sábado, 13 de dezembro de 2025

Série Cosmovisões: Definindo o Panteísmo – Parte 2 – Os Tentáculos do Panteísmo

Uma visão abrangente e uma resposta apologética vigorosa à cosmovisão panteísta

Por Walson Sales

O panteísmo está longe de ser uma filosofia marginal. Ele perpassa grande parte das religiões orientais, influencia profundamente movimentos espirituais contemporâneos, invade a cultura popular por meio do cinema, da literatura e das práticas de bem-estar, e molda a mentalidade de milhões ao redor do mundo. Na Parte 1 desta série, abordamos a definição essencial do panteísmo e seu fascínio atual. Nesta Parte 2, aprofundaremos suas principais crenças e faremos uma análise apologética crítica e robusta à luz da cosmovisão cristã.

Baseando-se no texto de Patrick Zukeran, presente na obra Guia Geral da Apologética Cristã, editada por Joseph M. Holden, este artigo apresenta os pilares da visão de mundo panteísta e propõe uma resposta teísta-cristã lógica, ética e teologicamente coerente.

1. A Natureza do Universo: Tudo é Deus

O panteísmo entende que o universo não foi criado ex nihilo (do nada), como ensina o teísmo bíblico, mas que ele emana de Deus (ex deo), como uma teia da aranha que se estende de seu próprio corpo. Deus é a única e verdadeira realidade, e o universo é uma extensão ou manifestação dessa realidade divina. Os Upanixades afirmam:  

> “Tudo neste mundo efêmero pertence ao Senhor, porque todo o universo saiu dele. Ele permeia tudo no universo.”

O panteísmo absoluto, especialmente no budismo, interpreta o universo físico como *maya*, isto é, ilusão. Tudo o que muda é ilusório; a verdadeira realidade é permanente, transcendente e impessoal. Em contraste, o teísmo cristão afirma que Deus criou o universo como algo real, bom, distinto de si mesmo e dotado de sentido e propósito. Deus é o Criador, e o cosmos é sua criação, não sua extensão.

Resposta apologética:

A negação da realidade do mundo físico conduz ao colapso do conhecimento empírico e do senso comum. Se tudo o que percebemos é ilusão, como confiar em qualquer percepção da realidade, inclusive na ideia de que tudo é ilusão? A visão bíblica é epistemicamente mais robusta: ela afirma a realidade do mundo físico e fornece uma base confiável para a ciência, a moralidade e o valor da vida.

2. A Natureza do Homem: O Eu é Ilusão

O panteísmo afirma que o indivíduo humano, o atman, é idêntico ao Brahma. Não existe um “eu” pessoal real, mas apenas um princípio impessoal que precisa ser reconhecido como parte do todo. A expressão hindu "Atman é Brahma" resume essa concepção. O verdadeiro “eu” é impessoal, e a individualidade é vista como ignorância espiritual.

Segundo os Upanixades:

> “Quando um homem se identifica com seu corpo, com todas as suas limitações, então ele é uma criatura minúscula [...]. Quando ele se identifica com seu eu interior, o Atman, que é ilimitado, imortal e feliz, ele alcança a divindade nesta mesma vida.”

Resposta apologética:

Se a individualidade é mera ilusão, desaparece a base para o valor intrínseco da pessoa, a liberdade moral e a responsabilidade ética. A visão cristã, ao contrário, reconhece o ser humano como criatura única, feita à imagem de Deus, dotada de valor, dignidade e individualidade. O cristianismo promove uma ontologia pessoal, na qual o indivíduo tem identidade real e é chamado a um relacionamento pessoal com Deus.

3. Destino Humano: O Ciclo da Reencarnação

No panteísmo, o ser humano está preso ao ciclo do samsara, o ciclo de renascimentos, governado pela lei do carma. As ações realizadas nesta vida — boas ou más — determinam o estado da existência futura. A alma (*atman*) vagueia, reencarnando sucessivamente até alcançar a iluminação que põe fim ao ciclo e absorve o ser no divino.

Resposta apologética:  

A doutrina da reencarnação contradiz a realidade da justiça. Se a dor e a miséria são resultados de más ações em vidas passadas, isso legitima a indiferença diante do sofrimento e perpetua sistemas opressivos. A doutrina bíblica ensina que o ser humano morre uma só vez e, em seguida, enfrenta o juízo (Hb 9.27). O destino eterno é decidido nesta vida e depende da resposta ao chamado de Deus. O cristianismo oferece esperança real, pessoal e redentora, baseada na graça e não no esforço humano.

