[A jornada de um erudito muçulmano para fora do Islã – parte 3]
Por Mark A. Gabriel
Em 1990 eu me graduei na Universidade Al-Azhar com um doutorado, mas mantando minhas dúvidas para mim mesmo. A Al-Azhar me contratou como palestrante e também me tornei um imam em uma mesquita pequena. O ano era 1992, quando a Al-Gama’a lançou uma nova ofensiva sanguinária contra o governo Egípcio.
Um dia na mesquita depois da oração, um dos alunos da escola secundária veio até mim e disse, “posso fazer uma pergunta?”
“Claro, meu irmão”, respondi.
“Alguém na minha escola me deu uma cópia da Constituição da Al-Jihad”, ele disse bem baixinho. “Essas pessoas estão falando a verdade?”. Ele me olhou honestamente.
Meu sangue ferveu dentro de mim quando ouvi estas palavras. Pensei, como essas pessoas ousam continuar a pregar aos alunos secundários! A Al-Jihad era o braço militar da Al-Gama’a al-Islamiyya, o grupo que meu amigo Kamal havia se juntado. Ayman al-Zawahiri e o Sheikh Abdul Rahman lideravam a Al-Gama’a nesse período. Esse grupo estava fazendo guerra contra o governo Egípcio, matando policiais, agentes secretos, Cristão, turistas, e até mesmo muçulmanos Egípcios. Mas por fora eu fiquei calmo e respondi, “Meu irmão, me traga esse livro. Gostaria de lê-lo.”.
Ele fez o que pedi e mais tarde me trouxe uma cópia desbotada de um documento escrito à mão. Era chamado de “Constituição” porque o ditado popular da época era, “O Alcorão é nossa constituição e o profeta é nosso líder”. Enquanto estavam presos em celas do Egito, três notáveis líderes da Al-Jihad escreveram estas páginas à mão: Abod Zoummar, Karam Zohdy e Assim Abdul Majed. As páginas foram contrabandeadas para fora da prisão pedaço por pedaço. Em torno de 1987, cópias estavam circulando por todo o Egito. Como o livro de Faraj, era ilegal ter uma cópia.
O garoto me disse, “por favor, me devolva quando terminar porque a pessoa que me deu me disse que preciso devolver a ele”.
Levei pra casa e o li em um dia. Vi rapidamente que o propósito do livro era justificar o assassinato de Sadat e clamar por uma continuação da guerra contra o governo “secular” do Egito. O uso poderoso da língua árabe, combinada com citações do Alcorão e de eruditos islâmicos era como jogar gasolina no fogo. Era um material perigoso!
Naquele tempo eu acreditava que todos os fundamentalistas estavam errados sobre a mensagem do islã. Como o Deus verdadeiro poderia exigir que seus seguidores matassem seus companheiros e concidadãos em nome da fé? Eu sempre tomei o lado pacífico do islã, o lado que que permite você se relacionar bem com outras pessoas, então, eu queria proteger esse jovem dessa filosofia. Eu o adverti “se afaste dessas pessoas. Não se relacione com eles”. Eu simplesmente poderia deixa-lo seguir o caminho que meu amigo Kamal tomou. Mas eu não queria vê-lo começar a matar outras pessoas em nome de Allah.
“E a cópia do livro?”, ele perguntou. Eu estava preocupado em devolvê-lo.
“Você não precisa devolver”, eu disse. Não havia outra maneira de evitar que esse livro caísse nas mãos de outro adolescente.
Quando preguei na mesquita na sexta, desafiei as pessoas a questionarem as táticas desses grupos radicais, “Sobre que Islã estes grupos estão falando, onde você mata meu irmão, meu vizinho, o policial apenas por estar trabalhando para alimentar seus filhos – porque você mata essas pessoas inocentes? Isso é Jihad?”
Mas minhas palavras não estavam sendo recebidas. Fui acusado de não ser compromissado com o islã e de apenas ensinar o islã que o governo queria que eu ensinasse.
Conflito interno
O que eles não perceberam foi que dentro eu estava questionando meu entendimento sobre o islã. Os argumentos na Constituição da Al-Jihad não eram baseados em mentiras – eram argumentos baseados nos fatos, no Alcorão, na Sunna (a Vida de Muhammad). Como um dos que haviam memorizado todo o Alcorão, bem como milhares de Hadiths, eu não podia lutar contra os fatos. Isso me levou a uma nova linha de questionamento – a questão da verdade.
E se os radicais islâmicos fossem os verdadeiros seguidores dos ensinos do islã? O que este, que é o verdadeiro Deus requereria do seu povo?
Enquanto lutava com estas questões, continuei minhas obrigações como Imam e também como professor na Universidade Al-Azhar, mas questionei muitas outras questões também. Cerca de dois meses depois de ler o manuscrito, fui chamado diante do comitê da Universidade para responder a questões de política da universidade. Eles queriam ver onde eu estava com minha fé. Finalmente eu disse a eles, “Afirmamos que o Alcorão veio diretamente de Allah, mas tenho dúvidas. Vejo que o Alcorão é produto dos pensamentos de um homem, não do Deus verdadeiro.”
Um professor saltou e começou a me amaldiçoar. Mas no fim da reunião eu estava demitido. Na manhã seguinte, a polícia secreta veio armada, me sequestrou da minha casa e me jogou numa prisão para interrogação (onde fui torturado). Eles suspeitavam que eu havia me convertido ao Cristianismo, e queriam descobrir quem me levou à apostasia.
Fonte:
GABRIEL, Mark. A. Journey into the mind of na Islamic Terrorist: Why they hate us and how we can change their minds. Lake Mary, Florida: Frontline, 2006, pp. 10-12
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