quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Série Cosmovisões: Definindo o Relativismo Moral e Demonstrando Suas Fraquezas

Parte 4 – A Autodestruição do Relativismo e a Necessidade de um Fundamento Moral Transcendente

Por Walson Sales

Tendo examinado a definição do relativismo moral (Parte 1), sua crítica lógica (Parte 2) e os erros específicos do relativismo individual (Parte 3), nesta Parte 4 concluiremos nossa análise abordando as implicações finais e devastadoras dessa cosmovisão. O relativismo, embora popularizado sob o manto da tolerância e da liberdade pessoal, revela-se uma filosofia autodestrutiva, tanto em nível racional quanto prático. Aqui, será demonstrado como essa visão colapsa sob seu próprio peso e como ela mina os pilares da moralidade, da justiça, dos direitos humanos e da própria dignidade humana.  

1. O Relativismo é Autorefutável

A primeira grande fraqueza do relativismo moral é sua autocontradição lógica. Quando alguém afirma que "toda verdade moral é relativa", está fazendo uma *afirmação absoluta* sobre a moralidade. Em outras palavras, o relativista moral nega a existência de verdades absolutas ao fazer uma declaração que, em si, pretende ser absoluta. Isso é logicamente incoerente.

Francis J. Beckwith e Gregory Koukl, em sua obra Relativism: Feet Firmly Planted in Mid-Air, afirmam que o relativismo “acaba por serrar o próprio galho no qual está sentado”. Se todas as afirmações morais são relativas, então a própria proposição “todas as afirmações morais são relativas” também é apenas uma opinião relativa, sem qualquer autoridade objetiva — o que torna o relativismo inútil como sistema moral.

2. Relativismo e a Destruição da Justiça

O relativismo moral remove qualquer base sólida para a justiça. Sem um padrão objetivo de certo e errado, não há como condenar o genocídio, o estupro, a escravidão ou o racismo como intrinsecamente errados. Tais práticas passam a ser apenas "desagradáveis para alguns", mas não moralmente condenáveis em si mesmas.

Isso cria um vácuo jurídico e ético. Como legislar leis justas sem um padrão superior à vontade humana? Se a moralidade é subjetiva, o que impede uma maioria opressora de impor seus valores? O filósofo cristão William Lane Craig explica: “Se Deus não existe, então os direitos humanos não passam de convenções sociais inventadas, não havendo obrigação moral real de segui-los.” A justiça torna-se, então, um produto do consenso social, o que é perigosamente frágil.

3. Direitos Humanos Sem Fundamento?

A ideia moderna de direitos humanos pressupõe que todo ser humano possui dignidade intrínseca, independentemente de raça, sexo, status social ou opinião. Contudo, essa visão está fundamentada na cosmovisão judaico-cristã, que ensina que todos são criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27).

O relativismo moral, ao rejeitar um fundamento transcendente, mina os próprios direitos que afirma defender. Como argumentar contra a tortura, o tráfico humano ou o infanticídio se não há um padrão superior a ser invocado? A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU assume princípios objetivos que não podem ser justificados dentro de uma cosmovisão relativista.

4. O Caso de Jeffrey Dahmer: Quando “Tudo é Permitido”

O caso do assassino e canibal americano Jeffrey Dahmer ilustra tragicamente as consequências práticas do relativismo. Em seu julgamento, Dahmer declarou:

> “Se não existe Deus, então qual o sentido de tentar modificar o comportamento? Se não existe um Deus, então tudo está permitido.”

Essa afirmação ecoa a famosa ideia de Fiódor Dostoiévski, no clássico Os Irmãos Karamázov:

> “Se Deus não existe, então tudo é permitido."

Dahmer cometeu assassinatos hediondos, estuprou e devorou partes de suas vítimas. Ele afirmou que perdeu completamente o senso de certo e errado porque, em sua visão, o universo era moralmente indiferente. Aqui vemos como a negação de Deus e de um padrão moral objetivo pode abrir as portas para os piores horrores da humanidade.

5. O Relativismo e o Problema do Mal

Curiosamente, muitos relativistas utilizam o problema do mal como argumento contra Deus: “Como Deus pode existir, se há tanto mal no mundo?”. No entanto, como bem observa Sean McDowell, ao fazer tal afirmação o relativista apela para um padrão moral objetivo que ele, como relativista, nega existir. Isso é uma incoerência profunda. Se o mal é real, então há um bem real. Se o bem é real, então há um padrão moral superior — o que o relativismo nega. Assim, o relativismo não apenas falha como argumento, mas acaba confirmando, de forma não intencional, a existência de um padrão moral absoluto.

6. A Moralidade Aponta para Deus

Toda vez que alguém diz “isso é injusto!”, “isso está errado!”, “isso é desumano!”, está, ainda que implicitamente, afirmando que existe um padrão de justiça, de bondade e de humanidade que está sendo violado. Esse padrão precisa estar acima dos seres humanos, pois, do contrário, seria apenas preferência pessoal ou convenção social.

Como afirma C.S. Lewis em Cristianismo Puro e Simples:

> “Um homem não chama uma linha de torta a não ser que tenha alguma ideia do que é uma linha reta.”

A existência da “linha reta” — o bem objetivo — aponta para uma mente moral transcendente, ou seja, Deus.

Conclusão

O relativismo moral, especialmente em sua forma individual, é logicamente incoerente, psicologicamente impraticável, socialmente destrutivo e moralmente inaceitável. Ele tenta sustentar um universo moral flutuante, mas acaba naufragando na incoerência. Os próprios relativistas traem sua filosofia ao viver como se certas ações fossem realmente erradas e outras realmente boas.

Na ausência de um padrão moral objetivo e transcendente, tudo se torna permitido — e a história tem mostrado os horrores que resultam quando homens e sociedades decidem ser seus próprios deuses. A apologética cristã, ao expor a falência do relativismo e defender a existência de valores morais objetivos fundamentados no caráter de Deus, se revela não apenas intelectualmente satisfatória, mas também vital para a saúde moral e espiritual da sociedade.

Bibliografia utilizada e sugerida:

- MCDOWELL, Sean. O que é o relativismo moral e qual é sua falha essencial? _In_ HOLDEN , Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.  

- BECKWITH, Francis J.; KOUKL, Gregory. Relativism: Feet Firmly Planted in Mid-Air. Grand Rapids, MI: Baker Books, 1998.

- CRAIG, William Lane. On Guard: Defending Your Faith with Reason and Precision. Colorado Springs, CO: David C. Cook, 2010.  

- LEWIS, C. S. Cristianismo Puro e Simples. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2009.  

- DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Irmãos Karamázov. São Paulo: Editora 34, 2001.  

- Declaração Universal dos Direitos Humanos, Organização das Nações Unidas, 1948.

- Entrevistas e transcrições do julgamento de Jeffrey Dahmer (1992).

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Série Cosmovisões: Definindo o Relativismo moral e demonstrando suas fraquezas

Parte 3 – Os erros principais do Relativismo individual

Por Walson Sales

O relativismo moral, em suas diferentes manifestações, é uma das cosmovisões mais populares entre os jovens e entre os círculos secularizados das sociedades ocidentais. Depois de abordarmos as fraquezas do relativismo moral de forma geral e do relativismo cultural especificamente nas partes anteriores desta série, voltamo-nos agora para uma das formas mais comuns, ainda que filosoficamente frágeis: o relativismo individual. Essa abordagem sustenta que o padrão do certo e do errado se origina exclusivamente nas preferências pessoais de cada indivíduo. Em outras palavras, o relativismo individual sustenta que algo é certo ou errado porque o sujeito crê assim, e não porque haja um padrão objetivo além dele mesmo.

Baseando-se no texto do professor Sean McDowell, no capítulo “O que é o relativismo moral e qual é sua falha essencial?”, constante na obra Guia Geral da Apologética Cristã (2023), editada por Joseph M. Holden, este artigo irá expor os três principais erros dessa posição, ampliar seus desdobramentos filosóficos e sociais, e demonstrar por que tal perspectiva é insustentável para a vida prática, para a justiça e para os direitos humanos.

1. A contradição entre o relativismo e a denúncia do mal

A primeira e mais clara inconsistência do relativismo individual é a sua incapacidade de lidar com o problema do mal. McDowell observa que os mesmos indivíduos que defendem o relativismo moral como uma forma de liberdade ética pessoal frequentemente levantam a objeção do mal como argumento contra a existência de Deus. Referem-se a horrores como o genocídio, o racismo, o estupro, a tortura e outras atrocidades como exemplos de que Deus não pode existir – afinal, como um Deus bom permitiria tanto sofrimento?