4. Salvação: Iluminação ou Graça?

No panteísmo, o problema do ser humano é a ignorância de sua identidade divina. A salvação ocorre quando se alcança a iluminação, isto é, o reconhecimento de que o eu é um com o absoluto. Essa salvação é fruto de esforço próprio, de práticas espirituais e ascéticas que buscam a união com o divino.

O estudioso Shyam Shukla afirma:

> “O homem, ao se identificar com seu corpo, é fraco e mortal; ao se identificar com o Atman, alcança a divindade.”

Resposta apologética:

A salvação, segundo o cristianismo, não é alcançada por esforço humano, mas é um dom de Deus, oferecido por meio de Jesus Cristo. O Salvador pagou o preço da redenção humana por sua morte na cruz. A ideia panteísta de que o eu se salva a si mesmo é incoerente com a constatação universal da incapacidade humana de atingir perfeição. Somente o Evangelho oferece uma salvação realista e graciosa.

5. Pluralismo Religioso: Todos os Caminhos Levam a Deus?

O panteísmo sustenta que, já que tudo é um, todas as religiões são manifestações legítimas do mesmo absoluto. O pluralismo é, portanto, consequência lógica. Jesus é visto apenas como um mestre iluminado entre outros, um caminho entre muitos.

Resposta apologética:

A afirmação de que todas as religiões são iguais contradiz as próprias religiões, que fazem reivindicações mutuamente exclusivas. O cristianismo afirma que Jesus é o único caminho, verdade e vida (Jo 14.6). Ou ele é quem disse ser — o Filho de Deus, único mediador entre Deus e os homens — ou foi um impostor ou iludido. O pluralismo dissolve a verdade em nome da tolerância e resulta numa incoerência lógica.

6. Ética: Além do Bem e do Mal?

Embora as tradições panteístas exortem uma vida moral, afirmam que a moralidade é apenas uma etapa no caminho para a iluminação. Uma vez iluminado, o indivíduo transcende o bem e o mal. A Rider Encyclopedia of Eastern Philosophy and Religion explica:

> “Deus está além do bem e do mal, e o homem deve transcendê-los como Deus. A realidade última está além do bem e do mal [...] o bem e o mal são uma ilusão.”

Resposta apologética:

A negação de absolutos morais implica que nenhuma ação pode ser objetivamente errada. Isso anula qualquer base firme para a justiça, os direitos humanos e a condenação de práticas perversas. O teísmo cristão oferece uma base objetiva para a moralidade: Deus é o Legislador Moral, e seu caráter é o padrão do bem. A lei de Deus é refletida na consciência humana e revelada nas Escrituras (Rm 2.14–15).

Conclusão

O panteísmo oferece uma cosmovisão sedutora por sua aparente profundidade espiritual, unidade com o universo e promessa de iluminação. Contudo, sua proposta dissolve a realidade, despersonaliza o ser humano, anula a moralidade e oferece uma salvação impossível por esforço próprio.

A apologética cristã precisa responder com firmeza e compaixão. A visão teísta bíblica afirma um Deus pessoal, criador e distinto do universo, que valoriza cada indivíduo, revela a verdade, estabelece padrões morais e oferece salvação por meio de um relacionamento com Jesus Cristo.

Conforme expressa Norman Geisler:

> “A verdade não pode ser todas as coisas para todas as pessoas ao mesmo tempo. O panteísmo, em sua essência, nega a diferença entre verdade e erro — e, ao fazê-lo, contradiz a própria razão.”

O cristianismo, ao contrário, é uma fé racional, relacional e redentora. A resposta ao panteísmo está na verdade do Deus pessoal e gracioso revelado nas Escrituras.

Bibliografia utilizada e sugerida:

- ZUKERAN, Patrick. O que é o Panteísmo e qual é a sua falha essencial? In: HOLDEN, Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.

- SIRE, James W. The Universe Next Door: A Basic Worldview Catalog. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2009.  

- GEISLER, Norman L; WATKINS , William D; Worlds Apart: A Handbook on World Views. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1989. 

- SHUKLA, Shyam. The Upanishads: An Introduction. New Delhi: Oriental Books, 1992. 

- SCHUMAKER, Stephan; WOERNER, Gert (eds). The Rider Encyclopedia of Eastern Philosophy and Religion. Boston: Shambhala, 1994.  

- The Upanishads. Tradução de Swami Prabhavananda e Frederick Manchester. Nova York: Penguin Classics, 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário