Parte 3 – As Contradições do Panteísmo
Por Walson Sales
O panteísmo, presente nas grandes tradições religiosas orientais como o hinduísmo, o taoismo e o budismo mahayana, propõe que tudo é Deus, e Deus é tudo. Esta cosmovisão, embora revestida de uma linguagem poética e mística, entra em sérias contradições filosóficas, lógicas e existenciais. Neste artigo — com base na análise de Patrick Zukeran em Guia Geral da Apologética Cristã, editado por Joseph M. Holden — serão expostos os principais erros e falhas internas do panteísmo, com uma resposta apologética cristã robusta e racional. A filosofia cristã, enraizada na revelação divina e sustentada pela razão, se mostra superior em coerência, aplicabilidade prática e suporte evidencial.
1. Uma Cosmovisão Autodestrutiva
Zukeran evidencia um problema lógico profundo no cerne do panteísmo: sua natureza autodestrutiva. Se todo ser humano é, em essência, Deus, como pode esse ser, por definição eterno e imutável, esquecer sua verdadeira natureza e passar por mudanças?
Como aponta Norman Geisler:
> "Deus, por definição, é eterno e imutável. No entanto, os humanos se esquecem de que são divinos e devem tornar-se iluminados para o seu verdadeiro eu. Isso significa que eles sofrem mudanças. Se Deus é imutável, como o homem pode ser Deus se o homem progride e muda?" (Geisler, Worlds Apart)
O argumento é devastador. O panteísmo se anula logicamente. Uma entidade mutável não pode ser igual a uma entidade imutável. E se o homem é Deus, então Deus muda, e já não é Deus. Trata-se de uma falácia categorial: confundir dois tipos de seres ontologicamente distintos — o eterno e o temporal, o imutável e o mutável.
A fé cristã, ao contrário, sustenta que o ser humano é criatura, e Deus é Criador. A mudança pertence ao homem, enquanto Deus é eternamente o mesmo (Malaquias 3:6). Essa distinção é lógica, bíblica e filosoficamente coerente.
2. Deus É Incognoscível, Mas Conhecido?
Outro ponto de contradição severa é a inconsistência com que o panteísmo define Deus. De um lado, afirmam que Deus é indescritível e incognoscível. De outro, produzem volumosos tratados tentando descrever exatamente o que Deus é.
Ora, se Deus não pode ser conhecido, como pode ser definido? Essa contradição mina a credibilidade da cosmovisão. Patrick Zukeran aponta essa tensão, e Swami Vivekananda, uma das maiores autoridades do hinduísmo moderno, agrava ainda mais o problema:
> “Como o perfeito pode se tornar quase perfeito; como pode o puro, o absoluto, mudar até mesmo uma partícula microscópica de sua natureza? [...] Não sei como o ser perfeito, a alma, passou a se considerar imperfeita, unida e condicionada pela matéria.” (Vivekananda, citado em Murray, 2014)
Se o próprio líder espiritual confessa ignorância sobre um ponto central de sua doutrina, como pode a base dessa fé ser sustentada? O Cristianismo, em contraste, não apresenta um Deus confuso ou etéreo, mas um Deus que se revelou na história e de forma inteligível — por meio da criação, da consciência moral, das Escrituras e, suprema e pessoalmente, em Jesus Cristo.
3. O Panteísmo Falha na Vivência
O panteísmo afirma que o mundo e o eu individual são ilusões (maya). No entanto, nenhuma pessoa vive de forma coerente com esse conceito. Como afirma Zukeran:
> “Ainda não encontrei um panteísta que não pula fora do caminho de um veículo que se aproxima.”
Se o mundo é ilusão, por que temer a dor, a morte ou o sofrimento? Se o "eu" é ilusão, como explicar as relações interpessoais, a responsabilidade moral, os vínculos familiares?
A cosmovisão cristã é plenamente vivenciável. Reconhece a realidade objetiva do mundo, a distinção entre o eu e o outro, e a validade do sofrimento como parte da experiência humana num mundo caído, mas redimível.
4. O Problema do Mal
Zukeran afirma que o panteísmo é incapaz de lidar satisfatoriamente com o problema do mal. Se tudo é Deus, e Deus é tudo, então o mal também faz parte de Deus?
Geisler apresenta quatro possibilidades:
1. Se Deus é totalmente bom, o mal deve estar fora dEle — mas nada pode existir fora de Deus no panteísmo.
2. Se Deus é totalmente mau, o bem deve estar fora dEle — o mesmo problema.
3. Deus é bom e mau ao mesmo tempo — uma contradição lógica.
4. Bem e mal são ilusões — o que é refutado pela experiência humana.
Dizer que o mal não existe de fato é uma negação cruel da realidade. Como observa Zukeran, panteístas choram a morte de entes queridos, sentem dor, protestam contra injustiças. Isso revela que, intuitivamente, sabem que o mal é real.