Contudo, essa objeção revela a autonegação do relativismo. Ao classificar tais ações como “más”, o indivíduo está, ainda que involuntariamente, apelando a um padrão moral objetivo – algo que transcende culturas, épocas ou vontades individuais. Em termos filosóficos, essa linha de raciocínio supõe que existem valores universais que todos deveriam reconhecer. E se o mal existe, então o bem deve existir, pois o mal é, como definiu Agostinho, uma privação do bem, e não uma entidade em si mesma.

O relativismo individual, portanto, entra em contradição: para fazer sua crítica, precisa lançar mão daquilo que nega. Ele não pode denunciar o mal absoluto sem recorrer a um bem absoluto que transcende o indivíduo. Tal incoerência demonstra a inviabilidade do relativismo como cosmovisão funcional.

2. A impossibilidade de progresso moral

Outro erro crítico do relativismo individual reside na ideia de melhoria moral. Sean McDowell aponta que, se não há um padrão externo ao indivíduo, então qualquer mudança em sua conduta é apenas uma variação – e não necessariamente um avanço. Se o que determina o certo e o errado é unicamente o que o sujeito crê, então um assassino que passa a respeitar a vida humana não se tornou “melhor”, apenas mudou sua perspectiva. Moralmente, uma ação não pode ser qualificada como superior à outra se não houver um critério acima do indivíduo que as compare.

A contradição torna-se evidente na própria linguagem dos relativistas. Muitos afirmam que “melhoraram como pessoa”, que “amadureceram”, que “superaram preconceitos” ou que agora “valorizam mais a dignidade humana”. Mas se o relativismo individual é verdadeiro, todas essas afirmações são vazias, porque “melhorar” pressupõe um padrão de referência superior ao estado anterior – algo que o relativismo nega.

Essa inconsistência revela que, em momentos cruciais, mesmo o relativista se vê compelido a apelar a noções de moralidade objetiva. Ele deseja ser elogiado por sua evolução moral, mas não pode justificá-la dentro de sua própria estrutura relativista.

3. A desintegração dos conceitos de louvor e culpa

O terceiro erro é tão destrutivo quanto os anteriores. McDowell afirma que, segundo o relativismo individual, não existe padrão moral fora do eu. Logo, todo julgamento moral perde o sentido. Isso significa que ninguém pode ser verdadeiramente culpado – nem verdadeiramente elogiado. Se cada um define sua própria moralidade, qualquer conduta é justificável desde que a pessoa a aceite como correta. Isso anula, de forma prática, os conceitos de responsabilidade, justiça e retidão.

Como apontado por diversos pensadores cristãos, entre eles Francis Schaeffer e Ravi Zacharias, uma sociedade que perde o senso de culpa perde também a noção de justiça. A justiça pressupõe padrões. A punição do mal exige que algo seja reconhecido como mal independentemente da vontade do transgressor.

Um exemplo trágico e real dessa lógica aparece no julgamento do serial killer americano Jeffrey Dahmer, que matou, estuprou e canibalizou diversas vítimas. Em seu depoimento, Dahmer declarou que não se sentia culpado por seus atos, pois havia sido educado para crer que o ser humano era apenas produto da evolução, sem alma, sem propósito e sem Deus. Ele afirmou: “Se Deus não existe, então por que me importar com o certo e o errado?”

Essa declaração chocante ecoa a famosa frase de Fiódor Dostoiévski, no romance Os Irmãos Karamázov: “Se Deus não existe, então tudo é permitido.” De fato, se não há uma fonte transcendente de moralidade, então o comportamento de Dahmer, por mais repulsivo que seja, não pode ser objetivamente condenado – o que é moralmente absurdo e psicologicamente insustentável.

4. Implicações destrutivas para a sociedade, os direitos humanos e a justiça

As consequências do relativismo individual não se restringem à teoria. Elas desintegram os fundamentos da convivência civilizada. Se cada indivíduo é a medida do certo e do errado, a sociedade torna-se uma arena de vontades conflitantes, sem um critério para mediar disputas. A justiça se reduz a um jogo de poder. O direito se torna um instrumento de manipulação. Os direitos humanos, cuja validade depende da dignidade intrínseca do ser humano (fundamentada na imago Dei), perdem seu valor, pois deixam de ser universais.

