Destino: oferece apenas o niilismo como destino final.

Conclusão

O ateísmo, longe de ser uma posição neutra ou meramente cética, é uma cosmovisão com pressupostos bem definidos e implicações profundas. Como toda visão de mundo, ele busca responder às grandes perguntas da existência, mas o faz com bases epistemológicas e ontológicas frágeis. Sua tentativa de escapar do ônus da prova por meio de redefinições e recuos ao agnosticismo revela uma postura mais ideológica do que racional.

David R. C. Deane, com precisão e equilíbrio, desmascara as ambiguidades conceituais do ateísmo contemporâneo, oferecendo ao leitor cristão um mapa para compreender, criticar e responder a essa cosmovisão de forma sólida. Ao publicar este artigo, desejo não apenas divulgar os conteúdos valiosos do texto de Deane, mas também reforçar a necessidade de treinarmos a nova geração com argumentos racionais, lógicos e fundamentados na verdade da fé cristã.

Este artigo é apenas a primeira parte de uma série de três artigos que se dedicará a demonstrar as fraquezas lógicas, morais e existenciais do ateísmo, fortalecendo a apologética cristã em tempos de batalha intelectual intensa.

Bibliografia utilizada e sugerida:

- DEANE, David R. C. O que é o Ateísmo e qual é a sua falha essencial? In HOLDEN, Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.

- JOHNSON, Phillip. Reason in the Balance: The Case Against Naturalism in Science, Law and Education. InterVarsity Press, 1995.

- NASH, Ronald H. Questões Últimas da Vida: Uma Introdução à Filosofia. Cultura Cristã, 2007.

- TUREK, Frank; GEISLER, Norman L. Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu. Vida, 2014.

- CRAIG, William Lane. Em Guarda: Defenda a Fé Cristã com Razão e Precisão. Vida Nova, 2011.  

- SALES, Walson. Ateísmo: Respostas às Objeções à Veracidade do Cristianismo. Editora Beréia.  

- SALES, Walson. A Existência de Deus e os Ateus: uma Apologética com Diálogo. Editora Fasa. 

- SALES, Walson. A Visão de Mundo Ateísta. Editora Fasa.  

- SALES, Walson. Apologética para Hoje: Respostas Racionais para Fortalecer a Fé em Tempos de Batalha Intelectual, Volumes 1 e 2. Amazon KDP.