Parte 4 – A Autodestruição do Relativismo e a Necessidade de um Fundamento Moral Transcendente
Por Walson Sales
Tendo examinado a definição do relativismo moral (Parte 1), sua crítica lógica (Parte 2) e os erros específicos do relativismo individual (Parte 3), nesta Parte 4 concluiremos nossa análise abordando as implicações finais e devastadoras dessa cosmovisão. O relativismo, embora popularizado sob o manto da tolerância e da liberdade pessoal, revela-se uma filosofia autodestrutiva, tanto em nível racional quanto prático. Aqui, será demonstrado como essa visão colapsa sob seu próprio peso e como ela mina os pilares da moralidade, da justiça, dos direitos humanos e da própria dignidade humana.
1. O Relativismo é Autorefutável
A primeira grande fraqueza do relativismo moral é sua autocontradição lógica. Quando alguém afirma que "toda verdade moral é relativa", está fazendo uma *afirmação absoluta* sobre a moralidade. Em outras palavras, o relativista moral nega a existência de verdades absolutas ao fazer uma declaração que, em si, pretende ser absoluta. Isso é logicamente incoerente.
Francis J. Beckwith e Gregory Koukl, em sua obra Relativism: Feet Firmly Planted in Mid-Air, afirmam que o relativismo “acaba por serrar o próprio galho no qual está sentado”. Se todas as afirmações morais são relativas, então a própria proposição “todas as afirmações morais são relativas” também é apenas uma opinião relativa, sem qualquer autoridade objetiva — o que torna o relativismo inútil como sistema moral.
2. Relativismo e a Destruição da Justiça
O relativismo moral remove qualquer base sólida para a justiça. Sem um padrão objetivo de certo e errado, não há como condenar o genocídio, o estupro, a escravidão ou o racismo como intrinsecamente errados. Tais práticas passam a ser apenas "desagradáveis para alguns", mas não moralmente condenáveis em si mesmas.
Isso cria um vácuo jurídico e ético. Como legislar leis justas sem um padrão superior à vontade humana? Se a moralidade é subjetiva, o que impede uma maioria opressora de impor seus valores? O filósofo cristão William Lane Craig explica: “Se Deus não existe, então os direitos humanos não passam de convenções sociais inventadas, não havendo obrigação moral real de segui-los.” A justiça torna-se, então, um produto do consenso social, o que é perigosamente frágil.
3. Direitos Humanos Sem Fundamento?
A ideia moderna de direitos humanos pressupõe que todo ser humano possui dignidade intrínseca, independentemente de raça, sexo, status social ou opinião. Contudo, essa visão está fundamentada na cosmovisão judaico-cristã, que ensina que todos são criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27).
O relativismo moral, ao rejeitar um fundamento transcendente, mina os próprios direitos que afirma defender. Como argumentar contra a tortura, o tráfico humano ou o infanticídio se não há um padrão superior a ser invocado? A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU assume princípios objetivos que não podem ser justificados dentro de uma cosmovisão relativista.
4. O Caso de Jeffrey Dahmer: Quando “Tudo é Permitido”
O caso do assassino e canibal americano Jeffrey Dahmer ilustra tragicamente as consequências práticas do relativismo. Em seu julgamento, Dahmer declarou:
> “Se não existe Deus, então qual o sentido de tentar modificar o comportamento? Se não existe um Deus, então tudo está permitido.”
Essa afirmação ecoa a famosa ideia de Fiódor Dostoiévski, no clássico Os Irmãos Karamázov:
> “Se Deus não existe, então tudo é permitido."
Dahmer cometeu assassinatos hediondos, estuprou e devorou partes de suas vítimas. Ele afirmou que perdeu completamente o senso de certo e errado porque, em sua visão, o universo era moralmente indiferente. Aqui vemos como a negação de Deus e de um padrão moral objetivo pode abrir as portas para os piores horrores da humanidade.
5. O Relativismo e o Problema do Mal
Curiosamente, muitos relativistas utilizam o problema do mal como argumento contra Deus: “Como Deus pode existir, se há tanto mal no mundo?”. No entanto, como bem observa Sean McDowell, ao fazer tal afirmação o relativista apela para um padrão moral objetivo que ele, como relativista, nega existir. Isso é uma incoerência profunda. Se o mal é real, então há um bem real. Se o bem é real, então há um padrão moral superior — o que o relativismo nega. Assim, o relativismo não apenas falha como argumento, mas acaba confirmando, de forma não intencional, a existência de um padrão moral absoluto.
6. A Moralidade Aponta para Deus
Toda vez que alguém diz “isso é injusto!”, “isso está errado!”, “isso é desumano!”, está, ainda que implicitamente, afirmando que existe um padrão de justiça, de bondade e de humanidade que está sendo violado. Esse padrão precisa estar acima dos seres humanos, pois, do contrário, seria apenas preferência pessoal ou convenção social.
Como afirma C.S. Lewis em Cristianismo Puro e Simples:
> “Um homem não chama uma linha de torta a não ser que tenha alguma ideia do que é uma linha reta.”
A existência da “linha reta” — o bem objetivo — aponta para uma mente moral transcendente, ou seja, Deus.
Conclusão
O relativismo moral, especialmente em sua forma individual, é logicamente incoerente, psicologicamente impraticável, socialmente destrutivo e moralmente inaceitável. Ele tenta sustentar um universo moral flutuante, mas acaba naufragando na incoerência. Os próprios relativistas traem sua filosofia ao viver como se certas ações fossem realmente erradas e outras realmente boas.
Na ausência de um padrão moral objetivo e transcendente, tudo se torna permitido — e a história tem mostrado os horrores que resultam quando homens e sociedades decidem ser seus próprios deuses. A apologética cristã, ao expor a falência do relativismo e defender a existência de valores morais objetivos fundamentados no caráter de Deus, se revela não apenas intelectualmente satisfatória, mas também vital para a saúde moral e espiritual da sociedade.
Bibliografia utilizada e sugerida:
- MCDOWELL, Sean. O que é o relativismo moral e qual é sua falha essencial? _In_ HOLDEN , Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.
- BECKWITH, Francis J.; KOUKL, Gregory. Relativism: Feet Firmly Planted in Mid-Air. Grand Rapids, MI: Baker Books, 1998.
- CRAIG, William Lane. On Guard: Defending Your Faith with Reason and Precision. Colorado Springs, CO: David C. Cook, 2010.
- LEWIS, C. S. Cristianismo Puro e Simples. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2009.
- DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Irmãos Karamázov. São Paulo: Editora 34, 2001.
- Declaração Universal dos Direitos Humanos, Organização das Nações Unidas, 1948.
- Entrevistas e transcrições do julgamento de Jeffrey Dahmer (1992).