O teólogo Norman Geisler afirmou com razão que sem valores morais objetivos, não há base sólida para os direitos humanos. Se o relativismo individual prevalecer, os mais fortes sempre imporão suas verdades pessoais aos mais fracos – e ninguém poderá dizer, com autoridade moral, que isso é injusto.

Conclusão

Conforme demonstrado, o relativismo individual é uma cosmovisão que se destrói a si mesma. Ele exige coerência, mas só sobrevive por meio da incoerência. Ele afirma que não há padrões objetivos, mas precisa de tais padrões para condenar o mal, para elogiar o bem, para justificar mudanças morais e para exigir justiça.

Como argumenta Sean McDowell, mesmo os que afirmam ser relativistas não vivem como tal. Eles sabem, em seu coração, que algumas coisas são realmente más – e outras realmente boas. Essa consciência moral é a evidência de que fomos criados por um Deus moral, cuja lei está impressa em nossa consciência (Rm 2.15). O relativismo individual, quando levado às suas últimas consequências, conduz à barbárie, à injustiça e à negação do próprio valor humano.

A apologética cristã tem, portanto, a responsabilidade de desmascarar esse engano e de apresentar a superioridade da cosmovisão cristã, que afirma a existência de verdades morais universais, fundamentadas no caráter imutável de Deus.

Bibliografia utilizada e sugerida:

- MCDOWELL, Sean. O que é o Relativismo moral e qual é sua falha essencial? In: HOLDEN, Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.  

- DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Irmãos Karamázov. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2008. 

- SCHAEFFER, Francis A. O Deus que Intervém. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.  

- GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu. São Paulo: Vida, 2006.  

- ZACHARIAS, Ravi. Pode o Homem Viver sem Deus? São Paulo: Vida, 2003.  

- GREGORY, John. Dahmer’s Confession: I Did What I Did Because I Thought Evolution Is True. The Christian Post.

- CRAIG, William Lane. Apologética Contemporânea: A razão da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2021.

Série Cosmovisões: Definindo o Relativismo Moral e Demonstrando Suas Fraquezas

Parte 2 - Os Erros Principais do Relativismo Cultural

Por Walson Sales 

O relativismo cultural é uma das formas mais influentes do relativismo moral, e sua presença tem se tornado marcante no discurso ético e sociopolítico contemporâneo. Essa visão sustenta que não existem valores morais universais, mas que a moralidade é determinada unicamente pelas convenções culturais. Assim, o que é considerado certo ou errado depende dos códigos morais de uma sociedade específica. Em sua análise minuciosa, Sean McDowell (2023) desvela as principais falhas internas dessa perspectiva, revelando sua fragilidade lógica e suas implicações potencialmente destrutivas para os direitos humanos, a justiça e a coesão social.

I. A Incoerência Frente aos Reformadores Morais

A primeira e mais flagrante contradição do relativismo cultural é sua incapacidade de acolher os reformadores morais. Por definição, o reformador é aquele que questiona e critica as normas morais prevalecentes em sua própria cultura, propondo mudanças significativas. McDowell lembra que figuras como Dietrich Bonhoeffer, Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr. e Jesus Cristo foram reformadores morais notáveis que se insurgiram contra sistemas imorais institucionalizados em suas respectivas sociedades.

Contudo, se o relativismo cultural for verdadeiro, então esses reformadores devem ser considerados moralmente errados, pois agiram contra os códigos morais vigentes. Essa conclusão não apenas é contrária à intuição moral comum, como também afronta o senso histórico de justiça, que celebra tais figuras como heróis. É evidente que, se tais pessoas estiveram corretas em desafiar seus contextos, então deve haver um padrão moral superior ao consenso cultural. Caso contrário, a escravidão, o racismo, o nazismo e outras práticas abomináveis não poderiam ser condenadas com validade universal.

Essa incoerência revela uma falha essencial do relativismo cultural: ele mina a legitimidade da crítica à imoralidade cultural e, portanto, priva a sociedade de um dos principais instrumentos de progresso ético.

II. A Impossibilidade de Julgamento Moral Intercultural

A segunda falha é que o relativismo cultural impossibilita a crítica moral a outras culturas. Se a moral é relativa a cada cultura, então não há base objetiva para condenar práticas como a mutilação genital feminina, o genocídio, o terrorismo ou o racismo institucionalizado em outras culturas. O relativista é forçado a aceitar tais práticas como "certas" dentro dos contextos que as aprovam.