A visão cristã é muito mais robusta: o mal é uma corrupção do bem, introduzida pela rebelião da criatura contra o Criador, mas Deus providenciou a redenção em Cristo. Essa é uma explicação lógica, moral e existencialmente satisfatória.
5. As Evidências Apontam para um Criador Pessoal
O panteísmo ensina que o universo é eterno. Contudo, a ciência moderna diz o oposto. O universo teve um início. A teoria da relatividade de Einstein, o desvio para o vermelho (Hubble), o eco da radiação de fundo e as leis da termodinâmica confirmam que o cosmos teve um começo.
Como diz William Lane Craig:
> “Tudo que começa a existir tem uma causa. O universo começou a existir. Logo, o universo tem uma causa.” (Craig, Em Guarda)
Essa causa precisa ser atemporal, imaterial, poderosa e pessoal — atributos do Deus bíblico, não de um “tudo é Deus” impessoal.
6. A Complexidade e o Design do Universo
O universo apresenta evidências de design. A informação contida no DNA, a complexidade do núcleo celular, as constantes físicas do cosmos — tudo aponta para uma Mente inteligente.
Como explica a Baker Encyclopedia of Christian Apologetics:
> “Design exige um projetista.”
O panteísmo não tem espaço para um ser pessoal e intencional. O Cristianismo, sim — e isso torna muito mais racional e coerente crer em um Criador que projetou tudo com propósito e sentido.
7. A Lei Moral Universal
Zukeran destaca que a existência de uma lei moral universal exige um Legislador moral. Não se pode derivar obrigação moral de uma força impessoal, como defende o panteísmo. A moralidade só faz sentido quando está ancorada na natureza de um ser pessoal, santo e justo.
O apóstolo Paulo afirma que a lei está escrita no coração humano (Romanos 2:14-15). Isso confirma o que já é evidente: há um senso moral inato que aponta para um Criador pessoal que se importa com o bem e o mal.
Conclusão
O panteísmo é contraditório, logicamente incoerente, existencialmente impraticável e filosoficamente insustentável. Ele falha em explicar a realidade do mal, a moralidade, a individualidade e as origens do universo. Apesar de sua aparência espiritual e harmônica, é uma cosmovisão que não resiste ao teste da razão e da experiência humana.
Como afirma Zukeran:
> “O Ocidente está arraigado em ideologias pós-modernas, como o relativismo da verdade, o relativismo moral e o pluralismo (todas essas visões têm algum elemento da verdade). Esses dogmas sintetizam bem com a cosmovisão do panteísmo, que fornece o componente espiritual para a visão da realidade. Podemos esperar que o panteísmo continue se espalhando no Ocidente, especialmente porque ativistas progressistas estão popularizando as questões ambientais como sua principal preocupação moral. Portanto, é imperativo que os cristãos entendam essa cosmovisão e se contraponham a ela com argumentos convincentes que levem as pessoas para a verdade de Cristo e seu glorioso evangelho.”
E, como adendo final, é necessário alertar:
Em todas as doutrinas religiosas orientais, como o Panteísmo, o ser humano só descobrirá se o que acreditava era verdade após a morte. Essa é uma aposta perigosa, pois, se estiver errado, já será tarde demais. Blaise Pascal, filósofo e matemático francês, propôs que, diante da incerteza, é mais sensato viver como se o Cristianismo fosse verdadeiro, pois, se for, o ganho é eterno; se não for, nada se perde. O Panteísmo exige uma fé cega no desconhecido, enquanto o Cristianismo oferece garantias históricas, morais e existenciais *antes* da morte. Apostar na doutrina errada pode não custar apenas esta vida — mas a eternidade.
Bibliografia utilizada e sugerida:
- ZUKERAN, Patrick. O que é o Panteísmo e qual é a sua falha essencial? In HOLDEN, Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.
- VIVEKANANDA, Swami. Apud. MURRAY, Abdu. Grand Central Question. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2014.
- GEISLER, Norman; ATKINS, William D. Worlds Apart. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1989.
- GEISLER, Norman. Baker Encyclopedia of Christian Apologetics. Grand Rapids, MI: Baker Academic, 1999.
- CRAIG, William Lane. Em Guarda. São Paulo: Vida Nova, 2013.
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