Contudo, isso contradiz profundamente a experiência moral humana. McDowell aponta que nossas intuições mais básicas indicam que certas ações são erradas em qualquer lugar, independentemente de normas culturais. A escravidão, por exemplo, é amplamente reconhecida como uma prática moralmente repugnante, mesmo quando legitimada por uma sociedade.

William Lane Craig, em sua obra Em Guarda, destaca que o relativismo, ao remover qualquer referência transcendente de moralidade, transforma os direitos humanos em mera convenção social, e não em verdades invioláveis. Isso torna qualquer tentativa de promover os direitos universais incoerente com a base relativista.

Se é errado criticar uma cultura opressora, como então justificar intervenções humanitárias, cortes internacionais de justiça e convenções dos direitos humanos? O relativismo cultural sabota esses conceitos ao deslegitimar o juízo moral universal.

III. A Contradição da Tolerância Universal

A terceira falha é a tentativa fátua de fazer da tolerância um princípio absoluto. McDowell relata o caso de um professor universitário que, após afirmar que todos os valores são relativos à cultura, sustentou que deveríamos ser tolerantes com as diferenças culturais.

No entanto, esse argumento é autocontraditório. Se a tolerância é apenas um valor relativo a uma cultura, então ninguém está obrigado a ser tolerante fora dessa cultura. Por outro lado, se devemos ser tolerantes universalmente, então há pelo menos um valor moral absoluto: a tolerância. Isso contradiz a base do relativismo moral e o torna logicamente inconsistente.

A verdadeira tolerância, como enfatiza o filósofo Paul Copan em True for You, But Not for Me, não é aceitar todas as opiniões como igualmente válidas, mas respeitar as pessoas enquanto se discorda das ideias. O relativismo distorce esse conceito, promovendo um nivelamento que desvaloriza a verdade e a razão.

IV. Implicações Destrutivas do Relativismo Cultural

As falhas acima descritas têm implicações graves para a sociedade. Se não há um referencial moral objetivo, então todos os valores se tornam negociáveis, inclusive os direitos humanos. A justiça perde sua fundamentação, pois não há padrão externo para julgar o certo e o errado.

A história do século XX demonstra de modo trágico o que acontece quando sistemas inteiros abraçam visões relativistas. O Holocausto, os expurgos soviéticos e os genocídios em Ruanda e no Camboja são exemplos de horrores justificados por "valores culturais" ou por projetos ideológicos internos, sem respeito por um código moral superior.

A sociedade que abraça o relativismo cultural torna-se vulnerável à tirania do consenso e à manipulação moral. Os mais fortes impõem seus valores, e os mais fracos não têm a quem apelar. Como enfatiza Francis Schaeffer em How Should We Then Live?, a decadência moral das civilizações começa quando elas perdem a noção de uma base moral objetiva.

Conclusão

A análise de Sean McDowell revela que o relativismo cultural é insustentável tanto lógica quanto moralmente. Ele falha em acomodar os reformadores morais, é incapaz de julgar interculturalmente práticas aberrantes e contradiz a si mesmo ao tentar promover a tolerância como um valor universal. Suas implicações práticas conduzem à erosão dos direitos humanos, ao colapso da justiça e ao empobrecimento do discurso moral.

A apologética cristã, ao defender a existência de um padrão moral transcendente e objetivo, não apenas fornece uma resposta lógica à crise relativista, como também aponta para a realidade de um Deus moral, cuja imagem foi impressa na consciência humana. É nessa base que se pode, de fato, criticar a injustiça, defender os direitos humanos e promover a verdadeira tolerância.

Bibliografia utilizada e sugerida:

- MCDOWELL, Sean. O que é o Relativismo moral e qual é sua falha essencial? _In_ HOLDEN , Joseph M. Guia Geral da Apologética Cristã. Porto Alegre, RS: Chamada, 2023.

- CRAIG, William Lane. Em Guarda: Defenda a Fé Cristã com Razão e Precisão. São Paulo: Vida Nova, 2014.

- COPAN, Paul. Is It Just Me? or Is Everything Stupid?. Grand Rapids, MI: Baker Books, 2001.

- COPAN, Paul. True for You, But Not for Me: Overcoming Objections to Christian Faith. Minneapolis, MN: Bethany House, 2009.

- SCHAEFFER, Francis A. How Should We Then Live?. Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell Company, 1976.

- LEWIS, C. S. A Abolição do Homem. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2011.